sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cap. VI - anexo



Entrei no quarto escuro enquanto no celular tocava Adele, decidi não atender e desmaiei na cama, tentando me esquecer dos sonhos que eu teria que enfrentar. Acordei estranha, fui ao banheiro e lavei o rosto com a água gelada cortando sobre a pele do meu rosto. Foi como se me transportasse para quando lavava minhas mãos brancas e trêmulas na pia do bar, com a angústia no coração pela possibilidade de te encontrar. Peguei na bolsa o maço de cigarros e o copo de conhaque, o bar estava cheio de pessoas solitárias que se escondem atrás de copos de cerveja e alguns drinks de nomes estranhos, pessoas egoístas e que vivem de aparências. Decidi aliviar a angústia com um cigarro na rua fria e gelada de são Paulo. Encostada na parede do bar, enquanto do outro lado da rua parava um táxi, com algumas pessoas e tatuagens a mostra no gelado da noite paulistana se apresentavam à alegria de uma juventude perdida em conexões e solitudes. Um trago e virei meu rosto como quem nada queria para a direita, e vi você chegando com alguns amigos. Passou reto por mim, me lançando um olhar como de alegria, nervosismo e indiferença. Morri naquele exato momento. E quando entrei no bar, você não falava comigo, olhava, como de disfarce de um homem perdido no tempo e nos próprios sentimentos. A cada gole que dava na cerveja na sua mão, me lembrava mais quando você ficava bêbado quando saíamos. Mas dessa vez não era eu do seu lado, eram outras, pra sua alegria, olha só, não era uma que estava do seu lado, mas várias, lindas, alegres, que dançavam. Só não se esqueça que essas pessoas ao seu lado, tão alegres, vivas e bonitas, podem te amar por uma noite, e depois te esquecer no dia seguinte com um homem bem mais bonito (e rico) que você. Isso não é amor, isso é fuga. Não se esqueça que a parte que você é hoje, é a parte que eu fui em você um dia no passado. Os passos seguidos e lentos me levaram ao ponto de ônibus que costumávamos esperar juntos no frio. Entrei no ônibus, sentei, coloquei a música mais triste que me lembrava você, e segurei o choro, seguirei, segurei. Um choro que se dissipou durante a noite toda me recordando a forma como sou insignificante pra você. Um choro que lavou meu rosto, meus objetos, minha alma. Um choro engasgado por anos, um choro que me trouxe dor de cabeça, e falta de ar. Um choro de arrependimento, um choro que queimava mais que o fogo em olhos de absurdos, em raivas, em sentimentos. Queimou, minha pele, queimou minha alma. O fogo da indiferença queimou meu coração. Talvez a esperança que eu tinha em sua volta, a esperança que eu tinha em tudo voltar ao normal, àquela amizade de anos atrás. Não te quero mais dentro do coração como um amor que se partiu, sofrer em vão. Te quero como aquele que sorria e contava teorias absurdas das coisas impossíveis e estranhas da vida. O desespero me toma quando percebo que você está se perdendo, e perdendo outros a sua volta, não somente eu, essa estranha pra você, mas todos que você perde com sua atitudes arrogantes e egoístas. No que você se tornou? Que pele é essa que você veste? O que te machucou? Quero a confiança de antes para poder te ajudar, não mais o fogo pra me queimar, me transformando em cinzas que uma dia, meu amigo, irão se dissipar pelo ar que você não quer mais respirar.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu ainda descolo quem é esse sortudo de percepção nula que tanto te inspira e meter-lhe umas bordoadas!!!

Não gosto nada de te ver "em cinzas" pelos ventos do mundo e tão só... É bem do meu feitio, te inalar "em cinzas" e suspirar de Amor.. mas seria precipitado... foi o que concordamos um dia desses aí...


só não sei porque é que eu concordei...

=)

Anônimo disse...

tu nem entra mais no meu né ¬¬