quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Cap. VII




Oi, pois é. Estou aqui novamente, e olha que engraçado como as coisas são, engraçadas até demais. Eu que havia decidido escrever essas cartas bobas para não te esquecer, esqueci que ontem fizeram dois meses. Ou foram mais? Não importa. Eu estava no meu quarto nesta tarde de sol fresco que batia na minha janela, olhando imagens e fotos de menininha no computador pensando em como somos ridículos quando nos apaixonamos. Acho que peguei aversão ao amor. Okay, estou fazendo drama, eu sei que não peguei aversão a isso. Mas hoje em dia é tudo tão diferente. É querido, eu lembrei, hoje. Talvez tenha me lembrado enquanto dormia, pois como você bem sabe, os sonhos não nos deixam esquecer nosso passado. Decidi abrir aquela caixa com capa colorida de balas e lotada de cartas de amigos e amores. Tente adivinhar qual carta estava em cima de todas as outras? A carta do dia em que te encontrei pela última vez, e claro que para me machucar só um pouco mais eu a reli, com todas aquelas letras garranchadas de sempre, e percebi que eu a escrevi no mesmo dia que te encontrei só que antes, de manhã, naquela sexta-feira de manhã. Na carta, descrevi o sonho que tinha tido com você naquela noite, e no sonho você me beijava mesmo estando com todas aquelas pessoas desconhecidas com você. Há quem diga que sou piegas, que me arrasto e tudo isso que você sabe muito bem, caso esteja lendo tudo isso, mas é que talvez eu esteja sendo muito dramática mesmo, ou esteja vendo sinais que não tinha percebido antes.
A carta descrevia o sonho, a festa, as pessoas desconhecidas e você me beijando no fim, um fim em que fui acordada com o sinal do celular, me avisando sobre uma mensagem. Adivinhe só, mensagem sua, me avisando que iria para a festa. O porque do aviso eu não entendo, não tínhamos nada, não éramos nada. nunca fomos, ou eu me enganei? Mesmo depois daquela festa, anos atrás, fomos algo? Não precisa responder, eu sei bem a resposta, você me disse na última vez em que eu te vi. O que eu queria entender era como as coisas mudam assim tão rápido, em minutos, segundos, em atos?
Depois daquela festa, aquela de anos atrás, em que estavámos bêbados, alegres, livres, felizes (eu estava pelo menos, e você parecia vestir muito bem o personagem da felicidade) como foi que tudo aconteceu? Eu insisto, mas não consigo mais me lembrar. Só me lembro que foi um mês, exatamente um mês em que saíamos todo final de semana juntos, não tinha uma sexta ou um sábado em que não saíamos, você até brincou na minha casa que já estava enjoando de mim, depois me beijou e disse que era brincadeira. O que um bico e uma feição triste de uma mulher não é capaz de arrancar de um homem, não é mesmo? hoje olho para as duas pessoas lá no passado e vejo como eram tão diferentes, éramos dois estranhos de nós mesmos. Pra quem passava todos os finais de semana, nem que fossem por um mês somente, sempre ao seu lado, dois meses sem ouvir sequer sua voz é demais, quase uma eternidade. Tirei suas fotos, guardei em um envelope com todas as cartas de amor que venho escrevendo há alguns meses, talvez pra provar a mim mesma que eu te amo... amei. Não estou em momentos de detalhes, minha vida não anda tendo muitos detalhes ultimamente, anda tudo muito igual, todos muito igual. Mas olhe só, depois de um tempo, me lembrei de você como há muito tempo não me lembrava. Me lembrei de você nas cores dos raios de sol batendo no jardim do quintal, no cheiro das flores de inverno. Me lembrei de você no toque dos meus dedos ao pegar a caneca de café, me lembrei de você no trago do cigarro, e te vi na fumaça que saía da minha boca. Me lembrei de você em cada palavra de cada música e cada som de cada violão que tocou na minha playlist essa semana. Me lembrei de você no metrô, e no ônibus, e no personagem da sua série favorita, que eu fiz questão de assistir todos esses dias. Me lembrei de você nos sonhos, mesmo quando era apenas um figurante nas cenas principais dos meus delírios, me lembrei de você no banho, no trabalho e ao escovar os dentes. Essa semana, eu me lembrei de você em tudo, todos os momentos. E me esqueci que faziam dois meses que eu escrevi aquela carta da última vez em que te vi. No final da carta escrevi ... me deixa ser livre? me deixa pelo menos uma vez nessa vida, eu ser feliz sem a sua presença nela? Isso é possível? Por favor, me deixa, é a única coisa que te peço...
E você deixou, sem ao menos ler essas linhas. Sumiu. Me deixou... é, não sou feliz sem a sua presença.
Entendi.

Um comentário:

, disse...
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