domingo, 1 de abril de 2012

do outono;

Em algum lugar da cidade, alguém ouve nesse exato momento, a mesma música que eu, que toca repetidamente nos corações aflitos.
E está frio, o que nos garante uma rodada de café, ou para os mais aventureiros, uma dose de conhaque. E então, alguém nesse exato momento, está dando um trago em alguma bebida reconfortante. O verão passou. Hoje as folhas caem de forma poética, colorindo a grama dos parques e cimento das ruas. Do cinza fez-se marrom. Do verde fez-se bege. Há uma constante variação de cores, que os meus olhos hoje conseguem enxergar.
E deveríamos ter o coração calmo, alegre, feliz.
Mas existem sentimentos, que eu não sei se os terei novamente. Deveria, mas ainda existe um coração.
E eu só penso no conhaque e no cigarro na sexta-feira anoitecida em São Paulo. Para os leigos: 
uma dose de solidão e esperança nos corações partidos...


segunda-feira, 19 de março de 2012

Apatia



Treslouca, insana, doente, psicótica, de vez em quando apática. 
Surtos de Vida são encontrados no bairro. 
Perde-se e procura uma saída. Fica, a festa nem começou.
O sangue brota das veias, o espelho brota da parede.
Todos se olham, se coçam, se beijam, se abraçam.
Surtos de Vida são encontrados na cidade.
Dança, dança e dança de pés descalços. Joga fora a menina. Pega a mulher.
As drogas são de graça. O amor tá sendo comprado.
Surtos de prazer são encontrados no quarto.

Fica, a festa tá só começando...

domingo, 18 de março de 2012

Para ler ouvindo Johnny Cash

You're someone else, I still right here...

Talvez você não acredite, mas minhas dores de amor estão se transformando em dores de não amor. Ou a  não existência desse. O que diria por um lado, algum amigo poeta perdido nas ruas de São Paulo, Ela está crescendo. Ou me veria nesse momento lendo frases soltas e garranchadas de outro amigo poeta jogado nas ruas de sampa, que as pessoas estão desesperadas por amor, por isso ele não existe.
Creio então, ou espero que seja apenas uma ilusão, de que a busca por amor não existe, não é busca, é obsessão, é preenchimento de lacunas do coração, da mente e do corpo.
Mas o desespero se torna tão aflito e grande, que a procura se torna algo perdido. E quem procura, acha. Acha sorrisos vazios, acha mentes fracas, acha terceiras intenções em batom vermelho e ilusão em desenhos e músculos nos braços. Mas acha, algo, todos acham. 
Eu coloco Johnny Cash no repeat, e tento em vão escrever linhas que poderiam transformar o turbilhão que havia em mim, em palavras bonitas para os outros curtirem. Mais uma sedução. 
Mas não há mais turbilhão. Não há mais borboletas na barriga. Não há mais mudança de olhar quando alguém chega em algum lugar. Há uma certa ausência de sentimentos. Mas o amor, eu sei que está ali.
Está guardado. Mas está porque se mostra em cada sorriso de bebê na rua, ou na chuva pingando no rosto. O amor está ali. Só que não pertence a terceiros, não mais.
E nunca me toquei que esse dia chegaria. Um dia que olharia para todos ao redor, bem resolvidos (ou fingindo que sim) e veria que não faço parte desse grupo. O grupo dos felizes, dos que procuram, dos que se contentam com pouco. O grupo dos que fazem seu tempo a todo tempo.
Passei a fase da raiva, a fase da farra, a fase da bebedeira, a fase do qualquer um.
Mas qualquer um já não é mais suficiente, qualquer um é qualquer coisa, um qualquer nada. Então me sento com os bem resolvidos, e dou risada da vida e de nossas desgraças. Bebo até a última gota do meu copo de conhaque, e olho um sorriso aqui, uma frase bem feita ali. Retoco o batom vermelho, me sento novamente na mesa, lembro de você em alguma frase perdida no tempo, imagino como você estaria ali, conversando, rindo, tentando fazer amizade, ou apenas me olhando.
E vejo casos antigos se resolvendo, situações que não suportaria uma, duas semanas atrás. Nego paixões vazias nas noites brilhantes de São Paulo. E me vejo indo dormir sozinha com antigos amores do meu lado, dividindo camas, pensamentos e risadas. E ficamos nisso, porque pessoas aparecem, e pessoas se vão.
Os "alguma coisa" permanecem, e procuro pra eles uma função no meu tempo e espaço que me sobra o coração. E eles preenchem perfeitamente cada espaço vazio que você deixou, os espaços das risadas, das conversas, das piadas, da beleza, da companhia. E só.
Mas não é suficiente, não é? E tudo vira um turbilhão a cada despedida. Tudo vira um maremoto a cada rancor ou cada alegria. 
Não é suficiente, e eu sinceramente não procuro respostas, muito menos perguntas. Não é suficiente e ponto final. E não é triste. Nem solitário. Só não é suficiente, como não será como qualquer um. 
Porque afinal, as pessoas mudam. E essa fase de estar sozinha, e estar bem. Fugindo do verdadeiro desespero que é procurar a qualquer forma, custo e drogas um amor, eu passo longe. É bom, é prazeroso.
E qualquer prazer, nos retorna a lembrança de que estamos vivos.
Talvez seja isso, quero me lembrar que estou viva cada vez que chegar fedendo cigarro e bebida e terceiras intenções em casa. Mas quero me deitar sozinha. 
Até o dia em que eu decidir tirar algumas fotografias do meu mural, vou me deitar sozinha.



