sábado, 31 de dezembro de 2011

Imortais

E como a vida pode ser tão frágil, tão delicada e tão rude ao mesmo tempo. A sutileza e egoísmo que encontramos no ser humano é desesperadamente assustador.  Nos queixamos de coisas tão absurdas e tão fúteis, enquanto a vida lá fora (e aqui dentro) anda tanto por um fio. Um fio assim, minúsculo, quebrável. Em um dia você está reclamando porque acabou seu achocolatado. No outro, não sabe como lidar com um câncer na família. Ou a perda de um filho que morre precocemente na mesa de uma bar, atingido por algum bêbado na véspera de natal.

Em um dia estamos rindo, estamos vivendo, saindo, bebendo. Como se tivéssemos a vida inteira na nossa frente. E no dia seguinte podemos estar por aí, caídos, mortos, sem vida. A vida é muitas vezes frágil, seca, rígida, morta. E nos transformamos em imortais, nos esquecendo que não estaremos aqui amanhã. E talvez não estejamos, e aí, bom, aí não adianta se lembrar e se arrepender que em toda a teoria, dizemos que aproveitaríamos todos os dias como se não houvesse amanhã. Porque a prática, sabemos bem que é diferente.

Não amamos quem deveríamos ter amado com toda a força que sempre desejamos. E nos esquecemos de nos declarar diariamente. E tivemos medo de nos arrepender. E medo de arriscar. Fomos egoístas, fomos rudes, secos, rígidos. Fomos como a vida nos ensinou a ser. Aprendemos direitinho a desejar ser imortal, e se tornar, na realidade, mais um na história de qualquer outra pessoa.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ao telefone...

“Porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme de todas essas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque a vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?”
(Para uma avenca partindo – C.F.A.)


O céu de hoje a noite tem estrelas. E elas brilham bonitas lá fora. Cada uma em um ponto como se não se tocassem, como se não se conhecessem, como se fossem parte de tintas pinceladas em uma tela negra, formando um desenho lindo. E talvez sejam exatamente isso. Nunca fui dessas místicas que se fazem de entendidas de estrelas e luas e marés e sol e vento e duendes e, e, e... também nunca fui uma cientista especialista nos astros e cometas e meteoros e galáxias e planetas e, e, e...

É que me deu uma vontade louca de sair por aí telefonando para quem eu achava que poderia me atender. Me desculpa se te acordei no meio da semana, sim, eu sei que você tem trabalho amanhã cedo, mas é que sinto falta do doce da sua voz. Não, eu não estou bêbada tentando começar uma conversa... sim, está tocando reggae no fundo, não me leve a mal, queria entrar no clima e para isso precisava de algo que me lembrasse as marés. Sou sim, uma louca com insônia que não consegue dormir sem antes ficar horas no telefone enquanto fumo um cigarro, procurando assuntos pra conversar com você. Estou dizendo muito e dizendo nada, enfim, te liguei mais para dizer quê... dizer assim, quê.

Ontem choveu e lembrei de você. Hoje fez sol e também lembrei de você. Nas conversas no bar me lembrei de você quando começaram a citar Freud para explicar alguns preconceitos que ficaram claros na mesa de bar depois de umas garrafas de cerveja. Mas me lembrei de você também... porque me lembrei mesmo? Bom, o que importa é que lembrei de você, e como você ficaria tão lindinho rindo ao meu lado, sentado na mesa de bar, dizendo ao pé do meu ouvido que meus amigos são uns otários e porque eu teria te arrastado pra lá. Ah sim, me lembrei, é verdade, me lembrei de você porque você não diria isso desses meus amigos. Se alguém citou Freud na mesa seria uma prato cheio pra você, até você começar a perguntar a cada um deles como eles se sentiam em relação ao que eles estavam afirmando, fazendo-os refletirem sobre eles mesmos do nada. Ou eles dariam risada, ou responderiam sua pergunta, ou te achariam chato demais e começariam a conversar sobre novela. Não, eu não te acho chato. É só que ás vezes você não me deixa falar. O quê? Ah, eu só estou aqui falando, falando, falando porque eu liguei e você está com sono, nem deve ter prestado atenção no que disse, prestou? Não, parei de falar das estrelas já faz um tempo.

Mas falando das estrelas, elas brilham lá fora, no céu. E acho que isso era o que eu tinha pressa em te dizer. Te ligar e dizer que as estrelas brilham bonito lá fora, em conjunto. Um estrela lá, sozinha, faria um céu bonito, sem dúvidas, mas várias, juntas e separadas ao mesmo tempo, transformam o céu em algo indescritível. Entende? Acho que essa era a urgência do quê eu tinha pra falar, te acordando assim, de madrugada. É que as vezes você se parece com uma dessas estrelas... sim, eu voltei a falar das estrelas. Não!!! Não sou dessas místicas chatas que entendem tudo de signos, é que hoje elas brilharam e lembrei de você. Sim, já terminei  meu cigarro. Boa noite. Durma bem.

me esqueceu;


“Você me esqueceu”

E a metade da garrafa vazia não me fizeram te esquecer. Os dedos trêmulos de frio da madrugada poderiam me impedir de digitar tais palavras tão absurdas, mas não me contive. As pernas tremem, não tanto quanto a mão ao tentar segurar um cigarro entre dedos míudos de unhas rosa fosco. E não, é, não são para você essas palavras. É para ele. Ele ali, que me esqueceu. Me esqueceu em uma noite de terça-feira. Ele ali que deve estar envolto entre fumaças e cevadas. Me esqueceu como as pétalas caídas de uma noite de outono, de roseiras antes vivas que enchiam a cidade de cores. Mas tudo tornou-se cinzas. Cinzas de um passado enterrado, que sobrevive nas memórias feito fantasma vagando em casa mal assombrada. E de repente senti meu coração como uma dessas casas.

Eu disse um dia que não conseguia escrever quando estava feliz. E geralmente, quando assim estou, me ponho bem longe do computador. Me ponho bem longe das pessoas. Me ponho fora do meu próprio alcance. Acho que não me reconheço assim, feliz.
Me esqueceu. E o esquecimento é talvez um dos piores sentimentos que existem no mundo. Você saber que não faz diferença alguma para alguém, é um dos piores sentimentos de vazio que o mundo moderno e egoísta pode proporcionar. Sentimento hoje, vem embalado. Enlatados entregues em casa. Que usamos, jogamos fora e reciclamos depois com outros sentimentos vindo de outras pessoas. “você me esqueceu”. E decidi tentar esquecer essas palavras que sobrevoavam minha cabeça, enchendo a cara sozinha na varanda de casa. Passando frio como se estivesse com febre em noites quentes de verão. Decidi tentar esquecer com uma garrafa de vodka, porque pelo que me parece, era a melhor escolha da noite. Conhaque nunca mais. Ou pelo menos, não por enquanto. Conhaque esquenta, e não te faz perder a memória de atitudes fracas, decididas em noites vulneráveis.

E estive ali, sempre estive ali, naquele lugar de sempre, onde usualmente poderiam me encontrar. Sempre estive ali, disposta a ajudar. Mas nunca tive ninguém. Ajuda de mãe não vale. Mãe sempre sabe o que se passa na nossa cabeça. Não seria dele que teria essa ajuda, não depois de todos esses meses. Um dia ele me mandou uma mensagem dizendo que sentia minha falta, que tinha saudades. Mas não, não irei chorar. Não agora. Tomo mais um gole de vodka, mas não irei chorar. Talvez ele esteja vivo, e ás vezes penso que talvez essa não seja a melhor esperança que eu poderia tê-la. Mas é que ser esquecida por alguém que está vivo dói mais que a perda de alguém por morte natural, ou causada. A pessoa escolhe te esquecer. E ser essa escolha, não é uma das melhores sensações que podemos ter na vida. Nós, que sempre fazemos a diferença para alguém até um determinado ponto da vida dela, da noite para o dia, somos esquecidos. Antes eu tivesse sido trocada. Mas não, ser esquecida por conta da vida. Ser trocada por conta da escolha da pessoa, em não te fazer mais ser parte da rotina dela. Tomo mais um gole, dou mais um trago. E tento esquecer. Coloco os pés no chão. Estão galados, os pés.

Passa um carro na rua e eu espero que seja ele. A mesma cor. Talvez seja fruto da terceira garrafa de vodka da noite. Não é. Ele nunca escutaria uma música dessas, a essa altura da noite. Ou escutaria? Acendo mais um cigarro refletindo se eu o reconheço ainda. Acho que não. Nossos últimos encontros não foram dos melhores. O brilho nos olhos já não era mais o mesmo. O rosado de sua pele já não era o mesmo. Ele odeio cigarro, e com esse pensamento, trago o cigarro mais forte, com sua fumaça entrando nos meus olhos e fazendo-os arder. Não irei chorar, prometi que não iria chorar. Mas me esqueceu. Como pode um amigo assim, de tantos anos, me esquecer? Tantas vitórias conquistadas juntas, tantas lágrimas, derramadas juntas. Como pode? Eu não entendo... queria entender. Mas eu, somente eu posso me ajudar. E talvez eu não queira essa ajuda, não, eu não quero minha ajuda. E dou mais um trago em meu cigarro, e um último gole em minha vodka. É com limão, não me fará mal algum. Minto a mim mesma me tornando bêbada por mais uma noite. Uma noite apenas, em que deitarei no travesseiro, e não serei obrigada pelo meu cérebro e coração a sonhar com ele mais uma noite. Me sentir feliz uma noite, sabendo que o esqueci, 
apenas por uma noite.

