quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Promessas

"Ah, you fake just like a woman, yes, you do. You make love just like a woman, yes, you do. Then you ache just like a woman... But you break just like a little girl." (Dylan)


Prometi que não iria mais chorar, e desde então choro feito uma garotinha toda noite.
Também cheguei a prometer que não ia me importar, mas carrego em mim todas as dores desse mundo morto.
Pedir para que eu prometa que ficarei bem... posso lhe prometer.
Posso prometer mais que isso, que ficarei bem, que cuidarei de mim, que esquecerei, que seguirei minha vida, um dia completo de cada vez, e não em sentimentos pela metade, por pessoas pela metade.
Eu prometo,
mas não prometo cumprir.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Um brinde à estupidez



A vida moderna me adoece. Levanto-me e vejo como o mundo acordou, e eu só queria dormir a ter que presenciar isso tudo. A ressaca moral das atitudes do passado nos transtorna. Do mundo, restam duas partes:
De um lado, egoísmo, ganância, estupidez e ignorância. De outro, resistência e luta.
Viver já não é melhor que sonhar. As pessoas morrem e possuem seus corpos estirados no chão, como se nada mais houvesse pra fazer. Outras pessoas já não podem mais ter o direito sobre o uso de seus corpos nus e mutilados pelo sistema.

Na noite paulistana, inteligência é medida pela marca da sua camisa xadrez e pelo tamanho do seu decote e saia. Quem desce até o chão e se levanta, aguenta o peso dos dias de cinzas?
Fomos educados para amar e procriar em meio a cegos que não conseguem enxergar além de seu cabresto.
Os jovens se vestem cada vez mais iguais, andam iguais, falam iguais e reproduzem tudo que leem, como iguais, aos seus perfis nas redes sociais.
E na balada ainda vendem ilusões em garrafas de vidro, e solidão nas fumaças ilegais em cabines do banheiro.

Uma lágrima é derramada por todos que hoje resistem, lutam e caem perante a sujeira que é viver em um mundo revoltante, um mundo sem volta. Apático, seco, frio, triste. Um mundo ocupado em se fazer mostrar autoritário e certo.
E eu? Pegue um copo, e celebre comigo o caos do mundo. Eu continuo no desejo de permanecer no errado

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

lenço



Ela sempre foi do tipo que superava tudo, e aos 7 anos de idade teve que fazer operação nas amigdalas por causa das dores de garganta. As dores vinham acompanhadas de febre, dor de cabeça, tremores e náuseas. Depois da operação, ela obteve a voz aguda conhecida por todos. Eu, sempre com o meu olhar, nunca precisei gritar pelo que queria. Muitos usavam suas táticas para conseguir as coisas, choravam, argumentavam, chantageavam. E ela, mesmo com a sua voz fina feito gralha, falava, gritava, contestava. Gritava mais do que deveria é verdade, mas gritava com os pulmões e coração. Nunca fui assim, sempre abaixei a cabeça e chorei aos sete cantos pelo que eu queria. Quando a vida a derrubava, ela tentava de cabeça erguida passar por cima, se levantar. Eu sempre continuei caída. Viagens, traições, mortes de parentes e amigos nunca a derrubaram. Comigo, era só um fora de alguém, eu já chorava por causa disso. Ao invés de derrubarem, ela gritava, e todo mundo era obrigado a ouvir. Até eu mesma tive que escutar os lamentos dela pelo mundo injusto que vivíamos.

