sábado, 30 de julho de 2011

A do espelho

Nesses dias sem cigarro tudo o que ela pode fazer é com muita paciência. Desde estas palavras digitadas aqui, e em cada erro uma correção para remediá-los. Ela se levanta e anda calmamente pelo quarto, com os dedos finos, enquanto ouve uma cantora de Jazz no seu computador, ela agarra o celular com uma ferocidade tão grande quanto um leão faminto e sedento por vida fresca na sua boca. Ah, era apenas o seu amigo lembrando-a que ele não a esquecera. Os dedos se voltam então, saltitando pela bancada cheia de livros empoeirados para a caixa de remédio. Droga, já se passaram 30 minutos do horário de toma-los. E com um gole ela ingere a cápsula que possui o estranho poder de tirá-la deste mundo de dor física e transportá-la para um mundo de sonhos. A música acabou e eu nem percebi. Eu não sou ela, nem ela eu. Quem canta é uma desconhecida achada em algum vídeo de algum amigo de algum primo meu, ou dela.
Ela passa os dedos por detrás da orelha, levando com eles um pedaço de cabelo, enquanto ri e olha pra baixo, pensando em como é inútil a sua vida e como são inúteis essas palavras. Eu me identifico com ela e como ela se inspira na minha leitura. Passa então os dedos de unhas tão vermelhas quanto sua boca sob a capa lisa e de mesma cor das unhas do livro que descreve poucos anos perto da solidão que a assola por meses. Olhando para baixo, piscando uma ou duas vezes, rindo sozinha... ela vai levando o pé direito para o lado, ensaiando passos de ballet contemporâneo que há tanto tempo não vem praticando. E então ela para, olha para si mesma no espelho, absorta de tanta futilidade, e decide terminar essas linhas que eu mesma não sei como finalizar...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A outra

Você deveria ter desaparecido naquelas ondas dentro daquele verão gelado que selou tudo o que poderíamos ter sido um dia.
E eu acho que é assim, que é dessa forma que as coisas funcionam. Existem pessoas e pessoas. Pessoas que são moldadas para se encaixarem em nós, e pessoas que seriam perfeitas para nós, mas simplesmente não são. E nunca será. E então do nada aparece uma garota que eu não daria nada por ela, que não pertencia ao seu mundo. E eu quero morrer de cíume, quero mata-la, quero provar que sou mil vezes melhor que ela, faço de tudo, exponho, me jogo, imploro. E com um sorriso ela te ganha. E o pior, ela é tão legal comigo que a minha raiva se transfere pra você, e eu desejo então que você tivesse desaparecido nas ondas que quase te arrastaram naquele verão gelado.
Fazem meses que eu não te vejo, e não há nada que me acalme, nada que apague das minhas memórias por acontecimentos nunca antes acontecidos, que um dia poderíamos ter sido algo, e o que seríamos? Se tivessem nos moldado certo, para que durasse nem que fosse um segundo sequer de amor...
Cara, você tem muita sorte de ter ela, porque se não existisse o anjo que ela representa na sua vida, você seria só mais um...
E quem sabe eu seja o anjo de alguém nesse mundo afora. Vou ficar bem longe do mar, porque assim posso tentar esquecer o muleque que você era,
e o homem feito que se tornou com a presença de umaverdadeira mulher na sua vida.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Inverno