céu de estrelas



Mordeu umas três bolachas no caminho da mesa até o sofá com colcha bordada com o rosto do Charlie Chaplin. A pausa do livro do Caio a fazia pensar sobre o que queria ainda da vida. “ele não deveria ter vindo aqui”. Pensou nisso por dias, enquanto a pele quente e seca torrava no sol de verão da cidade de São Paulo.
Ela pensou que talvez não tivesse mais sentimento dentro de um coração duro e entristecido. “olha a bolacha aberta aqui” sua mãe dizia ao passar pela sala. – estou comendo! Tentava justificar a todo instante sua falta de atenção às coisas da casa. O ventilador no teto fazia aquela sombra típica de filmes de ação, quando o policial interroga o suspeito do crime, do assassinato. Se sentia assim, dentro de um sonho. Sendo interrogada como suspeita de um crime em sua própria casa. Um crime contra ela mesma, um crime contra os seus próprios sentimentos.
E tentou a todo instante não deixar cair uma lágrima que fosse quando terminou de assistir aquela comédia romântica com a família. Sabia que se não estivesse de férias, teria ido para o seu quarto, e ao deitar no travesseiro, teria derramado todas as lágrimas contidas em seu peito. Sabia que seriam lágrimas de amores perdidos no passado, de amores impossíveis, de amores que teve que se desfazer, amores que foi egoísta, que foi impura, que foi culpada.
Mas ela não estava em casa. Estava de férias. E como algo tão contraditório em si mesma, ela sabia que esse era o momento o qual ela esperou o ano inteiro, que estaria feliz consigo mesma sozinha, se descobrindo. Mas odiava ficar sozinha. Odiava ter que segurar suas lágrimas porque não poderia deitar a cabeça no travesseiro e chorar sem que ninguém a ouvisse. Por um instante teve o impulso de sair correndo, pegar sua vodka e seu cigarro e correr, para qualquer lugar noite afora. Mas se continha. E a cada contenção, se matava mais um pouco.
Queria chorar e não era por causa da comédia romântica, a qual, finalmente, ela estava aprendendo a desgostar. Queria chorar porque achava que não havia mais sentimentos dentro dela. Queria chorar porque não queria mais saber o que era o amor. E não sabendo o que era amar, não poderia mais doer. Queria acender o seu cigarro. E chorar por não sentir a culpa pelo que fez. Porque ele foi até ali?
Entender os motivos que o levaram a viajar durante horas só para vê-la, só para dizer que amava, e ela sem ter o que dizer. Amar, o que seria amar? Ela queria aprender também. E não queria estar com alguém por dó ou com pena, ou por costume. Queria amar como aqueles personagens no cinema amam. Queria amar como os personagens do livro amam e desamam com tanta atenção, cuidado e entrega. Vivenciou uma prova de amor, e não soube o que fazer. Vivenciou uma loucura de amor, e não soube o que responder. Vivenciou alguém arriscando tudo por ela, e não soube ser. Não sou ser ela. Não soube ser amor. Não soube ser sentimento. Não soube ser vida. Soube ser nada. Vazia. Triste com sua própria situação. Teve medo e não soube arriscar, não soube doer em si mesma.
E se levantou, novamente. Para abrir sua vodka. Acender seu cigarro e olhar as estrelas no céus. Mas quais? O céu já não as possuía mais. O céu já não correspondia aos desejos dos amantes. Mas quais? Amantes falsos de ilusões perdidas em noites de verão. Indivíduos solitários, que a cada trago  de cigarro espera uma resposta sem nunca ter feito uma pergunta. Covardes. Sim, “covardes” ela pensou. “Somos todos tão covardes”.

Não



Acordou tentando lembrar que tudo aquilo poderia ter sido um sonho. Não era.
Sua mãe era tão parecida com ela que era impossível as duas não entrarem em conflito diariamente. Enquanto tentava em vão escrever doces palavras em paginas brancas do seu notebook, seu gato se revirava ao seu lado, em movimentos preguiçosos de quem não tem mais nada pra fazer além de dormir e doar carinhos. Suas pequenas patas gordas pousavam em sua coxa, como se implorassem: olha, me dê carinho, eu estou aqui.
Nesse mesmo tempo, sua mãe reclamava na cozinha, da pia suja deixada pelas taças de vinho da noite anterior. Eram tão parecidas as duas que até a unha do dedo mindinho doía quando andavam pelas areias da praia. A unha dela, e a da garota.
Parou por um momento para ler uma mensagem no celular, e fez carinho no seu gato, que se revirou mais, pedindo mais atenção. A mensagem não era a que ela esperava. Lembrou que não tinha sido um sonho.
Seu pai gritou algo da sala, perguntando se alguém queria ir no supermercado. E ela foi.
Precisava sair um pouco daquela casa, e nada melhor que uma volta de carro com o seu pai para esfriar um pouco os ânimos. Seu pai não era tão parecido com ela, mas ela sabia que mesmo sendo a garotinha das bonecas rosas dele, ela poderia conversar sobre furadeiras, cadeados e luzes compradas em alguma loja de construção da cidade, sem que ele a julgasse. E naquele momento, era o que ela precisava.
Não estava disposta a refletir sobre a existência de dores no mundo moderno, ou a questão da estética em filmes nazistas dos anos 40. Estava disposta a dar risada com o seu pai, sobre as roupas estranhas das pessoas no supermercado. Sem que ninguém perguntasse o que tinha acontecido na noite anterior. Sem que ninguém perguntasse o motivo dela ter ido dormir cedo, ou ter se fechado em seu quarto para digitar textos que nunca seriam publicados.
Depois de uma tarde divertida e leve com o seu pai, embaixo de chuva, ela voltou pra casa, e deu um abraço em sua mãe. Que claro, não entendeu nada e começou a achar que ela tivesse quebrado alguma das taças de vinho, usadas na noite anterior. Pegou seu notebook e colocou no colo, de novo, e terminou o texto que estava há horas tentando terminar. E terminou com a leveza de uma pena, que era como estava se sentindo dentro do seu coração. Precisava daquele vazio, precisava daquela amargura de uma noite, precisava de um conflito, uma violência consigo mesma. E precisava daquela solidão noturna, envolta de vinhos e cervejas, precisava de um “não”. Um “não” que nunca tinha escutado no mesmo tom, que a fizera acordar, como acordou de manhã.
Passou as mãos no pêlo do seu gato, que ainda estava lá, esperando por ela. Colocou uma música do Marcelo Camelo em seus fones de ouvido, e disse a si mesma, a mesma frase que disse à sua mãe quando essa lhe perguntou o que ela queria, o que ela tinha aprontado.
“Tá tudo bem, agora está tudo bem. Nada está no lugar, mas não há nada que possa resolver. Nada”. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

verão


Hoje eu consegui enxergar além dos prédios da cidade. Consegui enxergar os morros e os raios de sol tocando as árvores. Hoje consegui entender um fio dos meus sentimentos e em como somos tão vulneráveis.
Semana passada, absolutamente uma semana atrás, eu não conseguia dormir de tanto chorar. Chorava como a chuva que caia na cidade, todas as tardes de verão, caíam violentamente, com fúria, querendo varrer das ruas da cidade tudo que pudesse existir, como se as coisas fossem impuras.
As lágrimas escorriam no rosto como a chuva que desce pela janela dos carros. E inutilmente tentei secá-las, segurá-las, esquece-las.
E poderia dizer que, há uma semana atrás, estava eu, como a chuva que lava as almas e corações dos amantes de verão. E como toda chuva, o sol aparece depois, para secar qualquer resquício de dor.
Mas se o que eu esperava era um sol. Este apareceu. Esquentou e secou qualquer gota de chuva que alagava minha alma. Um sol que esquentava na pele. Mas queimava. Que sem cuidado, ardia, machucava. Dói. Um sol que surgia durante os meus dias, e dava lugar a noite com a sua chuva.
Mas é necessário lembrar e ter os pés no chão. O mesmo sol que me aqueceu é o que queimou com toda a sua força e egoísmo. Assim, desde a semana passada, passei meus dias, procurando na chuva, lavar meu rancor e desgosto do passado, e no sol, aquecendo as feridas da alma. Mas nenhum deles trouxe a cura das aflições de noites mal dormidas.
Um simples e velho ventilador no quarto acaba me trazendo mais paz do que qualquer evento da natureza. Uma máquina, um projeto que se repete de um lado ao outro.  E hoje, uma semana depois, absolutamente uma semana depois me sinto assim, como um objeto que se move de um lado ao outro, uma máquina de repetições de movimentos, e que não percebe que traz paz e tranquilidade para os outros e nunca a si mesma. E como um animal perdido em uma noite na cidade, percebo que estou fadada a isso, a me movimentar de um lado ao outro. De vez em quando, lavando as lágrimas na chuva, entorpecendo a alma de fumaça, sono, conhaque e suor. Acordando em dias de sol, queimando a pele, ardendo no calor de meus próprios desejos. E quase sempre, me esquecendo que nada cura, nada resolve, nada muda.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

sem graça. nem isso.