segunda-feira, 12 de março de 2012

o mar;



Me fecho e corro tímida contra o mar. A correnteza é forte, e eu sei que se me derrubar, eu não levantarei.
Por isso mantenho-me firme e forte. E vou seguindo cada passo de uma vez. Braços cruzados na frente do corpo e cara fechada para assustar quem me quer mal.
Mas os bons eu assusto também. Já não faz mais diferença.
Há dias, semanas, talvez meses, isso já não faz mais diferença. Minha cara fechada ou sorrindo, não faz mais diferença. Porque as andorinhas seguem seu voo sem incomodar as gaivotas. E a minha intenção é seguir adiante sem incomodar ninguém. 
E me esqueço que de braços cruzados, não levanto meu voo. Continuo presa no chão, na areia, no mar.
As ondas vão e vêm, com um ritmo gostoso de quando você fazia parte da minha rotina.
Eu foco em mim. Me inspiro. Fecho a cara, e sigo.
Meus anos de inocência e voo livre se foram. Sobrou a penugem velha e desgastada... Me sobrou eu, pra mim. 
Sozinha. Olhando o mar, e todos que nele se perdem...
e todos que voltam. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Listas

Eu não sei o que é isso do mundo insistir em meu nome nunca aparecer numa lista de aprovação em alguma coisa que eu realmente quero. Também não sei o que é isso do mundo ter me feito mulher.
Parece coisa de provação em alguma aprovação. Parece que é mundo me dizendo Olha lá, você é mulher, nasceu em família pobre, na periferia, tem que se fuder pra aprender.
Essa coisa de ser mulher e só sofrer por amor, carregar o mundo nas costas e os sonhos na cabeça.
Eu não sei o que é isso, de ter que lutar muito para conseguir algo. Ter que disputar coisas com pessoas que nasceram em berço de ouro. Ter que estudar o dobro pra provar que é capaz.
Eu não sei o que é isso do mundo em ter meia dúzias de pessoas te dizendo que você não vai fazer ciências sociais porque a USP não é o seu lugar. Ou que você não vai ganhar uma bolsa de estudo na Cinemateca porque você não mora na vila madalena e tem tempo (contatos) suficientes pra isso. Isso do mundo em dizer que você não vai fazer cinema, porque você não é cult e alternativo para trabalhar na área, e educação e política não são importantes. Cultura popular não é importante. Cultura marginal não faz diferença.
Eu não sei o que é isso do mundo, em meio dúzia de pessoas decidindo o que você deve ou não fazer.
Não entrei na USP. Mas entrei na UNIFESP.
Não passei na Cinemateca, mas provei que eu era capacitada para tal, depois de um ano de provação.
E não será uma lista, ou uma dúzia de pessoas que irão me dizer que cultura marginal e educação na periferia não servem para o cinema.
Tenho dó dessa meia dúzia de pessoas. E tenho dó de quem se acha capacitado em dizer o que devo ser.
Não é vocês quem decidem. O sonho é meu, a cabeça é minha.
E eu não sei o motivo do mundo ter me feito mulher, nascida na periferia com idéias na cabeça e dedos para escrevê-las. Mas agradeço ao mundo. 
Porque me faz cair, porque me faz chorar, porque me faz sofrer.
E me faz lutar, e que demore anos. Eu não desisto.

domingo, 4 de março de 2012

Cap. XI

Poderia deitar minha cabeça aqui no travesseiro e tentar dormir, porque sei que conseguiria tranquilamente. Mas os dedos coçam para eu escrever, e olha que não é nem lá pros dias 9, 10 ou 11.
Datas são datas. E logo eu que sempre fui péssima com elas, não me esqueço dessa. Eu que nunca reparo em cortes de cabelo, barbas feitas, se engordou ou não...consigo reparar em você, cada ruga nova em seu rosto.
Logo eu, que tinha prometido dar um tempo com as cartas, estou aqui, escrevendo outra. E não é de dor hoje. Hoje não.
Dei um tempo no meu livro, aquele lá, dos personagens que se encontram todo ano, como se comemorassem a data em que se conheceram. Cômico ver que o que comemoro aqui, é data da nossa despedida, logo eu que nunca saberei a data em que nos conhecemos. Me faltou agendas e diários naquele tempo.
Dei um tempo na leitura, acendi um cigarro, e coloquei um cartola pra tocar. Fui refletir sobre o que tinha acontecido. Mas refletir o que? Não aconteceu nada, absolutamente, nada.
Ou teria acontecido? Eu não sei ao certo como entender o que a vida nos proporciona. Eu poderia estar feliz, poderia estar triste, poderia ter esperanças com você. Mas tenho esperanças em mim.
E não tenho inspiração para escrever. Logo você, que sempre foi minha inspiração, hoje a tirou de mim.
Eu olho aquela nossa foto no mural e penso como foi bom aquele dia. Nós três. E estávamos tão prontos para o futuro, tão seguros do que seríamos daqui pra frente, ou do que poderíamos conquistar. Eu era leve, usava branco e não conhecia maquiagens.
Hoje em dia, só tenho peças escuras no guarda-roupas e não saio de casa sem o lápis no olho ou um corretivo para as olheiras. A mancha abaixo dos olhos é sempre fruto de algumas lágrimas ou algum porre de conhaque.
E nunca tive tantos amigos confidentes, como tenho hoje, depois de você. É que você era único. Sabia tudo de mim, me entendia como ninguém. E depois de você, todos os homens parecem ser iguais. E muitos se mostraram mais amigos do que qualquer outra coisa. E descobri que muitas pessoas sofrem do mesmo que eu: ir para o futuro, tentando encontrar, ou esperando o passado.
E hoje, eu poderia estar triste, chorar, e perceber como me lembro de você em cada detalhe de todos os dias da minha vida. E esses meses, não foram nada fáceis. Mas hoje, logo eu que poderia me lembrar disso tudo, hoje, eu ando pra frente. Porque o fato de você demonstrar que está aqui, me faz feliz. Você me responder nem que seja um seco e frio "obrigado", me faz feliz. E não é feliz por você, ou por nós. Mas por mim.
Porque sei que logo mais, não terei mais o sorriso bobo e sincero como eu tenho com você ao meu lado na nossa fotografia de 4 anos atrás. Mas terei um sorriso meu, um sorriso novo. E sei que seguirei meu futuro, esperando o futuro. Lembrando de nós no passado, como se o passado fosse uma parede em que eu me apoiasse quando talvez me desequilibrasse. Não seria mais o chão, a base que me sustenta.
Ainda és, ainda é o chão que me sustenta todos os dias nessa caminhada. Mas sei que um dia, seremos só a parede de cada um, com fotografias e quadros pendurados, em um corredor, em direção a um futuro. Um futuro lindo, e separado. E feliz.

quinta-feira, 1 de março de 2012

teatro de ilusões

Então se afunde em drogas, em bebidas, em mulheres que não se lembra rosto, nome, ilusão, olhar.
Se afunde em amargura. Em culpa e depressão.
Volte pro passado a cada ressaca, volte pros medos a cada noite, volte pra incerteza a cada acordar.
Se afunde.
Só não me faça de platéia, no seu espetáculo particular.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

permita-se

Encha os pulmões, grite. 
Solte os braços, cante. 
Se levante, pule, esqueça, se lembre. 
Mande a merda quem te julga, quem te oprime. 
Lute pelo que acredita e faça justiça. 
Não se deixe ser usado, ousa, 
arrisque, sonhe, faça acontecer. 
E acima de tudo, 
permita-se.






quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

da mulher

É difícil para quem não consegue enxergar, que,
a beleza da mulher não está nos decotes ousados, ou no tamanho dos seios e bundas e bocas.
Mas está no olhar que ela solta quando passa, na confiança que ela tem em sorrir mesmo depois que acabou de comer, ou está na forma como solta os cachos de cabelo castanho ao sair de casa, e os prende com uma caneta ao subir uma ladeira.
Não está na quantidade de maquiagem, mas no momento em que você decide usá-las ou não.
É difícil para quem não consegue enxergar que,
a beleza da mulher não está em ser a mais meiga ou a mais sedutora. Mas está em ser e se sentir bem com ela mesma e que a sabedoria mesmo é vestir uma camiseta velha e surrada pra dormir. E se olhar no espelho e pensar que não terminou de ler o capítulo do livro na cabeceira, ou que com duas mãos consegue carregar um mundo de responsabilidade. Está em acordar de manhã e saber o que tem que ser, o que tem que saber, o que tem que fazer e como irá lutar.
É difícil e poucas conseguem enxergar, dos homens, poucos irão entender, e das mulheres,
as que não conseguem ver, sentir, ser...  chamam as outras de biscate.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

uma noite só;

Cansei de ser mulher de uma noite só.
Cansei das cores opacas e do seu senso de humor barato.
Cansei do seu olhar vagabundo, e do carnaval deixado de lado!
Cansei dos sorrisos bobos, e dos beijos em garotas estranhas ao meu lado.
Cansei de ser a boba, a amiga, a conselheira, um retrato.
Cansei de ser assim, ser você, em tons e fotografias,
em um filme desbotado.

quarta-feira de cinzas

Tenho em mim, uma quase certeza misturada com medo, de que no fundo, todas as pessoas procuram viver uma grande história de amor.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cap. X

Tentei dormir, mas claro, não consegui. Um pássaro lá fora me acordou, na verdade, ele interrompeu minha tentativa de dormir em meio a tantas lágrimas.
Porque dói tanto? Uma dor tão insuportável. Uma dor que sufoca, que mata, que prende, que mutila, corta a pele, impede de respirar, impede de enxergar.
Me lembrei no dia oito que era quase dia dez. Que bobagem a minha, outro dia dez. Outro que se vai. Outro que deixei ir. Outro que não soube amar.
Essa semana não pintei minhas unhas de vermelho, nem de azul. As deixei claras, queria mudar. Essa semana voltei a estudar, quis dar um foco na minha vida. É que vejo todos ao meu redor dando um sentido às suas vidas, e eu continuo parada aqui, onde você me abandonou. E não adianta vir me dizer que a culpa é minha. Eu sei com toda a clareza que a culpa é minha.
Onde parei nas nossas lembranças? Não sei, não consigo pensar direito ás duas e meia da manhã. Não tenho comigo um copo de conhaque, ainda mais nesse calor insuportável. Mas tenho um cigarro. Isso sempre ajuda.
Eu sei que você não gosta que eu fume. Mas ultimamente os cigarros têm sido os meus melhores companheiros, não só os caretas, como você bem sabe. E de novo me lembrei como você é hipócrita com essas coisas. 
Ontem foi a calourada. E eu ia lá só pra te ver. Desisti. Ainda bem, afinal, quantas calouradas já não passamos juntos? E aquela que você me convidou, com o maracatu no centro de São Paulo? É, eu me lembro bem desses encontros, e você, se lembra? Sempre que passo por aquelas ruas, me lembro de nós, lembro das batidas, lembro de você sorrindo, feliz, porque tinha entrado na faculdade. Me lembro de você dançando, e cantando as músicas da faculdade, depois se virando pra mim e dizendo "bem feito, quem mandou não passar na usp?". Ah, como você sempre foi grosso, isso nunca mudará.
Aqueles dias de verão não existiam namorados, não existiam amigos para você sentir saudades, não existia pressão, nem ciumes, nem mentiras, nem paixões, esquecimentos, brigas... aqueles dias eram reservados para nós dois. E acreditávamos nisso.
A luz do meu quarto queimou hoje. E procurar o cigarro no escuro dá muito trabalho. Não tanto quanto o passado, que me persegue, me assusta, me dói. Eu poderia namorar qualquer cara aqui fora, mas nenhum é assim, nenhum tem seu rosto, seus olhos, sua acidez nas palavras. Alguns tentam, é verdade, mas não conseguem ser você. E pensar que poderíamos ter sido tudo. Bom, você está sendo a cada vez que vejo fotografias novas suas. Você engordou nesses meses que estamos sem se falar, e isso é um elogio, pois está cada vez mais bonito, e cada vez menos sorridente.
o cigarro apagou, e eu sei que devria ir dormir, mas pra quê? Pra sonhar mais uma vez contigo, nesse aniversário da nossa briga? Eu sei que amanhã irei acordar com a cara inchada (de novo) e todos irão me perguntar se minha ressaca foi de uma noite boa pelo menos. Não, não foi. Não está sendo bom, não está sendo fácil, está dolorido. E toda vez que encosto a cabeça no travesseiro, eu choro por alguns minutos, até os olhos arderem tanto, a ponto de eu não conseguir abri-los, e assim, adormecer. Esse tem sido meu melhor remédio para a insônia. As lágrimas.
E meu cigarro apagou. O cigarro que você tanto odeia, o cigarro que você roubou da minha mão, aquele dia, anos atrás, no centro de São Paulo. Você deu um trago, apagou, jogou no chão. Me puxou com força para perto do seu corpo suado e cansado do dia que me convidou a dividir contigo. Me jogou contra a parede do restaurante que dentro, tocava sertanejo, deu uma risada da situação, da música, se nós dois juntos ali, tarde da noite em São Paulo. E me beijou, com força. Um beijo que durou minutos, horas.
Um beijo que eu não sei mais qual é o gosto. Porque o gosto não vinha da sua boca, vinha de você por inteiro, disponível ali, aquela noite pra mim. Estávamos começando algo lindo. E eu não se, eu pudesse adivinhar tudo o que restaria de nós hoje, não sei se faria tudo de novo. Acho que sim. Porque não me arrependo de um minuto sequer que passei contigo.
Me arrependo do fim. E isso, meu rosto inchado, as lágrimas caindo no teclado, meu coração dolorido e o travesseiro, sabem muito bem como me arrependo da forma como tudo terminou.
Parabéns pelos meses sem lembrar que eu existo. Queria ter essa facilidade em te esquecer. Desculpe, eu queria muito ter. mas sinto sua falta. É, eu sinto.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sol e Chuva



