quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

verão


Hoje eu consegui enxergar além dos prédios da cidade. Consegui enxergar os morros e os raios de sol tocando as árvores. Hoje consegui entender um fio dos meus sentimentos e em como somos tão vulneráveis.
Semana passada, absolutamente uma semana atrás, eu não conseguia dormir de tanto chorar. Chorava como a chuva que caia na cidade, todas as tardes de verão, caíam violentamente, com fúria, querendo varrer das ruas da cidade tudo que pudesse existir, como se as coisas fossem impuras.
As lágrimas escorriam no rosto como a chuva que desce pela janela dos carros. E inutilmente tentei secá-las, segurá-las, esquece-las.
E poderia dizer que, há uma semana atrás, estava eu, como a chuva que lava as almas e corações dos amantes de verão. E como toda chuva, o sol aparece depois, para secar qualquer resquício de dor.
Mas se o que eu esperava era um sol. Este apareceu. Esquentou e secou qualquer gota de chuva que alagava minha alma. Um sol que esquentava na pele. Mas queimava. Que sem cuidado, ardia, machucava. Dói. Um sol que surgia durante os meus dias, e dava lugar a noite com a sua chuva.
Mas é necessário lembrar e ter os pés no chão. O mesmo sol que me aqueceu é o que queimou com toda a sua força e egoísmo. Assim, desde a semana passada, passei meus dias, procurando na chuva, lavar meu rancor e desgosto do passado, e no sol, aquecendo as feridas da alma. Mas nenhum deles trouxe a cura das aflições de noites mal dormidas.
Um simples e velho ventilador no quarto acaba me trazendo mais paz do que qualquer evento da natureza. Uma máquina, um projeto que se repete de um lado ao outro.  E hoje, uma semana depois, absolutamente uma semana depois me sinto assim, como um objeto que se move de um lado ao outro, uma máquina de repetições de movimentos, e que não percebe que traz paz e tranquilidade para os outros e nunca a si mesma. E como um animal perdido em uma noite na cidade, percebo que estou fadada a isso, a me movimentar de um lado ao outro. De vez em quando, lavando as lágrimas na chuva, entorpecendo a alma de fumaça, sono, conhaque e suor. Acordando em dias de sol, queimando a pele, ardendo no calor de meus próprios desejos. E quase sempre, me esquecendo que nada cura, nada resolve, nada muda.

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