De repente tudo fica tão chato, tão sem graça, sem cor. Mas acontece que algumas coisas perdem a graça, o caminho, o brilho.
Fica tudo sério. As pessoas se tornam tão sérias. As músicas se tornam repetitivas.
Os sorrisos não são tão bonitos quanto o seu, e o coração já não bate mais com um simples “oi”. De repente tudo fica tão sem graça. Sem cor. Chato. Sem emoção. Sem nada. Vazio. Tudo assim, fica vazio. As mensagens que chegam não são suas, e perde-se todo o interesse no assunto. As pessoas se tornam robôs repetindo os passos. De repente, só de repente. Eu olho no vazio, pra frente e já não enxergo nada, não procuro nada. Fica tudo tão estranho... frio.

sábado, 17 de dezembro de 2011

férias

Podemos passar o verão inteiro na cama. E podemos cruzar os dedos e desejar um beijo em plena noite de ano-novo. Lavar os pés no mar, fazer pedidos jogar conchas no mar. Ou apenas esquecer qual de nós dois está passando as férias no outro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

vermelho

É que me dói tanto que chega a sufocar. Sufoco assim, apertado, como as letras aqui digitadas em um fundo vermelho.
Ah, o vermelho. A cor dos sapatos vermelhos lido em algum conto do Caio, o Fernando. O vermelho. Vermelho que pinto nas unhas, vermelho das suas bochechas, vermelho da minha lingerie. Ah, e como me sufoca esse tormento, essas letras, esse vermelho, meu sentimento.
Sufoca e dói. E meus dedos compridos não seguram bem a caneta enquanto pratico o exercício diário de escrever o que sinto, naquela caderneta verde, velha, mofada. Fazem quantos anos?
Eu me peguei esses dias recitando sozinha pequenos versos que me remetiam a você. Que talvez eu pensasse que poderíamos ter tido tudo, e sermos nada, ou o contrário, termos nada e ter sido tudo. 
Mas você vive sua vida a cada segundo, provando pra todo mundo que o jeito e a forma de enxergar as coisas é o certo. E quantas vezes você me xingou quando eu fazia greve, e hoje, não sai de casa sem gritar uma frase de ordem. Ordem de greve, ordem de contraordem, ordem de revolução.
A revolução vermelha e pequeno burguesa que você tanto investe. Que você tanto vive. Isso é tudo pra você. Será tudo até quando, até você entender que sua vida não está presa nesse mundo pequeno social que você vive na classe média burguesa intelectual da maior universidade da américa latina. Mas essa é a forma que você tenta comprovar a todos, de que sua vida, é a melhor.
Mas querido, não, desquerido! Ninguém te entende. Eu posso dizer mil vezes que nunca o entenderei, e mesmo assim, acho que te entendo tão bem quanto as loiras, morenas, ruivas e todas que você procura (em vão) e não encontra. Elas não entendem, e os poucos que chegam perto de você pra entender, você expulsa. Expulsa da vida, dos sentimentos, do carinho, da atenção, de tudo. Egoísta. Poderia ter tido tudo, ter tido nada, mas escolheu ser normal. Covarde. Tanto quanto os que hoje você grita e xinga nas palavras de ordem.
E eu me peguei recitando que talvez pudesse ser tudo diferente, talvez pudesse ser apenas um sonho, para que eu pudesse um dia me desvencilhar de você. Para que eu pudesse um dia, de vez, matar essa saudade. Matar essa lembrança. Matar essa tristeza. Matar esse sentimento. Matar essa merda de destino que insiste em te colocar no meu caminho. No meio do caminho, voltando pra casa, você, me sorrindo, conversando, como se nada tivesse acontecido.
É, talvez o conhaque tenha resultado nisso. Nada aconteceu. Nada tenha sido eu. E ninguém irá entender o que eu quero dizer nessas palavras brancas em um fundo vermelho. Vermelho são os olhos enfim, que sufocam, doem, e não me deixam esquecer.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

13.12.11

Os olhos não se atentam mais aos detalhes de antes.
O pulmão já não suporta mais o peso dos passos e a distância dos morros.
Mas o cérebro ainda é o mesmo. As memórias ainda são as mesmas.
Só minha pele se tornou envelhecida por cada mês em que você decidiu, dia após dia, 
que me esquecia nos detalhes das cores que antes pintavam sua rotina.

domingo, 30 de outubro de 2011

let it be; let it be...



Eis que o mundo todo é um lixo. Um grande e fedorento lixo. pensar em suicídio hoje em dia é visto como algo de alguém que seja "emo-tivo" demais. Não, não se preocupe baby, que isso nunca me passou pela cabeça. Não sou tão fácil de me render assim.
Dessa minha forma estranha de encarar as injustiças do mundo, um cigarro aqui e um conhaque ali vão me segurando. Sei que tenho meus momentos finitos de alegrias e memórias infinitas, que me fazem caminhar cada passo para frente. Mesmo que a frente não seja o caminho certo, ou que para trás não seja apenas um desvio para encontrar um caminho melhor. Mas vou colocando um pé na frente do outro, ás vezes retornando esses passos, ás vezes caminhando sem ao menos enxergar a estrada.
Sei que desses momentos finitos, um abraço no meu irmão, debaixo de chuva  e alegria, gritando por um gol do corinthians, ganhando de virada um jogo, pode me empurrar para a frente, continuar um caminho que, sabe-se-lá pra onde me levará, mas sei que aqui não posso continuar.
Então baby, não se engane achando que estou errada. Não baby, tampouco ando certa da cabeça. Mas ultimamente, cada momento finito de prazer que eu tenho, me faz enxergar que há coisas que não me fazem nem um pouco bem. E se estou assim, errada da cabeça, é porque por muito tempo me deixei tais coisas me atingirem.
É, meu signo é virgem e dane-se se você acredita nisso ou não. Mas saiba que é o signo mais chato, crítico e perfeccionista do horóscopo. Dessa forma, dos cincos dedos que possuo em cada mão, se uma unha não está bem feita por mim, eu irei recomeçar de novo e de novo todo o processo de lixá-las e pintá-las e etc etc. Até ficarem o mais próximo do que um dia imaginei vê-las. Mas não sou tão louca assim, eu só acredito que cada um deva ter aquilo que merece, aquilo que atrai. E ultimamente, algumas pessoas não me atraem. Não se preocupe baby, não tem nada com você, ou com o seu cachorro, sua mãe ou o papagaio do vizinho. Faz sentido no meu mundo, na minha bolha que estou, por fim, estourando. Você pode chamar isso de imaturidade, mas eu, na minha cabeça toda errada, chamo de pequenos passos, envolvidos por momentos finitos de felicidade, que me fazem enxergar uma estrada escura, mas que certamente me levará a um lugar que não tenha certos sentimentos e certas pessoas. Na verdade, se sumissem do mapa todos, não faria diferença. Os agregados também viu? Falsidade, falta de humildade e hipocrisia, isso eu deixo pro mundo cor-de-rosa na bolha de cada um, na estrada de cada ser.

domingo, 23 de outubro de 2011

sexyback

"Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe;
mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você..."




Então fechei meu livro e decidi tentar dormir. Não consegui, é claro, com todo aquele tremor passando pelo meu corpo. Me revirava de um lado para o outro, imaginando sua pele quente encostando em minha boca, suas mãos acariciando meu corpo quente e queimando nessa noite fria.
Fechava os olhos e imaginávamos os dois, deitados no chão de alguma varanda, olhando o céu naquelas noites de verão na praia. E me lembrei então dos beijos que me roubou por noites intermináveis de amor puro. Me lembrei do beijo na nuca, da respiração alta em meus ouvidos e de suas mãos entrelaçadas com as minhas, procurando algo pra se apoiar.
O meu corpo pesando sobre o seu, procurando uma fuga em nós mesmos. Procurei sua boca, sua língua, seu corpo, sua alma. E procurei infinitamente a exaustão e os delírios me avisando sobre a chegada do paraíso. Procurei sua pele quente e morena para eu cravar minhas unhas, enquanto procurava o travesseiro e mordia o lábio. Procurei seu ombro pra morder, o caminho que minhas mãos fazem nas suas costas. Eu tentei dormir imaginando as suas pernas fortes me prendendo na parede, me impedindo de sair enquanto olhava pra mim a ponto de devorar meus sonhos mais internos...
Mas então, decidi dormir, e fui deixando todos os meus suspiros guardados pra quando você retornasse pro nosso colchão...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tentei

"Pelo menos eu tentei!"
É claro, é isso que repito todos os dias a mim mesma cada vez que olho no espelho ou vejo sua fotografia em algum canto do meu apartamento. Pelo menos eu tentei.
E não ligo se irá correr atrás de outra garota toda vez que me virar as costas depois de um beijo. Não ligo se ficará anos sem conversar comigo porque foi um estúpido, idiota e covarde quando achou que eu não ligava para você. Eu não ligo. Não ligo pra essas coisas, eu ligo pra você.
E pelo menos eu tentei. Mesmo que isso custe o que você me disse aquela noite em que me esqueceu.
Mesmo que eu saiba com todas as letras que você nunca me amou e nunca irá amar.
Mas pelo menos eu tentei. Tentei de todas as formas. Tentei esconder esse sentimento que me corroía por dentro. Tentei te trocar por outros olhos. Tentei te fazer ciúmes e tentei não te-los.
Mas pelo menos eu tentei! Você entende afinal?
Entende como foi dura toda essa tentativa, como foi duro decidir te deixar nas mãos de alguma amiga minha, e como foi duro olhar para sua cara de decepção cada vez que me via com alguém, e depois, sua cara de tonto e covarde cada vez que negava o que sentia por mim. 
Pelo menos eu tentei te esquecer. E repito cada dia mais que consegui. Mas é tão difícil assumir isso a mim mesma toda vez que vejo seu status, toda vez que procuro sobre sua vida e sobre você. Difícil esquecer toda vez que pego um ônibus ou entro em algum bar.
Pelo menos eu tentei entrando em todas as casas noturnas da cidade. Tentei com todas as bebidas. Sendo a mais moderna, dormindo com todos os caras. Eu tentei te esquecer com seus amigos, com suas amigas, com todos juntos. Com seus inimigos, com os meus amigos, com desconhecidos, com tequila, com vodka, com rum e principalmente com conhaque.
Mas sabe? Eu te digo que pelo menos eu tentei.
Tentei te conquistar, tentei ser a amiga, tentei te ajudar. Te escutei por horas a fio, virei noites te carregando e te dei conselhos sobre suas brigas em família. Te apresentei garotas que viraram suas amigas. Te apresentei caras que se tornaram companheiros de baladas. Eu tentei indo te visitar na sua casa. Te ligando em tardes de domingo para saber se estava vivo. Tentei te ajudar te indicando livros socialistas e dando dicas de músicas que você desconhecia.
Mas eu tentei. De todas as formas eu tentei. Foram as mais duras e as mais inesquecíveis.
Tentei te trazer pra perto de mim, achar uma brecha que me ligasse ao seu coração. E tentei mais que tudo te tirar do meu. 
Errei? Talvez sim, talvez não. Mas pelo menos eu tentei, e gostaria que você, de alguma forma, tentasse também...
fosse pra me esquecer, me expulsar, me ter...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Hoje é dia de gritar, bebê!!



Acostumado com sucrilhos no prato né muleque
Diz não, você chora! Diz não, você chora! Diz não, você berra! Bate pé.
Dizem sim, você manda quem te ajuda pra pqp.
E sai correndo torrar nas ruas tudo que ganhou: dinheiro, lembranças, brinquedos, amor, amizade, raciocínio.

Depois que você torra tudo, volta com o rabinho por entre as pernas dizendo que é apenas mais um ser humano que erra.
Erra sim. Erra uma. Erra duas. Erra três vezes. Você erra. E diz estar arrependido e querer aprender.
Aí todo mundo perdoa, você volta pro quente da sua cama, pro seu sucrilhos no prato, pros seus instrumentos e pros seus amigos que sempre te perdoam.

Diz não, você chora. Diz não, você faz um samba. Diz não, você bate o pé. Diz não, você manda tomar no cu.
E sai correndo gastando tudo que a vida te tirou e te deu novamente.
Até quando?
Até você não ter mais quem te dizer sim e não. Ou melhor, até você não se lembrar mais quem é quem.
Ou melhor. Até quando você decidir, afinal, o sucrilhos é seu!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cap. IX

Olha que bacana! Superei você! Ou eu acho, em partes. Não, não superei em termos competitivos como você sempre se mostrou. Mas lhe superei dentro de mim. Lhe superei segura, altiva, enobrecida, grande. Completa. Não se sinta feliz não... apenas se sinta aliviado de que talvez essa seja a última carta para você. vai saber né? Talvez eu lhe escreva aleatoriamente, quando lembrar de algum momento peculiar em que te envolveu. E vamos torcer para que não seja um momento em que eu lembre das suas escrotices como pessoa. Sim, escrotice. 
A bonitinha aqui não está mais escrevendo coisas bonitinhas para o bonitinho aí não. Aliás, bonitinho não é algo mais que vejo em você. Digamos que passei das fases de redenção, perdão, culpa, raiva, putaria e etc etc, e finalmente abri os olhos para o que você me era, para o que todos sempre me disseram de você. 
Por um tempo me perguntei se você era aquilo lá, que eu enxergava, ou era algo construído pra mim, por mim mesma. Comentei a amigos que você tinha mudado, que você tinha se tornado uma pessoa tão fútil, tão elitista, tão hipócrita com seus próprios conceitos, mas o que eu recebi em troca deles foi a frase: Ele sempre foi assim, você que nunca viu.
Não, não é raiva não, nem desgosto, nem nada parecido. Eu apenas estou vivendo a minha vida, seguindo o rumo e encontrando pessoas que são capazes de acompanhar o meu ritmo sem covardia, sem medo... mas com entrega.
Este exato momento você deve estar me odiando. E pra ser sincera, já não faz mais diferença se você gosta ou não de mim, se me odeia ou tem rancor. Eu não me importo pois sei que não fiz nada de errado.
E de não me importar, decidi que não quero mais recordar nada seu e ficar escrevendo essas cartas. É como eu escrevi no começo, talvez eu volte a escrever, e vamos torcer para que não seja sobre suas escrotices. Perdão do termo, mas ultimamente é o mais apropriado pra tratar sobre você!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

uma folga

       

Era aquela correria todo os dias de manhã. Corria pro banho de dois minutos, se arrumava com a primeira roupa que achava, prendia o cabelo ainda molhado e uma tiara tirando a franja dos olhos. Saia de casa sem ao menos uma gota de café, e no trânsito parado das pontes da marginal Tiête, dormia encolhida no banco do ônibus lotado, sentido à avenida Paulista. E acordava na correria de descer do ônibus e atravessar ruas até o trabalho, onde começava com a correria de buscar café, ligar o computador, checar a lista de coisas para terminar no prazo do seu chefe que corria tanto quanto ela.
Mas naquele dia, ela abriu os olhos e se deparou com o caos da cidade grande, abriu os olhos, ainda deitada e quente na sua cama. Se levantou com calma, olhou o relógio, que marcava sete e meia da manhã. Se olhou no espelho e não reconheceu a si mesma. Voltou a dormir, mandou uma mensagem qualquer pro trabalho e teve o dia para si só.
Levantou ás onze em ponto, com os pés descalços foi para o banheiro e tomou um banho como há tempos não tomava, redescobrindo o seu corpo e cuidando de si mesma. Tomou um café, acendeu um cigarro no jardim da sua casa, molhou as plantas.
Ligou o computador e fechou as janelas de arquivos que só deveria conhecer no ambiente de trabalho. Secou o cabelo enquanto olhava a lista de músicas salvas. Achou um samba bem antigo e deu um play no último volume. Pintou as unhas do pé de azul e as da mão de vermelho paixão. Riu de si mesma, e dançou sozinha no quintal de casa. Comeu frutas, tomou mais café, fumou cigarros, andou descalça pela casa, leu algumas páginas do seu livro. Trocou o samba antigo pela mpb, e depois pelo rock e terminou o dia ouvindo um ska antigo na janela do seu quarto, com os raios de sol do fim da tarde que a tocavam silenciosamente, sem ela perceber o quanto aquilo era precioso.
Tirou a quarta-feira para ela, e somente para ela. Sem amigos, sem amores, sem trabalho e sem chefes. Sem trânsito, sem banho rápido, sem estômago vazio de manhã, sem cigarro molhado de chuva, sem pessoas atropelando no metrô, sem barulho e gritos no ônibus, sem broncas, sem risadas falsas no trabalho, sem nada, nada e nada. Era o dia dela. E descansou. Pegou o telefone e fez a ligação que há tempos vinha adiando. Ele atendeu, ela disse oi. Ele ficou mudo. 
Pai, me desculpa pela distância? 
Claro, ele desculpou.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do menino que foge...



E tem aquele jeito de menino carente, menino que gosta da atenção só pra ele. Me sorri um sorriso assim de lado e envergonhado, um sorriso sapeca, um sorriso criança.
Diz que gosta de cerveja e da loira ele não larga. Fala frases de adulto e inventa gostos estranhos que não combinam ao seu perfil. Toma um gole do meu conhaque, mas volta sempre pro copo gelado de espuma caindo pelas beiradas. Me corta em assuntos importantes, com medo de ficar mais profundo do que sua juventude permite, me dá um sorriso e diz que vai ali fumar um cigarro. Ele sabe que vou junto.
Evita a todo custo permanência com alguém, dá uma de durão e faz cara de mal nas fotos, mas o coração é tão mole que em uma frase eu descubro toda sua dor de amor perdido. Nega até o fim assumir uma juventude e um comportamento que, queira ele ou não, é compatível com sua idade, é normal, é igual. Ele dá um gole no copo de chopp escuro (que escolheu pra ser maduro) e conta histórias da vida de um homem de 50 anos, que qualquer um nos seus 20 e poucos anos, não saberia descrever. Ah, mas ele sabe muito bem.
Ri da minha cara e passa uma mecha do meu cabelo pra trás da minha orelha, olha dentro de mim com aqueles olhos de cor que não sei descrever e não sei encarar, joga um xaveco de adolescente, e consegue o que quer.
Tem o beijo e o fôlego de quem sabe onde quer terminar a noite, me sorri dizendo palavras absurdas e piadas que cortam o clima tão facilmente quanto aos beijos que ele me rouba e me faz sonhar.
Ele passa do menino sorridente ao homem experiente em segundos. E se esconde atrás de uma lábia tão poderosa que chego a me esquecer do porque comecei isso tudo.
Penso enquanto ele dá outro gole na cerveja, de que no fundo, eu sei da dor que ele passou e passa. Sei que ele tenta se esconder saindo com as garotas, sei quem tenta se fugir de algo que possa faze-lo feliz com a desculpa de que gosta de ser livre. Penso enquanto ele busca no bolso do casaco o maço de cigarro que, quem quer ser livre, é, e não discursa por isso. Penso que no fundo, ele quer alguém que o prenda, mas tem que ser "alguém" e não tantas dessas garotas que ele leva e beija a cada final de semana. Lembro que sou uma dessas garotas de final de semana. E assim, um sorriso surge no meu rosto, tão infantil quanto o dele. Ele entende que eu entendo, e corta o clima indo para a calçada. Acende o cigarro, dá um trago. E o menino se torna homem de novo, com outro beijo que me levará no fim da noite sabe-se lá pra onde nesta cidade cinza...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cap. VIII