Lembro-me de uma vez, em que ela gritou no metrô por causa de uma mulher que carregava uma criança no colo, ás 8h00 da manhã na estação da sé, e ninguém se levantava para dar lugar àquela senhora e seu filho. Ela pediu a um homem que fingia dormir, para que se levantasse. Esse se negou. Em um momento como eu nunca tinha visto, suas mãos tremiam de nervoso e então, ela gritou. Um grito oco, de raiva e indignação. Ela sempre teve isso. Eu não.
Deve ser tudo trauma da cirurgia de amígdala, que fez aos 7 anos. Deve ser  trauma por tudo que sempre sonhou, sempre ter dado errado. Trauma de tudo que planejava, ter que mudar em cima da hora, porque nada saía como ela queria. E ela se adaptava, em tudo. Mas um dia ela cansou de gritar, e foi aí que ela me enxergou. Por dias, percebi que ela me imitava. E eu que sempre senti inveja da voz dela. Olhava cabisbaixa e concordava com tudo. Nos olhávamos nos olhos e nos reconhecíamos, como iguais. Ela procurava em mim, os lábios que havia perdido, mas eu não pude dá-los. Procurou os meus olhos frios e fortes, e não os achou. Me senti estranha, porque me via nela e ela não se achava em mim. Ela permaneceu assim por dias, emagreceu, se tornou fraca e parou de gritar.

Hoje ela me olhou de novo. Penteou o cabelo na minha frente e tirou o lenço vermelho amarrado no pescoço. Soltou os braços e dançou pra mim rindo. Ela me disse que iria voltar a cantar, e que se danem quem não gosta da voz dela. É o que restou:  Os gritos e a indignação que saía pela garganta e que nenhuma amígdala inflamada pôde conter.
Eu voltei ao normal, sem voz, só com olhares, repetindo tudo que ela faz, à minha maneira. Continuei presa na parede do quarto dela, com alguns detalhes pendurados em meu reflexo. 
Ela não, ela voltou a dançar e a gritar. E eu me senti aliviada.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

dois mil e oito;



Eu poderia ter feito minha unha hoje. Poderia ter lido um livro, ter escrito um texto, poderia ter escutado qualquer música. Mas resolvi me lembrar de coisas que só fazem doer a alma.
É que o ano de dois mil e oito foi crucial no futuro que estou vivendo. O mundo de merda, na cidade cheia de lixo que vivo. E a indiferença é a pior dor que pode acontecer a um ser humano. A indiferença perante as injustiças, perante o amor que carregamos dentro de nós é o pior castigo, a pior cruz que podemos carregar nas costas.

Há um prazer gigantesco no ser humano em ver o outro sofrer né? Como se quem vê o outro sofrendo nunca tivesse passado por uma dor. Depois ninguém entende porque as pessoas bebem, porque as pessoas usam drogas, porque as pessoas entram em depressão. Só faltam rir da dor dos outros, e parece que dor não tem memória né? Você sente dor num dia, no outro faz doer a carne, o sangue, o músculo debaixo da pele. É um prazer que sorrisos maliciosos na cara deixam claro o sadismo do ser humano em ver outro sofrer. é isso.
E aí eu falo, falo, falo do ser humano, mas o mundo é uma bosta. Grande. Que fede. Você machuca, eu machuco, todo mundo sai dolorido dessa merda toda. Dessa cidade cinza.
Já dizia muito bem Criolo, “não existe amor em sp”. Não existe mesmo. E não pago pra ninguém provar.

Eu acendo um cigarro, e meu cinzeiro na janela está cheio de água por causa da chuva na cidade. Assim é mais fácil, apaga tudo facilmente. Queria uma máquina para apagar tudo de uma vez. Eu deito e não esqueço, sofro sozinha perante minha inutilidade nesse mundo. Saio pra beber uma cerveja, ninguém quer saber de educação. Educação pra quê? Sorrisos para que? Amor pra quem? É uma dor que se sustenta por anos, e ninguém um dia irá entender o que é saudade, ninguém um dia irá entender o que é a falta de alguém que está vivo e passa reto por você como se você não existisse. Ninguém irá entender a dor que não te deixa dormir a noite. Porque o peito dói. O coração dói. A cabeça dói. A alma dói.

É que o ano de dois mil e oito foi crucial para o futuro que estou vivendo. Um futuro presente na dor de todos os dias. Um presente que não enxerga um futuro melhor. É que dói.
E posso sair de fim-de-semana, e esquecer por horas a dor. Posso não mencionar seu nome por uma semana ou duas. Mas a realidade sempre te encontra. Então pego minha xicara de café, alimento um pouco mais minha gastrite nervosa, quem sabe ela não me tira desse mundo egoísta, desse mundo de dor, desse mundo de injustiça.

