quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cap. VI

Pois é, nunca achei que chegaria esse dia. Ainda não chegou, é verdade, e até lá ainda tem muito chão, mas o dia tá marcado na agenda que repousa em cima da minha escrivaninha. Daqui duas semanas, e o que pode acontecer em duas semanas não é? É, muita coisa pode acontecer em duas semanas, tanto quanto aconteceram em uma noite só. Uma noite em que tudo começa, e uma noite em que tudo termina. Festas tão diferentes, com pessoas, gostos e graus de alcoolismo diferenciados.
Pois é, tem dias em que eu não me lembro de você, e ás vezes eu entendo como um sinal bom, assim exercito na minha memória, fico te caçando nas lembranças pra você não morrer assim facilmente. Já não me recordo tão facilmente de você quando passeio em certos lugares. Alguns pontos da avenida paulista não me lembram mais você, mas um outro cara qualquer, como os bancos do metrô, um parque na barra funda, uma estação no centro de são Paulo... ops, não, essa me lembra somente você. Mas entenda que sua importância já não é mais prioridade pra mim. Pensei até em parar de escrever essas linhas tortas e letras garranchadas pra você, mas não consigo, mesmo porque as vezes me pego pensando em você numa música ou outra, ou quando estou feliz e vejo uma janela subindo no meu computador dizendo que você está online. Me seguro todas as vezes para não implorar por um perdão seu, ou te xingar com todas as minhas forças pela sua infantilidade em agir assim comigo. Me pergunto como você agirá quando finalmente nos encontrarmos, será que irá fingir que eu não existo? Que eu não significo nada, nem signifiquei nada pra você? Será que irá me cumprimentar como se nada tivesse acontecido? Ou será que estará com alguém que eu sei que vou odiar? Fazem tantos anos...
Pois é, e hoje acabei que não me esqueci de me lembrar de ti um minuto sequer. Claro que eu digo que é tudo passado, que eu superei tudo e etc, etc., então se eu superei, porque não sigo em frente sem você? Me boicoto de novo dizendo a mim mesma que e o que eu preciso realmente é olhar nos seus olhos e ver que sim, você não se importa comigo. Sei que meus amigos querem me matar por isso, e dizem cada vez que leem essas linhas que eu me arrasto por alguém que não está nem aí pra mim, mas o que eu posso fazer? Pois é, o que eu posso fazer? Só me resta então lembrar de momentos como daquela noite em que eu me arrastei para você vir comigo naquela festa na praça da árvore (e antes não tivesse ido). Ainda me lembro de chegarmos numa casa onde não conhecíamos ninguém, depois de um dia todo de passeio pela avenida paulista. E claro, me lembro da mãe do dono da festa, embebedando todas as garotas da casa com tequila e vodka, e você claro, já estava vermelho das bebidas. O mesmo dia em que me disse que eu te entendia, te convencia, te fascinava... foi o mesmo dia em que, eu já naquelas de estar bamba e de olhos pequenos, sentei no seu colo para a brincadeira com um copo na mesa, eu não me lembro. Você já estava pra lá de Bagdá... e insiste em dizer que quem te beijou fui eu. Pois é, sinto-lhe dizer que a sua mão na minha nuca, me puxando para um primeiro beijo não corresponde ao que você afirma. E foi como fogos de artíficio, entre duas pessoas que não conseguem se desgrudar, como se houvesse um imã entre dois corpos opostos, que se completavam por segundos. Cada segundo parecia uma eternidade. Mas o que me recorda não é isso, não o beijo, desse eu me lembro como fiquei vermelha e com vergonha, estava beijando meu melhor amigo. E agora? É e agora....?
Pois é, um café da manhã, com café preto e cheirando a sábado amanhecido, com bafo de tequila e olhos cansados, corpos adormecidos esperando uma cama para repousar e esquecer dos acontecimentos. Quantos eu beijei e quis esquecer, quantos conheci e nem sequer me lembrava do nome. Mas com você foi diferente. Pois é, eu esperava que o capítulo que traduzisse o beijo fosse mais do que isso que escrevi em linhas tortas. Me desculpe, eu sei que foi uma noite especial, pra mim. Eu sei que foi inesquecível, pra mim. Eu estava ali, em um verão há muitos anos atrás, beijando meu amigo, que tanto tinha me ajudado, beijando alguém que eu tinha conhecido um ano atrás, beijando alguém que eu sei que não seria igual aos outros, e não foi. Pegando o metrô da zona sul em direção à zona norte, na linha azul que transporta tantas almas vazias de amor e sonhos. Eu era a sonhadora do dia, e tinha alguém para compartilhar aquilo comigo. Estávamos felizes com nossa vida nova e nem sequer percebemos que essa vida iria nos separar da mesma forma que nos juntou. Eu sinto saudades, eu sinto remorso, eu sinto um ar de nostalgia que me envolve toda manhã, quando abro meus olhos sozinha na minha cama, no meu colchão, sabendo que talvez nunca mais terei sua presença na minha vida. Sabendo que talvez, você nunca mais converse comigo. Me desculpe querido amigo, mas é assim, pois é, é assim, é um capitulo que expressa mais meu medo de te reencontrar do que recorda o dia em que nossa história de Dois começou. Nosso primeiro beijo, eu sentada no seu colo, na frente de todos e nenhuma vergonha em expressar algo que estava dentro de mim e dentro de você há algumas semanas. Tudo se encaixou perfeitamente, suas idéias, meus sonhos, nossos planos, que nunca tiveram lugar em nós Dois.
Pois é meu amigo, somos uma agora, cada um seguindo um caminho. Um pra lá, outro pra cá. Posso ter beijados tantos e tantos, mas daquela forma, não foi nenhum. E o que será de nós dois? Não há carta alguma que possa responder... eu não posso responder, e sei que você também não quer saber mais nada nesse capítulo. que por coincidência (ou não) possui o mesmo número da data do seu nascimento. Nascimento na minha vida como alguém que não quer (queria) ser apenas outra amiga...

Um comentário:

, disse...
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