Comeu um pedaço de chocolate, impossibilitada de beber por causa da quantidade de remédios que estava sendo obrigada a ingerir no seu corpo delicado. Um pedaço apenas de chocolate em uma noite fria e solitária em que as mãos não aguentam permanecer descobertas sou sozinhas. Da sua boca saía uma fumaça quase tão hipnótica quanto a do cigarro que acenderia daqui a dois minutos. Era o charme do inverno nas bocas vermelhas e femininas que tragavam cigarros como se traga almas na solidão. No pescoço, um cachecol verde que combinava com as unhas prestes a serem roídas de tanto nervosismo. Mais um pedaço de chocolate e um esfregar de mãos que disfarçava a angústia que todos percebiam na garota solitária encostada no muro ás nove horas da noite de um sábado gelado. Engoliu um dos remédios e acendeu o cigarro, eram trinta minutos de atraso. Ela queria apenas conversar e esclarecer sua ausência que completava mais de um ano. Não, ela não ligava para datas como as outras garotas, assim como ela não ligava quando não retornavam alguma ligação, ou quando mesmo depois de uma noite de juras de amor nem uma mensagem era enviada pra ela. Não, ela não era igual às outras, e talvez esse tivesse sido o motivo da sua fuga, e que na verdade, ela esperou exatamente 436 dias para entender a si mesma. O cigarro já se apagava em seus dedos, e somente mais um trago, apenas mais um para espera-lo, e se ele não chegar até o fim deste, não... do próximo cigarro, irei embora. Como era reconfortante enganar a si mesma, assim como se enganou todos esses meses fugindo de caras sorridentes que poderiam roubar seu coração. Se enganou que talvez por uma semana o tivessem feito, mas se enganou tão bem que procurava nos olhos castanhos o que nunca encontraria em olhos como aqueles. Se enganou tão bem que procurou graça e liberdade ao invés de estabilidade. Fugia de sentimentos, fugia dos riscos de algo permanente, queria a liberdade e assim, se livrar como um pássaro liberto das algemas que um antigo amor a prendia diariamente, e toda noite em todos os sonhos. Não negava que sentia falta de se apaixonar com toda a graça da curiosidade e descoberta do novo, mas não há novo enquanto o antigo permanece. Apagou o último cigarro do maço e enxugou uma lágrima enquanto um grupo de amigos passavam por ela com cheiro de álcool ou algo parecido. Ele não viria. E ela não ligaria para ele para ter essa certeza.

Passaria um mês, no aniversário dela, e ele entraria em contato, com um remorso influenciado pelo seu amigo a encontra-la. Com orgulho se fez de desentendido, como quem não queria nada e perguntou por ela no outro lado da linha. Ficou estático e entendeu tudo, todos os motivos ... e tremeu as mãos a ponto de deixar despencar o telefone. Um mês atrás ela queria se desculpar, ela queria entender o que aconteceu com os dois, perdoar, ser perdoada. Um mês atrás ela queria aliviar a dor que sentia não somente da perda do outro, mas da perda que estava acontecendo com ela mesma, a perda de si, que os remédios apenas adiavam. Um mês atrás ela queria se despedir.

E o que restou a ele foi somente um grito sufocado e o endereço da igreja que aconteceria a missa do sétimo dia.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cap. V

O dia em que organizei minha mudança foi o mais difícil dos últimos tempos. Tive que empacotar tudo esperando pelo que vinha no futuro, em um lugar novo, com pessoas novas e um emprego de verdade. Não que os antigos não tenham sido, eram até mais reais que o atual, mas esse é como um resultado de anos que passei estudando, metade deles com sua presença em minha vida, e outra metade com sua ausência me fazendo falta.
Eu empacotei roupas, objetos e perfumes e cheguei na caixa colorida, em que guardo todas as cartas de amigos e amores perdidos nos anos da minha solidão coletiva. Achei essas cartas e esses pensamentos que nunca te enviei, e claro, você provavelmente deve estar em outro país. Sempre foi seu sonho... sonhos? Como cito meus sonhos nessas cartas adolescentes que jurei nunca te enviar, com meus sentimentos infantis e o esquecimento que se nega em não me abandonar.
Encontrei a carta que você me escreveu, a única, e não me refiro ao papel em branco que você me entregou no show de samba, dizendo pra você... uma carta de amor em branco. O que eu encontrei  refletia bem mais o que você sentia por mim, era uma carta um dia após a prova da usp. Aquela prova que terminamos e nos encontramos, jurando não comentar sobre nenhuma questão de matemática ou coisas afins que eu sempre odiei e você sempre foi bem. Aquele seu abraço dizendo que tudo ficaria bem eu não me esqueço até hoje. Me acompanhando até a rua augusta (sempre ela) para eu me encontrar com o meu namorado, e como vocês eram amigos naquele tempo, e comemorar o fim de um ano exaustivo de estudos que me provariam em um dia o que nunca podem me provar em anos. Provas e questões acerca de temas que não fizeram mais parte da minha vida daquele dia em diante. Ás 20h em ponto, daquele domingo de lágrimas eu fui conferir minha prova na lan house, com um copo de cerveja na mão..... e não me lembro de mais nada.
As lágrimas caiam tão rapidamente do meu rosto no mesmo ritmo que a banda de ska tocava no bar ao lado. Cada pessoa e cada cigarro que permanecia ao meu lado era um abismo que eu queria me afundar cada vez mais. Um ano jogado no lixo, um ano de sonhos que nunca poderiam se realizar, e então eu cai. Cai tão profundamente em mim mesma que já não me recordo de mais nada, apenas dele me segurando, e dizendo palavras que me soam gringas na memória. E você me segurando enquanto ele ia fazer não sei o que. Você me segurava e abraçava, enxugava minhas lágrimas e depois acariciando meus cabelos me dizia que tudo ficaria bem, que aquilo não era o fim. Eu não escutava, não escutava ninguém. Queria cair mais profundamente naquela solidão e desilusão que me assolava. Não tinha voz para gritar, nem olhos para abrir. E fui embora, não olhei para trás, não te dei parabéns pelo seu sucesso na prova, não me lembrei de você, fiquei em mim, parada, estática, morta.
E no dia seguinte você me enviou o email, nas primeiras horas do dia, em que tive força de aguentar as noticias do dia anterior. E você me xingou no email, com esse seu jeito grosso e sincero que só você consegue ter. Era o que eu  precisava ouvir, era o que precisava para continuar, e acredito que se não fosse pelas pelavras grossa e ao mesmo tempo reconfortantes, eu não estaria empacotando minhas coisas para sair de casa depois de tantos anos estudando o que me movia pra frente sem você. Porque foi isso que me moveu, a credibilidade que eu sabia que no fundo você sempre teve por mim, mesmo dizendo, anos mais tarde que era minha culpa não ter ido estudar com você, apenas para me ver vermelha de raiva, como você gostava tanto.
Eu juro que senti vontade de queimar essas cartas, e esquecer de vez meu passado que remete a você e seguir em frente, mas no fundo eu sei que não quero esquecer um minuto sequer que passamos juntos, e talvez esse seja o motivo das cartas que escrevi clandestinamente a você durante todos esses anos. Eu sei que um dia você vai me perdoar por eu ter exposto nossa vida... no fundo, você vai me perdoar, e mesmo que não assume isso, não vai mais fazer diferença no que somos hoje. Hoje não é mais aquele café ou aquele tapa na minha mão quando eu acendia o cigarro, hoje é distância, e uma certeza de quem em algum lugar do globo você deve estar rindo dessa lembrança que acabei de descrever.

Ressaca

Entre conversas de botequins, poesias e canções.
Um cigarro aqui, outro ali, um conhaque, uma cerveja e quando menos se percebe, você já esqueceu a angústia que só voltará na ressaca do dia seguinte.
Ressaca moral. aquela bem pior de todos os relacionamentos humanos e universais.