Na verdade, acho que Criolo estava errado, não existe amor em sp... não existe amor no mundo. É isso, não existe, nada, não há sentido em nada. Enquanto ninguém se levantar e se dar conta de que tudo está de ponta cabeça e errado, não existe nada. Quem me dera nós não existíssemos. Se você não existisse, talvez não doesse tanto. Mas se você não existisse, eu não estaria aqui. É isso, feche as portas. Feche os olhos. O mundo não merece as palavras dos poetas entorpecidos de esperança, entorpecidos de amor. Mesmo porque, amor não existe.
Essa dor é psicológica. Essa dor nunca passará enquanto a cabeça não acreditar que você não existe. Nada existe. É isso. Nada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Me deixa?


- Agora, por favor, me deixa um pouco?
- Deixei. Deixei porque estou cansada de recomeçar tudo. Cansada de passar por tudo. Cansada de comparar tudo. Deixei porque estou cansada de grosserias, cansada de cobranças, cansada de regras.
Eu deixei porque estou cansada do que me torno quando estou com alguém e cansada do que desconheço no espelho.
Eu deixei porque cansei do apego. Cansei do desasossego, cansei da solidão compartilhada.
Deixei porque cansei de não me entender quando digo palavras formadas por duas letras: "oi", "ok", "tá".
Cansei do brilho do começo e a ironia e sarcasmo do final. E de ser comparada com todas as garotas fúteis do mundo aí fora.
Eu deixei porque cansei de me tornar alguém que você gostaria que eu fosse.
E me cansei dos sorrisos. Cansei do primeiro beijo, do primeiro sexo, da primeira briga, do primeiro segredo, do primeiro "eu te amo".
Cansei de todas as fases, de todas as frases, de todas as mensagens. E me cansei de brigar comigo mesma, esquecer as frases, apagar as mensagens.
Eu deixei porque cansei de caminhar, cansei de procurar, cansei de olhar, cansei do amor e principalmente, deixei por não conseguir mais amar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

chocolate



Eu não peço muito, acredito. É que talvez eu não tenha percebido que meu pouco pode querer um muito seu. Eu posso não ter percebido como o mundo gira ao meu redor, e não dentro de mim. Eu posso não ter percebido como as pessoas sofrem e sentem dor ao meu redor, mas acredito, não é muito o que peço.
Uma tarde livre, um chocolate de presente, um beijo no rosto, uma pergunta. Posso andar pela casa descalça no calor do verão, e continuo girando com os meus pés e minhas mãos abertas, faço um penteado estranho no cabelo, tento não me importar.
Mas eu me importo, e eu não sei onde isso me levará algum dia. Mas eu simplesmente me importo, e sangro a cada importância. Me disseram uma vez que mesmo com todos os problemas que temos com nossa família, é ela que tá ali, pra nos lembrar de onde viemos, ela que está ali, pra nos suportar quando caímos, independente da forma, não a escolhemos, mas viemos com ela por algum motivo não? E você pode me dizer que amigos são a família que escolhemos, ás vezes eu acho que não. Mas talvez eu não tenha percebido as coisas como elas são.
Então, se eu digo que não é muito o que peço, eu te digo a verdade. Dentro de várias mentiras contadas por bocas cruéis, eu te digo a verdade, acredite. Não suporto promessas, porque eu também não sou boa em cumpri-las. Mas exijo respeito, e quem sabe uma brincadeira aqui e ali, que não me doa. Gosto de abraços, dos mais diversos, e de beijos também, do pé à cabeça, de uma mão à outra. E sorrisos são capazes de iluminar um dia nublado, sorrisos e dedos sujos de chocolate, um flor branca roubada de um jardim, um pedido de dança no meio da manhã, enquanto cozinhamos. Não é muito quando peço um pedaço dos seus segredos, ou de suas confissões. Não deve ser muito pedir um oi ou um tchau. Talvez seja muito uma ligação me alegrando, ou um obrigado quando eu te ajudo.
Mas acredite, é como um “amigo” meu diz: não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam.