quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

vermelho

É que me dói tanto que chega a sufocar. Sufoco assim, apertado, como as letras aqui digitadas em um fundo vermelho.
Ah, o vermelho. A cor dos sapatos vermelhos lido em algum conto do Caio, o Fernando. O vermelho. Vermelho que pinto nas unhas, vermelho das suas bochechas, vermelho da minha lingerie. Ah, e como me sufoca esse tormento, essas letras, esse vermelho, meu sentimento.
Sufoca e dói. E meus dedos compridos não seguram bem a caneta enquanto pratico o exercício diário de escrever o que sinto, naquela caderneta verde, velha, mofada. Fazem quantos anos?
Eu me peguei esses dias recitando sozinha pequenos versos que me remetiam a você. Que talvez eu pensasse que poderíamos ter tido tudo, e sermos nada, ou o contrário, termos nada e ter sido tudo. 
Mas você vive sua vida a cada segundo, provando pra todo mundo que o jeito e a forma de enxergar as coisas é o certo. E quantas vezes você me xingou quando eu fazia greve, e hoje, não sai de casa sem gritar uma frase de ordem. Ordem de greve, ordem de contraordem, ordem de revolução.
A revolução vermelha e pequeno burguesa que você tanto investe. Que você tanto vive. Isso é tudo pra você. Será tudo até quando, até você entender que sua vida não está presa nesse mundo pequeno social que você vive na classe média burguesa intelectual da maior universidade da américa latina. Mas essa é a forma que você tenta comprovar a todos, de que sua vida, é a melhor.
Mas querido, não, desquerido! Ninguém te entende. Eu posso dizer mil vezes que nunca o entenderei, e mesmo assim, acho que te entendo tão bem quanto as loiras, morenas, ruivas e todas que você procura (em vão) e não encontra. Elas não entendem, e os poucos que chegam perto de você pra entender, você expulsa. Expulsa da vida, dos sentimentos, do carinho, da atenção, de tudo. Egoísta. Poderia ter tido tudo, ter tido nada, mas escolheu ser normal. Covarde. Tanto quanto os que hoje você grita e xinga nas palavras de ordem.
E eu me peguei recitando que talvez pudesse ser tudo diferente, talvez pudesse ser apenas um sonho, para que eu pudesse um dia me desvencilhar de você. Para que eu pudesse um dia, de vez, matar essa saudade. Matar essa lembrança. Matar essa tristeza. Matar esse sentimento. Matar essa merda de destino que insiste em te colocar no meu caminho. No meio do caminho, voltando pra casa, você, me sorrindo, conversando, como se nada tivesse acontecido.
É, talvez o conhaque tenha resultado nisso. Nada aconteceu. Nada tenha sido eu. E ninguém irá entender o que eu quero dizer nessas palavras brancas em um fundo vermelho. Vermelho são os olhos enfim, que sufocam, doem, e não me deixam esquecer.


Um comentário:

, disse...
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