domingo, 17 de julho de 2011

Cap. IV

Tenho fios em todo o meu quarto, fios que conectam vidas, conectam instrumentos. Aparelhos para cabelos, aparelhos para falar, aparelhos para escrever, ler, ouvir, fios e mais fios que não possuímos tantas tomadas para ligar tudo numa coisa só. E então acabou a luz!
O que fazer? Como fazer? Quando irei falar com você? Se meus dias eu passo a te esperar, para combinarmos um café ou um pulo rápido na paulista para dizermos: como vai você?
Conversas íntimas sobre psicologia e filosofia em meio a tanto caos, tanta alegria e tantos sentimentos dentro de uma avenida só. Não posso descreve-la assim como descrevo você, pois cada linha da avenida, cada prédio e o sol que se põe representam cada gesto e careta que você transforma em poesia.
E eu trouxe o telefone, preso por um fio da tomada da sala, disquei o número que me levaria a você e disse (como disse depois por tantos anos): eu preciso conversar, eu preciso sair.
Você topou, você me acompanhava, e saímos sem rumo, ou melhor, com um rumo: avenida paulista.
Andamos, retornamos, entramos em cada rua, por entre prédios, subimos no bar daquele lá, vimos a vista e você me falava sobre concretos, luzes, jardins, e planos para o ano em que um prédio somente seria o resto da sua vida.
Encontramos nossos amigos, fomos ao cinema no falecido Belas Artes, tiramos fotos.
As fotos mais lindas que eu pude ter comigo. Éramos três, éramos dois, um. As pizzas, os cafés, e o azul do céu que combinava com o azul da sua roupa. O amarelo do sol que contrastava com o vermelho do seu rosto, que ficou tímido quando sem querer descobri um segredo seu. O dia estava acabando, e você como um bom amigo, fiel, me apoiou dizendo: você é linda para ele, e eu te apoio no término. Se havia algo ali, eu nunca percebi... se aquilo era intenção, eu não percebi. 
Só percebo que cada fio que encontro no meu quarto, sempre me levava até você, e se for a espera que me espera, estarei ali, esperando você nesse meu amor preso nos tempos da informática...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cap. III

Me encontro, me disfarço, contrato, retenho, feita, não te refaço. 
Os raios de sol fora da janela refletem no muro amarelo, que contrasta com o céu azul, limpo, sem nuvens, apenas um avião que passa riscando o limpo e leve que o azul me traz, e me pergunto se você estará lá, partindo pro México, pro Uruguai ou qualquer outro país da América Latina, desenhando riscos de concreto em ruas estreitas e antigas, enquanto mulheres passam com vestidos floridos, vermelhos, voando com os cabelos ao ar, soltando fumaças pelas bocas vermelhas e peles de ouro.
Hoje desfiz meu contrato e te procurei cinco dias depois daquele mês. Te procurei nas fumaças de outras bocas, procurei no negro de outros olhos que contrastam com a luz que você me trazia, na companhia dos fios de seus cabelos que me prendiam como grades livres de qualquer rancor. Desfiz meu contrato, entrei no banheiro, deitei na cama, escrevi, li, reli, esperei, esperei e esperei uma resposta. Fumei, traguei, bebi um vinho, um conhaque, uma cerveja, vodka, tequila... um café. Nenhuma fumaça me tirava a essência que você deixou em mim. Te esqueço em alguns corpos e outros copos. Te esqueço em luares e sons, em risos e beijos. E nas manhãs seguintes acordo com outros ao meu lado, enquando nos sonhos você me persegue.
Hoje desfiz meu contrato. Falei com ele ontem, e fazem anos que ele terminou comigo, e você esteve lá do meu lado, dizendo que minha saia verde e hippie era linda demais para uma pessoa que não me merecia. Meus amigos dizem a mesma coisa sobre você hoje, que sou sentimental demais para alguém que não tem a simples coragem de me dizer que me odeia, se você me odeia. Ou que me ama, mas nunca amou, não, nunca amou.
Desfiz meu contrato, e ai de meus amigos quando lerem isso, me dirão: esquece, apenas esquece.
Como se fosse simples o esquecer de alguém que recorda a noite com a minha saia verde, hippie e comprida, que vesti no show do Jorge Ben Jor, em que pulamos sem parar e você me rodava na ponta dos pés e me abraçava sem interesse algum, dizendo que eu estava linda demais para alguém que estava a kms de distância e que não me merecia. Como se fosse simples o esquecer do seu rosto incrédulo quando disse que não teríamos pizza de janta, mas miojo, feito com batatas e cenouras após uma noite de show do Jorge Ben Jor. Logo você, que cozinhava tão bem, logo você que me acompanhou em tantos restaurantes japoneses depois da aula. Como esquecer enquanto penso que poderia estar na fila do pão, e todos me olhariam pensando que eu te encontrei, e na verdade só penso que na realidade eu sou bem mais sentimental que você. 
Na verdade, sou bem mais sentimental do que eu mesma acreditava que pudesse ser.
Então trago mais um pouco do meu cigarro, de um masso velho e amassado que você odiava, e bebo mais um vinho, enquanto o céu escurece e os raios de sol vão embora, levando as cores do dia, enquanto o tempo insiste em não levar você de mim.

O tempo não tem fim, mas ele é o fim

Toma qualquer forma, enlouquece-me.
Mas não me deixes nesse abismo onde não possa te encontrar.
Oh senhor, é inexprimível, não posso viver sem a minha vida, não posso viver sem a minha alma.



Cheguei a conclusão de que o contrário do amor é um estado permanente de perplexidade.
A perplexidade ferida que te prende numa armadilha, de onde você só vai conseguir escapar com a ajuda de quem te abandonou.

A cada passo, a cada novo movimento, eu percebia que tinha me transformado num livro em branco,
não havia mais nada escrito em mim, só lembro de repente eu me perguntando:
Será que esquecer é a mesma coisa que ter perdido?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Cap. II

Meu pobre amigo, desculpe dizer aqui nossa história, sua história. Mas isso vem me abalando por anos que a cada vez que ando pelas calçadas da avenida paulista, ou cada vez que aperto com o meu dedo indicador o andar para aquele bar que fomos, no sesc, eu me lembro de você. E é uma recordação involuntária.
Não pense você que desejo todos os dias lembrar de como me olhava e fugia com os olhos para os prédios da avenida, me contando detalhes e nomes que você sabia que  eu desconhecia, só para rir da minha cara com um ar de desdém de quem entende mais sobre detalhes em cimentos do que eu. Não pense também que não entendo de detalhes. Me lembro de cada minuto na sua presença. O tapa na cara, esse eu não lembro, ou deveria lembrar, porque foi a última noite que passei com você, que já não fugia mais de mim com os seus olhos para detalhes em concreto. Fugia de mim como um homem. Fugia de mim com uma desculpa de um cigarro ou uma bebida que deixava seus olhos vermelhos. 
Vermelho de raiva, vermelho de cansaço, vermelho de loucura, mas nunca vermelho de lágrimas.
Meu pobre amigo, me desculpe dizer aqui nossa história. Mas acontece que isso vem me sufocando há exatamente 25 dias. Cada dia em cada passo em cada olhar. Cada dia em cada beijo que me toma, e não são seus lábios. Cada dia um cheiro que nunca é o seu, e confesso, não saberia identifica-lo pois a vontade de esquecer já não me deixa mais lembrar do que eu nunca tive. E nunca tive seu cheiro.
Dentre tantos que deitaram na minha cama, o suor escorrendo em sua testa na nossa primeira manhã (nunca tivemos noite, nunca) é o único cheiro que posso lembrar em você. E tantos, mas tantos, meu amigo, que abraçaram mais forte que você. Tantos me amaram mais profundamente que você. Perco as contas de tantos que me escreveram cartas, dedicaram poemas e músicas que você nunca teve o trabalho de pensar um dia em fazer para mim. Tantos me beijaram e me deram um prazer melhor que você.
Mas me perdoe o Chico Buarque, podem ser tantos, mas nenhum deles tinha aquela expressão que você, meu amigo, tinha.
De medo de dizer que tinha medo de me perder.
Meu pobre amigo, me desculpe dizer aqui nossa história. Mas é o único modo que vejo de conter minha angústia, de aquecer minha alma e alimentar minha esperança de que, quem sabe um dia, eu seja famosa, e vai que você me procura dizendo: porque você contou nossa história aqui?