Hoje de manhã passei em frente ao cemitério da Consolação, e como se fossem cenas de um filme da Sofia Coppola, reparei nas  árvores, balançando com um vento leve, e o verde das suas folhas contrastando com o amarelo do sol, que queimava minha pele dentro do carro. Parecia até que dançavam no ritmo da música e dos ventos.
Hoje eu vi o sol surgir e sumir, senti o sol queimar minha pele, e depois senti o frio das gotas de chuva escorrendo no meu rosto, enquanto eu corria para o metrô. As estações passavam pelos meus olhos numa rapidez tão grande quanto o relógio que conta os dias que eu estou sem você.  Lembro daquele dia que fomos e voltamos de ônibus, ficamos umas duas horas ou mais andando pela cidade no ônibus azul, somente para não nos separarmos. Ninguém nos separava nos finais de semana, e aquele foi a nossa despedida. Cada um para um lado, e o destino insistiu que deveríamos ter a nossa chance. Tentamos, eu tentei, você tentou. Não deu. Ainda me lembro de você andando, me dando as costas, e uma despedida forçada por conta dos caminhos que seguíamos. Lembro de você posando para mim, debaixo do sol da manhã no parque ao lado da sua casa. Dei um trago no cigarro velho da bolsa e te desculpei. Te desculpei por ter sido tão inseguro anos atrás, e mais inseguro esses tempos. Também me desculpei, porque meu caminho eu não largaria por ninguém. Nem por você. Meus passos eu não deixaria de dar por outra pessoa, minhas noites eu não deixaria para nunca mais sonhar, te convidaria para dormir comigo, mas nunca deixaria de sonhar e ser eu, indivíduo, singular, única, por alguém.
Hoje lembrei que mesmo longe, ainda posso te amar, mas é um amor tão puro, tão raro. É um amor que deseja te arranhar a pele com toda força e raiva por tudo que você me fez. Um amor que deseja te abraçar e agradecer com lágrimas pelo tanto que me fez amadurecer. Hoje lembrei que não adianta tentar te esquecer, não adianta me afastar ou te xingar. Lembrei que é isso que dizem por aí que é viver. O mês acaba (mais um), e chega outro pra tomar o lugar.
Hoje soube que você tá indo para outro país, me perguntei se faria diferença, não, não faria. Minha vida segue, e segue com você, lado a lado da sua. Não significa que te esqueci, mas não é vivendo a anulação da minha vida que você voltará aos meus braços. Aliás, você nunca esteve neles. Eu sigo, sigo e sigo. Conheço pessoas, conheço conhaques, conheço camas, conheço sorrisos, conheço perfumes, conheço olhares, e podem todos me julgar, me chamando de errada mas eu acredito realmente que para cada ser há um amor. E meu amor por você, querido, continua aqui, mas é diferente, é um amor à distância, um amor de unhas e alfinetes, que insiste em perfurar minha alma me recordando de não esquecer nossa história.
É um amor que abre espaço para outro amor presente. Outro amor companheiro, um amor de dividir sonhos, planos e brigas. É amor... e há quem diga que não existe amor em São Paulo. 
É, eu desejei que não houvesse amor... 
amar dói demais.

domingo, 28 de agosto de 2011

Ela faz cinema




Ela faz cinema, e pensava em ser homem. Um homem que pudesse transpor os muros que ela nunca foi capaz, um homem que fosse capaz de encarar as dores que ela nunca suportou. Ela faz cinema e transporta suas dores em telas que as pessoas aplaudem. Transforma sonhos em imagens, sentimentos em personagens, lágrimas em batimentos cardíacos, ela transforma as pessoas de fora da tela, pra dentro do seu roteiro, e essas pessoas dançam a trilha sonora como se fosse a trilha das suas vidas.
A inspiração vai se acabando, as pessoas vão te tirando do seu rumo, e ela se pergunta porque as pessoas enlouquecem de uma hora pra outra, porque as pessoas a esquecem de uma hora outra? Ela transformava vidas, e as vidas seguiam como se fossem editadas por essa moça que faz cinema.
E ela que sonhava em ser homem, descobriu o amor sendo mulher.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cap. VI - anexo



Entrei no quarto escuro enquanto no celular tocava Adele, decidi não atender e desmaiei na cama, tentando me esquecer dos sonhos que eu teria que enfrentar. Acordei estranha, fui ao banheiro e lavei o rosto com a água gelada cortando sobre a pele do meu rosto. Foi como se me transportasse para quando lavava minhas mãos brancas e trêmulas na pia do bar, com a angústia no coração pela possibilidade de te encontrar. Peguei na bolsa o maço de cigarros e o copo de conhaque, o bar estava cheio de pessoas solitárias que se escondem atrás de copos de cerveja e alguns drinks de nomes estranhos, pessoas egoístas e que vivem de aparências. Decidi aliviar a angústia com um cigarro na rua fria e gelada de são Paulo. Encostada na parede do bar, enquanto do outro lado da rua parava um táxi, com algumas pessoas e tatuagens a mostra no gelado da noite paulistana se apresentavam à alegria de uma juventude perdida em conexões e solitudes. Um trago e virei meu rosto como quem nada queria para a direita, e vi você chegando com alguns amigos. Passou reto por mim, me lançando um olhar como de alegria, nervosismo e indiferença. Morri naquele exato momento. E quando entrei no bar, você não falava comigo, olhava, como de disfarce de um homem perdido no tempo e nos próprios sentimentos. A cada gole que dava na cerveja na sua mão, me lembrava mais quando você ficava bêbado quando saíamos. Mas dessa vez não era eu do seu lado, eram outras, pra sua alegria, olha só, não era uma que estava do seu lado, mas várias, lindas, alegres, que dançavam. Só não se esqueça que essas pessoas ao seu lado, tão alegres, vivas e bonitas, podem te amar por uma noite, e depois te esquecer no dia seguinte com um homem bem mais bonito (e rico) que você. Isso não é amor, isso é fuga. Não se esqueça que a parte que você é hoje, é a parte que eu fui em você um dia no passado. Os passos seguidos e lentos me levaram ao ponto de ônibus que costumávamos esperar juntos no frio. Entrei no ônibus, sentei, coloquei a música mais triste que me lembrava você, e segurei o choro, seguirei, segurei. Um choro que se dissipou durante a noite toda me recordando a forma como sou insignificante pra você. Um choro que lavou meu rosto, meus objetos, minha alma. Um choro engasgado por anos, um choro que me trouxe dor de cabeça, e falta de ar. Um choro de arrependimento, um choro que queimava mais que o fogo em olhos de absurdos, em raivas, em sentimentos. Queimou, minha pele, queimou minha alma. O fogo da indiferença queimou meu coração. Talvez a esperança que eu tinha em sua volta, a esperança que eu tinha em tudo voltar ao normal, àquela amizade de anos atrás. Não te quero mais dentro do coração como um amor que se partiu, sofrer em vão. Te quero como aquele que sorria e contava teorias absurdas das coisas impossíveis e estranhas da vida. O desespero me toma quando percebo que você está se perdendo, e perdendo outros a sua volta, não somente eu, essa estranha pra você, mas todos que você perde com sua atitudes arrogantes e egoístas. No que você se tornou? Que pele é essa que você veste? O que te machucou? Quero a confiança de antes para poder te ajudar, não mais o fogo pra me queimar, me transformando em cinzas que uma dia, meu amigo, irão se dissipar pelo ar que você não quer mais respirar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Cap. VII




Oi, pois é. Estou aqui novamente, e olha que engraçado como as coisas são, engraçadas até demais. Eu que havia decidido escrever essas cartas bobas para não te esquecer, esqueci que ontem fizeram dois meses. Ou foram mais? Não importa. Eu estava no meu quarto nesta tarde de sol fresco que batia na minha janela, olhando imagens e fotos de menininha no computador pensando em como somos ridículos quando nos apaixonamos. Acho que peguei aversão ao amor. Okay, estou fazendo drama, eu sei que não peguei aversão a isso. Mas hoje em dia é tudo tão diferente. É querido, eu lembrei, hoje. Talvez tenha me lembrado enquanto dormia, pois como você bem sabe, os sonhos não nos deixam esquecer nosso passado. Decidi abrir aquela caixa com capa colorida de balas e lotada de cartas de amigos e amores. Tente adivinhar qual carta estava em cima de todas as outras? A carta do dia em que te encontrei pela última vez, e claro que para me machucar só um pouco mais eu a reli, com todas aquelas letras garranchadas de sempre, e percebi que eu a escrevi no mesmo dia que te encontrei só que antes, de manhã, naquela sexta-feira de manhã. Na carta, descrevi o sonho que tinha tido com você naquela noite, e no sonho você me beijava mesmo estando com todas aquelas pessoas desconhecidas com você. Há quem diga que sou piegas, que me arrasto e tudo isso que você sabe muito bem, caso esteja lendo tudo isso, mas é que talvez eu esteja sendo muito dramática mesmo, ou esteja vendo sinais que não tinha percebido antes.
A carta descrevia o sonho, a festa, as pessoas desconhecidas e você me beijando no fim, um fim em que fui acordada com o sinal do celular, me avisando sobre uma mensagem. Adivinhe só, mensagem sua, me avisando que iria para a festa. O porque do aviso eu não entendo, não tínhamos nada, não éramos nada. nunca fomos, ou eu me enganei? Mesmo depois daquela festa, anos atrás, fomos algo? Não precisa responder, eu sei bem a resposta, você me disse na última vez em que eu te vi. O que eu queria entender era como as coisas mudam assim tão rápido, em minutos, segundos, em atos?
Depois daquela festa, aquela de anos atrás, em que estavámos bêbados, alegres, livres, felizes (eu estava pelo menos, e você parecia vestir muito bem o personagem da felicidade) como foi que tudo aconteceu? Eu insisto, mas não consigo mais me lembrar. Só me lembro que foi um mês, exatamente um mês em que saíamos todo final de semana juntos, não tinha uma sexta ou um sábado em que não saíamos, você até brincou na minha casa que já estava enjoando de mim, depois me beijou e disse que era brincadeira. O que um bico e uma feição triste de uma mulher não é capaz de arrancar de um homem, não é mesmo? hoje olho para as duas pessoas lá no passado e vejo como eram tão diferentes, éramos dois estranhos de nós mesmos. Pra quem passava todos os finais de semana, nem que fossem por um mês somente, sempre ao seu lado, dois meses sem ouvir sequer sua voz é demais, quase uma eternidade. Tirei suas fotos, guardei em um envelope com todas as cartas de amor que venho escrevendo há alguns meses, talvez pra provar a mim mesma que eu te amo... amei. Não estou em momentos de detalhes, minha vida não anda tendo muitos detalhes ultimamente, anda tudo muito igual, todos muito igual. Mas olhe só, depois de um tempo, me lembrei de você como há muito tempo não me lembrava. Me lembrei de você nas cores dos raios de sol batendo no jardim do quintal, no cheiro das flores de inverno. Me lembrei de você no toque dos meus dedos ao pegar a caneca de café, me lembrei de você no trago do cigarro, e te vi na fumaça que saía da minha boca. Me lembrei de você em cada palavra de cada música e cada som de cada violão que tocou na minha playlist essa semana. Me lembrei de você no metrô, e no ônibus, e no personagem da sua série favorita, que eu fiz questão de assistir todos esses dias. Me lembrei de você nos sonhos, mesmo quando era apenas um figurante nas cenas principais dos meus delírios, me lembrei de você no banho, no trabalho e ao escovar os dentes. Essa semana, eu me lembrei de você em tudo, todos os momentos. E me esqueci que faziam dois meses que eu escrevi aquela carta da última vez em que te vi. No final da carta escrevi ... me deixa ser livre? me deixa pelo menos uma vez nessa vida, eu ser feliz sem a sua presença nela? Isso é possível? Por favor, me deixa, é a única coisa que te peço...
E você deixou, sem ao menos ler essas linhas. Sumiu. Me deixou... é, não sou feliz sem a sua presença.
Entendi.



É a vida meu bem: uns vivem de amor, outros acham que o tem, e a maioria na verdade tá vivendo sem!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

quero - quero



Me delicio em aventuras não amorosas. E quero o doce do amargo do desprazer. Quero sentir em mim o velho vento sobre os cabelos e não quero mais parecer uma adolescente que sonha com o impossível.

Quero, quero e quero. Quero como uma criança que quer porque quer, porque não há motivo no querer, no desejar, no sentir. Quero o que for colorido, e quero conseguir o mais brilhante de todos os confetes. Quero, quero e quero mais. Não desejo o verde do campo e o aroma de falsa liberdade. Poucos são os que sabem que no campo temos que limpar a sujeira das vacas e dos porcos. Quero o aroma sujo das ruas cinzentas da cidade, e o fresco do cheiro do mar nos finais de semana. Quero o caos do submundo das luzes e a loucura dos copos em mãos que equilibram a bebida e o cigarro. 

Mas quero também o doce perfume do sabonete em minha pele na manhã de sol, regada a ressaca e óculos escuros. Quero o sorriso sincero dos amigos, e a lágrima dos esquecidos. Quero pintar as unhas de todas as cores e borra-las na lama do quintal atrás dos bichos. Quero meu tênis mais sujo pisando na grama do campo no feriado, e um gosto estranho ao comer fruta estragada tirada no pé da chácara. Quero a insensatez, quero o não desperdício, quero os sonhos, dormir no colo dos pais. Quero as brigas e quero o sexo da reconciliação. Me deliciar em braços nunca conhecidos, encher meu pulmão de ar e gritar mais alto que todos, e xingar, quero xingar mais que tudo quando há uma injustiça nas ruas ou no estádio de futebol. Quero o prazer de andar descalça na areia e a dor ao pisar em uma concha. 

Quero o tato, quando encontrar o atrito de dois corpos. Quero o olfato quando entrar em uma cozinha banhada em café. Quero a audição, quando acordar com a minha música favorita. Quero o paladar, quando as mãos já não forem mais necessárias para sentir o gosto de alguém. E antes de tudo, quero a visão, para me lembrar da minha infância, me deliciar na juventude e visualizar a velhice.

Para bom entendedor, meia palavra basta.

Escrevo porque escrever me dá a liberdade e permanência em mim mesma, que eu não poderia nunca reconhecer ou entender. Leio no meu tempo tudo que me é pedido, leio meus livros acadêmicos e minhas literaturas infantis. Leio meus dramas e minhas comédias. E desta forma tento transformar tudo em um realismo sonoro e digestivo ao escrever minhas memórias e minhas ficções. Não sou escritora, tampouco tenho a pretensão de ser, mas ao escrever transporto um emaranhado de sonhos em uma simples e leve linha. Uma linha não linear, entenda-me bem, uma linha de sonhos, um em cima do outro, que no todo, transformam-se em uma vida inteira de cores. E assim também é minha leitura, é o momento em que não quero apostar corrida com ninguém, mesmo que me leve cinquenta anos lendo o “cem anos...”, quero ler e decifrar cada sabor de cada letra. E me inspirar em cada personagem para criar mais um sonho nisso que eu chamo de caixola ou cabeça, para escrever e escrever e escrever de novo, em linhas tortas e letras garranchadas....

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

diálogos na manhã

- Você já se apaixonou por um sonho? Perguntou ela, enquanto tomava um gole de café preto na caneca vermelha, olhando envergonhada pra ele.

- Sonhos são apaixonantes mesmo... Como se nem tivesse escutado as palavras da amiga, ele responde em tom meio aleatório, afinal, ela sempre tem sonhos absurdos.

- Não, não, é sério! Eu me apaixonei por alguém que apareceu no meu sonho ontem, e eu nem conheço essa pessoa. Pausando a caneca em cima da mesa.

Ele para de ler o jornal, prestando atenção nela agora, e pergunta:
- Mas, tinha mais gente conhecida no sonho? Porque assim você pode sair com elas na vida real e ver se encontra esse sonho aí.


Ela, volta a tomar outro gole, e animada, explica:
- Não tinha ninguém conhecido lá. Mas o engraçado é que no sonho estávamos ótimos, parecia que estávamos juntos a tanto tempo, nos completávamos e etc. e quando eu acordei essa manhã, senti uma impaciência tão grande com o sonho, como se tivéssemos brigado.


Fazendo uma pausa, ele vira os olhos, e vai perguntando, pacientemente, olhando bem nos olhos dela
- Você está impaciente com alguém que estava apaixonada horas atrás? Pegou raivinha de alguém que te encantou tanto? E então acordou e eu tenho certeza que nem lembra do rosto dele né?


- Sim... respondeu ela, quase sussurrando e olhando pra baixo, como se estivesse esperando o que viria da boca do seu amigo a partir daquele "sim".

Voltando a ler o jornal da manhã, ele cruza as pernas, balançando a cabeça, deixando o papel com as noticias entre ele e ela, de uma maneira que ela não pode enxergar seu rosto. Em tom de desprezo ele diz:
- Tsc, até de um sonho que te ama você foge!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cap. VI

Pois é, nunca achei que chegaria esse dia. Ainda não chegou, é verdade, e até lá ainda tem muito chão, mas o dia tá marcado na agenda que repousa em cima da minha escrivaninha. Daqui duas semanas, e o que pode acontecer em duas semanas não é? É, muita coisa pode acontecer em duas semanas, tanto quanto aconteceram em uma noite só. Uma noite em que tudo começa, e uma noite em que tudo termina. Festas tão diferentes, com pessoas, gostos e graus de alcoolismo diferenciados.
Pois é, tem dias em que eu não me lembro de você, e ás vezes eu entendo como um sinal bom, assim exercito na minha memória, fico te caçando nas lembranças pra você não morrer assim facilmente. Já não me recordo tão facilmente de você quando passeio em certos lugares. Alguns pontos da avenida paulista não me lembram mais você, mas um outro cara qualquer, como os bancos do metrô, um parque na barra funda, uma estação no centro de são Paulo... ops, não, essa me lembra somente você. Mas entenda que sua importância já não é mais prioridade pra mim. Pensei até em parar de escrever essas linhas tortas e letras garranchadas pra você, mas não consigo, mesmo porque as vezes me pego pensando em você numa música ou outra, ou quando estou feliz e vejo uma janela subindo no meu computador dizendo que você está online. Me seguro todas as vezes para não implorar por um perdão seu, ou te xingar com todas as minhas forças pela sua infantilidade em agir assim comigo. Me pergunto como você agirá quando finalmente nos encontrarmos, será que irá fingir que eu não existo? Que eu não significo nada, nem signifiquei nada pra você? Será que irá me cumprimentar como se nada tivesse acontecido? Ou será que estará com alguém que eu sei que vou odiar? Fazem tantos anos...
Pois é, e hoje acabei que não me esqueci de me lembrar de ti um minuto sequer. Claro que eu digo que é tudo passado, que eu superei tudo e etc, etc., então se eu superei, porque não sigo em frente sem você? Me boicoto de novo dizendo a mim mesma que e o que eu preciso realmente é olhar nos seus olhos e ver que sim, você não se importa comigo. Sei que meus amigos querem me matar por isso, e dizem cada vez que leem essas linhas que eu me arrasto por alguém que não está nem aí pra mim, mas o que eu posso fazer? Pois é, o que eu posso fazer? Só me resta então lembrar de momentos como daquela noite em que eu me arrastei para você vir comigo naquela festa na praça da árvore (e antes não tivesse ido). Ainda me lembro de chegarmos numa casa onde não conhecíamos ninguém, depois de um dia todo de passeio pela avenida paulista. E claro, me lembro da mãe do dono da festa, embebedando todas as garotas da casa com tequila e vodka, e você claro, já estava vermelho das bebidas. O mesmo dia em que me disse que eu te entendia, te convencia, te fascinava... foi o mesmo dia em que, eu já naquelas de estar bamba e de olhos pequenos, sentei no seu colo para a brincadeira com um copo na mesa, eu não me lembro. Você já estava pra lá de Bagdá... e insiste em dizer que quem te beijou fui eu. Pois é, sinto-lhe dizer que a sua mão na minha nuca, me puxando para um primeiro beijo não corresponde ao que você afirma. E foi como fogos de artíficio, entre duas pessoas que não conseguem se desgrudar, como se houvesse um imã entre dois corpos opostos, que se completavam por segundos. Cada segundo parecia uma eternidade. Mas o que me recorda não é isso, não o beijo, desse eu me lembro como fiquei vermelha e com vergonha, estava beijando meu melhor amigo. E agora? É e agora....?
Pois é, um café da manhã, com café preto e cheirando a sábado amanhecido, com bafo de tequila e olhos cansados, corpos adormecidos esperando uma cama para repousar e esquecer dos acontecimentos. Quantos eu beijei e quis esquecer, quantos conheci e nem sequer me lembrava do nome. Mas com você foi diferente. Pois é, eu esperava que o capítulo que traduzisse o beijo fosse mais do que isso que escrevi em linhas tortas. Me desculpe, eu sei que foi uma noite especial, pra mim. Eu sei que foi inesquecível, pra mim. Eu estava ali, em um verão há muitos anos atrás, beijando meu amigo, que tanto tinha me ajudado, beijando alguém que eu tinha conhecido um ano atrás, beijando alguém que eu sei que não seria igual aos outros, e não foi. Pegando o metrô da zona sul em direção à zona norte, na linha azul que transporta tantas almas vazias de amor e sonhos. Eu era a sonhadora do dia, e tinha alguém para compartilhar aquilo comigo. Estávamos felizes com nossa vida nova e nem sequer percebemos que essa vida iria nos separar da mesma forma que nos juntou. Eu sinto saudades, eu sinto remorso, eu sinto um ar de nostalgia que me envolve toda manhã, quando abro meus olhos sozinha na minha cama, no meu colchão, sabendo que talvez nunca mais terei sua presença na minha vida. Sabendo que talvez, você nunca mais converse comigo. Me desculpe querido amigo, mas é assim, pois é, é assim, é um capitulo que expressa mais meu medo de te reencontrar do que recorda o dia em que nossa história de Dois começou. Nosso primeiro beijo, eu sentada no seu colo, na frente de todos e nenhuma vergonha em expressar algo que estava dentro de mim e dentro de você há algumas semanas. Tudo se encaixou perfeitamente, suas idéias, meus sonhos, nossos planos, que nunca tiveram lugar em nós Dois.
Pois é meu amigo, somos uma agora, cada um seguindo um caminho. Um pra lá, outro pra cá. Posso ter beijados tantos e tantos, mas daquela forma, não foi nenhum. E o que será de nós dois? Não há carta alguma que possa responder... eu não posso responder, e sei que você também não quer saber mais nada nesse capítulo. que por coincidência (ou não) possui o mesmo número da data do seu nascimento. Nascimento na minha vida como alguém que não quer (queria) ser apenas outra amiga...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Segunda paulistana

Se ela pudesse, ela gritaria e xingaria os sete ventos. 
Mas acordou tão disposta em uma manhã de segunda-feira, gelada e paulistana. As unhas em preto  e branco, que ela inventou pintar em homenagem ao time dos domingos e quartas, carregam a xícara de café que se torna uma segunda feita para espantar o sono. Também consequência da tristeza da madrugada de domingo, regada a filmes, chocolates, pipoca e brigas.
Ah, esquece, ela diz pra si mesma, enquanto dança na cozinha com sua xícara de café ao som do CD novo do Chico Buarque. Isso o tempo cura, ele (o Chico ou o tempo?) cura tudo e todos. E se puniu uma última vez por ter sido tão ingênua em pleno aniversário de 30 anos.
Abriu a porta do apartamento, carregando um guarda-chuva pra lá de colorido, que dava cor à manhã cinza que acompanhava o negro de suas roupas. Olhou uma última vez para o apartamento.
Abriu um sorriso, e foi encontrar seu destino na vida.

sábado, 30 de julho de 2011

A do espelho

Nesses dias sem cigarro tudo o que ela pode fazer é com muita paciência. Desde estas palavras digitadas aqui, e em cada erro uma correção para remediá-los. Ela se levanta e anda calmamente pelo quarto, com os dedos finos, enquanto ouve uma cantora de Jazz no seu computador, ela agarra o celular com uma ferocidade tão grande quanto um leão faminto e sedento por vida fresca na sua boca. Ah, era apenas o seu amigo lembrando-a que ele não a esquecera. Os dedos se voltam então, saltitando pela bancada cheia de livros empoeirados para a caixa de remédio. Droga, já se passaram 30 minutos do horário de toma-los. E com um gole ela ingere a cápsula que possui o estranho poder de tirá-la deste mundo de dor física e transportá-la para um mundo de sonhos. A música acabou e eu nem percebi. Eu não sou ela, nem ela eu. Quem canta é uma desconhecida achada em algum vídeo de algum amigo de algum primo meu, ou dela.
Ela passa os dedos por detrás da orelha, levando com eles um pedaço de cabelo, enquanto ri e olha pra baixo, pensando em como é inútil a sua vida e como são inúteis essas palavras. Eu me identifico com ela e como ela se inspira na minha leitura. Passa então os dedos de unhas tão vermelhas quanto sua boca sob a capa lisa e de mesma cor das unhas do livro que descreve poucos anos perto da solidão que a assola por meses. Olhando para baixo, piscando uma ou duas vezes, rindo sozinha... ela vai levando o pé direito para o lado, ensaiando passos de ballet contemporâneo que há tanto tempo não vem praticando. E então ela para, olha para si mesma no espelho, absorta de tanta futilidade, e decide terminar essas linhas que eu mesma não sei como finalizar...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A outra

Você deveria ter desaparecido naquelas ondas dentro daquele verão gelado que selou tudo o que poderíamos ter sido um dia.
E eu acho que é assim, que é dessa forma que as coisas funcionam. Existem pessoas e pessoas. Pessoas que são moldadas para se encaixarem em nós, e pessoas que seriam perfeitas para nós, mas simplesmente não são. E nunca será. E então do nada aparece uma garota que eu não daria nada por ela, que não pertencia ao seu mundo. E eu quero morrer de cíume, quero mata-la, quero provar que sou mil vezes melhor que ela, faço de tudo, exponho, me jogo, imploro. E com um sorriso ela te ganha. E o pior, ela é tão legal comigo que a minha raiva se transfere pra você, e eu desejo então que você tivesse desaparecido nas ondas que quase te arrastaram naquele verão gelado.
Fazem meses que eu não te vejo, e não há nada que me acalme, nada que apague das minhas memórias por acontecimentos nunca antes acontecidos, que um dia poderíamos ter sido algo, e o que seríamos? Se tivessem nos moldado certo, para que durasse nem que fosse um segundo sequer de amor...
Cara, você tem muita sorte de ter ela, porque se não existisse o anjo que ela representa na sua vida, você seria só mais um...
E quem sabe eu seja o anjo de alguém nesse mundo afora. Vou ficar bem longe do mar, porque assim posso tentar esquecer o muleque que você era,
e o homem feito que se tornou com a presença de umaverdadeira mulher na sua vida.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Inverno

Comeu um pedaço de chocolate, impossibilitada de beber por causa da quantidade de remédios que estava sendo obrigada a ingerir no seu corpo delicado. Um pedaço apenas de chocolate em uma noite fria e solitária em que as mãos não aguentam permanecer descobertas sou sozinhas. Da sua boca saía uma fumaça quase tão hipnótica quanto a do cigarro que acenderia daqui a dois minutos. Era o charme do inverno nas bocas vermelhas e femininas que tragavam cigarros como se traga almas na solidão. No pescoço, um cachecol verde que combinava com as unhas prestes a serem roídas de tanto nervosismo. Mais um pedaço de chocolate e um esfregar de mãos que disfarçava a angústia que todos percebiam na garota solitária encostada no muro ás nove horas da noite de um sábado gelado. Engoliu um dos remédios e acendeu o cigarro, eram trinta minutos de atraso. Ela queria apenas conversar e esclarecer sua ausência que completava mais de um ano. Não, ela não ligava para datas como as outras garotas, assim como ela não ligava quando não retornavam alguma ligação, ou quando mesmo depois de uma noite de juras de amor nem uma mensagem era enviada pra ela. Não, ela não era igual às outras, e talvez esse tivesse sido o motivo da sua fuga, e que na verdade, ela esperou exatamente 436 dias para entender a si mesma. O cigarro já se apagava em seus dedos, e somente mais um trago, apenas mais um para espera-lo, e se ele não chegar até o fim deste, não... do próximo cigarro, irei embora. Como era reconfortante enganar a si mesma, assim como se enganou todos esses meses fugindo de caras sorridentes que poderiam roubar seu coração. Se enganou que talvez por uma semana o tivessem feito, mas se enganou tão bem que procurava nos olhos castanhos o que nunca encontraria em olhos como aqueles. Se enganou tão bem que procurou graça e liberdade ao invés de estabilidade. Fugia de sentimentos, fugia dos riscos de algo permanente, queria a liberdade e assim, se livrar como um pássaro liberto das algemas que um antigo amor a prendia diariamente, e toda noite em todos os sonhos. Não negava que sentia falta de se apaixonar com toda a graça da curiosidade e descoberta do novo, mas não há novo enquanto o antigo permanece. Apagou o último cigarro do maço e enxugou uma lágrima enquanto um grupo de amigos passavam por ela com cheiro de álcool ou algo parecido. Ele não viria. E ela não ligaria para ele para ter essa certeza.

Passaria um mês, no aniversário dela, e ele entraria em contato, com um remorso influenciado pelo seu amigo a encontra-la. Com orgulho se fez de desentendido, como quem não queria nada e perguntou por ela no outro lado da linha. Ficou estático e entendeu tudo, todos os motivos ... e tremeu as mãos a ponto de deixar despencar o telefone. Um mês atrás ela queria se desculpar, ela queria entender o que aconteceu com os dois, perdoar, ser perdoada. Um mês atrás ela queria aliviar a dor que sentia não somente da perda do outro, mas da perda que estava acontecendo com ela mesma, a perda de si, que os remédios apenas adiavam. Um mês atrás ela queria se despedir.

E o que restou a ele foi somente um grito sufocado e o endereço da igreja que aconteceria a missa do sétimo dia.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cap. V

O dia em que organizei minha mudança foi o mais difícil dos últimos tempos. Tive que empacotar tudo esperando pelo que vinha no futuro, em um lugar novo, com pessoas novas e um emprego de verdade. Não que os antigos não tenham sido, eram até mais reais que o atual, mas esse é como um resultado de anos que passei estudando, metade deles com sua presença em minha vida, e outra metade com sua ausência me fazendo falta.
Eu empacotei roupas, objetos e perfumes e cheguei na caixa colorida, em que guardo todas as cartas de amigos e amores perdidos nos anos da minha solidão coletiva. Achei essas cartas e esses pensamentos que nunca te enviei, e claro, você provavelmente deve estar em outro país. Sempre foi seu sonho... sonhos? Como cito meus sonhos nessas cartas adolescentes que jurei nunca te enviar, com meus sentimentos infantis e o esquecimento que se nega em não me abandonar.
Encontrei a carta que você me escreveu, a única, e não me refiro ao papel em branco que você me entregou no show de samba, dizendo pra você... uma carta de amor em branco. O que eu encontrei  refletia bem mais o que você sentia por mim, era uma carta um dia após a prova da usp. Aquela prova que terminamos e nos encontramos, jurando não comentar sobre nenhuma questão de matemática ou coisas afins que eu sempre odiei e você sempre foi bem. Aquele seu abraço dizendo que tudo ficaria bem eu não me esqueço até hoje. Me acompanhando até a rua augusta (sempre ela) para eu me encontrar com o meu namorado, e como vocês eram amigos naquele tempo, e comemorar o fim de um ano exaustivo de estudos que me provariam em um dia o que nunca podem me provar em anos. Provas e questões acerca de temas que não fizeram mais parte da minha vida daquele dia em diante. Ás 20h em ponto, daquele domingo de lágrimas eu fui conferir minha prova na lan house, com um copo de cerveja na mão..... e não me lembro de mais nada.
As lágrimas caiam tão rapidamente do meu rosto no mesmo ritmo que a banda de ska tocava no bar ao lado. Cada pessoa e cada cigarro que permanecia ao meu lado era um abismo que eu queria me afundar cada vez mais. Um ano jogado no lixo, um ano de sonhos que nunca poderiam se realizar, e então eu cai. Cai tão profundamente em mim mesma que já não me recordo de mais nada, apenas dele me segurando, e dizendo palavras que me soam gringas na memória. E você me segurando enquanto ele ia fazer não sei o que. Você me segurava e abraçava, enxugava minhas lágrimas e depois acariciando meus cabelos me dizia que tudo ficaria bem, que aquilo não era o fim. Eu não escutava, não escutava ninguém. Queria cair mais profundamente naquela solidão e desilusão que me assolava. Não tinha voz para gritar, nem olhos para abrir. E fui embora, não olhei para trás, não te dei parabéns pelo seu sucesso na prova, não me lembrei de você, fiquei em mim, parada, estática, morta.
E no dia seguinte você me enviou o email, nas primeiras horas do dia, em que tive força de aguentar as noticias do dia anterior. E você me xingou no email, com esse seu jeito grosso e sincero que só você consegue ter. Era o que eu  precisava ouvir, era o que precisava para continuar, e acredito que se não fosse pelas pelavras grossa e ao mesmo tempo reconfortantes, eu não estaria empacotando minhas coisas para sair de casa depois de tantos anos estudando o que me movia pra frente sem você. Porque foi isso que me moveu, a credibilidade que eu sabia que no fundo você sempre teve por mim, mesmo dizendo, anos mais tarde que era minha culpa não ter ido estudar com você, apenas para me ver vermelha de raiva, como você gostava tanto.
Eu juro que senti vontade de queimar essas cartas, e esquecer de vez meu passado que remete a você e seguir em frente, mas no fundo eu sei que não quero esquecer um minuto sequer que passamos juntos, e talvez esse seja o motivo das cartas que escrevi clandestinamente a você durante todos esses anos. Eu sei que um dia você vai me perdoar por eu ter exposto nossa vida... no fundo, você vai me perdoar, e mesmo que não assume isso, não vai mais fazer diferença no que somos hoje. Hoje não é mais aquele café ou aquele tapa na minha mão quando eu acendia o cigarro, hoje é distância, e uma certeza de quem em algum lugar do globo você deve estar rindo dessa lembrança que acabei de descrever.

Ressaca

Entre conversas de botequins, poesias e canções.
Um cigarro aqui, outro ali, um conhaque, uma cerveja e quando menos se percebe, você já esqueceu a angústia que só voltará na ressaca do dia seguinte.
Ressaca moral. aquela bem pior de todos os relacionamentos humanos e universais.

domingo, 17 de julho de 2011

Cap. IV

Tenho fios em todo o meu quarto, fios que conectam vidas, conectam instrumentos. Aparelhos para cabelos, aparelhos para falar, aparelhos para escrever, ler, ouvir, fios e mais fios que não possuímos tantas tomadas para ligar tudo numa coisa só. E então acabou a luz!
O que fazer? Como fazer? Quando irei falar com você? Se meus dias eu passo a te esperar, para combinarmos um café ou um pulo rápido na paulista para dizermos: como vai você?
Conversas íntimas sobre psicologia e filosofia em meio a tanto caos, tanta alegria e tantos sentimentos dentro de uma avenida só. Não posso descreve-la assim como descrevo você, pois cada linha da avenida, cada prédio e o sol que se põe representam cada gesto e careta que você transforma em poesia.
E eu trouxe o telefone, preso por um fio da tomada da sala, disquei o número que me levaria a você e disse (como disse depois por tantos anos): eu preciso conversar, eu preciso sair.
Você topou, você me acompanhava, e saímos sem rumo, ou melhor, com um rumo: avenida paulista.
Andamos, retornamos, entramos em cada rua, por entre prédios, subimos no bar daquele lá, vimos a vista e você me falava sobre concretos, luzes, jardins, e planos para o ano em que um prédio somente seria o resto da sua vida.
Encontramos nossos amigos, fomos ao cinema no falecido Belas Artes, tiramos fotos.
As fotos mais lindas que eu pude ter comigo. Éramos três, éramos dois, um. As pizzas, os cafés, e o azul do céu que combinava com o azul da sua roupa. O amarelo do sol que contrastava com o vermelho do seu rosto, que ficou tímido quando sem querer descobri um segredo seu. O dia estava acabando, e você como um bom amigo, fiel, me apoiou dizendo: você é linda para ele, e eu te apoio no término. Se havia algo ali, eu nunca percebi... se aquilo era intenção, eu não percebi. 
Só percebo que cada fio que encontro no meu quarto, sempre me levava até você, e se for a espera que me espera, estarei ali, esperando você nesse meu amor preso nos tempos da informática...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cap. III

Me encontro, me disfarço, contrato, retenho, feita, não te refaço. 
Os raios de sol fora da janela refletem no muro amarelo, que contrasta com o céu azul, limpo, sem nuvens, apenas um avião que passa riscando o limpo e leve que o azul me traz, e me pergunto se você estará lá, partindo pro México, pro Uruguai ou qualquer outro país da América Latina, desenhando riscos de concreto em ruas estreitas e antigas, enquanto mulheres passam com vestidos floridos, vermelhos, voando com os cabelos ao ar, soltando fumaças pelas bocas vermelhas e peles de ouro.
Hoje desfiz meu contrato e te procurei cinco dias depois daquele mês. Te procurei nas fumaças de outras bocas, procurei no negro de outros olhos que contrastam com a luz que você me trazia, na companhia dos fios de seus cabelos que me prendiam como grades livres de qualquer rancor. Desfiz meu contrato, entrei no banheiro, deitei na cama, escrevi, li, reli, esperei, esperei e esperei uma resposta. Fumei, traguei, bebi um vinho, um conhaque, uma cerveja, vodka, tequila... um café. Nenhuma fumaça me tirava a essência que você deixou em mim. Te esqueço em alguns corpos e outros copos. Te esqueço em luares e sons, em risos e beijos. E nas manhãs seguintes acordo com outros ao meu lado, enquando nos sonhos você me persegue.
Hoje desfiz meu contrato. Falei com ele ontem, e fazem anos que ele terminou comigo, e você esteve lá do meu lado, dizendo que minha saia verde e hippie era linda demais para uma pessoa que não me merecia. Meus amigos dizem a mesma coisa sobre você hoje, que sou sentimental demais para alguém que não tem a simples coragem de me dizer que me odeia, se você me odeia. Ou que me ama, mas nunca amou, não, nunca amou.
Desfiz meu contrato, e ai de meus amigos quando lerem isso, me dirão: esquece, apenas esquece.
Como se fosse simples o esquecer de alguém que recorda a noite com a minha saia verde, hippie e comprida, que vesti no show do Jorge Ben Jor, em que pulamos sem parar e você me rodava na ponta dos pés e me abraçava sem interesse algum, dizendo que eu estava linda demais para alguém que estava a kms de distância e que não me merecia. Como se fosse simples o esquecer do seu rosto incrédulo quando disse que não teríamos pizza de janta, mas miojo, feito com batatas e cenouras após uma noite de show do Jorge Ben Jor. Logo você, que cozinhava tão bem, logo você que me acompanhou em tantos restaurantes japoneses depois da aula. Como esquecer enquanto penso que poderia estar na fila do pão, e todos me olhariam pensando que eu te encontrei, e na verdade só penso que na realidade eu sou bem mais sentimental que você. 
Na verdade, sou bem mais sentimental do que eu mesma acreditava que pudesse ser.
Então trago mais um pouco do meu cigarro, de um masso velho e amassado que você odiava, e bebo mais um vinho, enquanto o céu escurece e os raios de sol vão embora, levando as cores do dia, enquanto o tempo insiste em não levar você de mim.