É que quando a saudade bate, meu amigo, não tem pra onde correr, não tem pra onde fugir, muito menos tentar se esconder. Ela pode te alcançar em qualquer lugar. Na rua, na escola, carro, ônibus, a pé.
Mas o lugar preferido dela te achar, é a noite, no quarto. Saudade impiedosa, essa. Não há razão que a impeça.
Quando ela bate, não liga para classe social, cor da pele, gênero, religião ou time de futebol. Ela bate e não avisa antes.
E não adianta amigo, escuta o que eu te falo, não adianta você tentar fugir, ela não vai te deixar. E vai doer sim se você não matá-la. Ela vai sugar suas memórias, te desviar em cada lugar dos seus pensamentos, para você só pensar nela, na saudade. Vai doer no peito se você não se livrar dela.
Tem dias que ela vem, bate e vai embora rápido, tem dias que ela persiste até você se tocar que precisa fazer algo. E ai daqueles que não possuem a sorte de matá-la com uma simples ligação. Ai daqueles que não podem acabar com essa angústia com um abraço.
É que a saudade anda se aproveitando dessa coisa besta da sociedade de impedir que os outros se deixem ter saudade ou permitem que os outros a matem com um sorriso. A saudade sabe disso, e se aproveita pra doer nos homens e mulheres. 
Ela anda muito apressada, dolorida, cruel. Saudade anda solitária nesses dias estranhos de sol e chuva. 
Coitada.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Promessas

"Ah, you fake just like a woman, yes, you do. You make love just like a woman, yes, you do. Then you ache just like a woman... But you break just like a little girl." (Dylan)


Prometi que não iria mais chorar, e desde então choro feito uma garotinha toda noite.
Também cheguei a prometer que não ia me importar, mas carrego em mim todas as dores desse mundo morto.
Pedir para que eu prometa que ficarei bem... posso lhe prometer.
Posso prometer mais que isso, que ficarei bem, que cuidarei de mim, que esquecerei, que seguirei minha vida, um dia completo de cada vez, e não em sentimentos pela metade, por pessoas pela metade.
Eu prometo,
mas não prometo cumprir.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Um brinde à estupidez



A vida moderna me adoece. Levanto-me e vejo como o mundo acordou, e eu só queria dormir a ter que presenciar isso tudo. A ressaca moral das atitudes do passado nos transtorna. Do mundo, restam duas partes:
De um lado, egoísmo, ganância, estupidez e ignorância. De outro, resistência e luta.
Viver já não é melhor que sonhar. As pessoas morrem e possuem seus corpos estirados no chão, como se nada mais houvesse pra fazer. Outras pessoas já não podem mais ter o direito sobre o uso de seus corpos nus e mutilados pelo sistema.

Na noite paulistana, inteligência é medida pela marca da sua camisa xadrez e pelo tamanho do seu decote e saia. Quem desce até o chão e se levanta, aguenta o peso dos dias de cinzas?
Fomos educados para amar e procriar em meio a cegos que não conseguem enxergar além de seu cabresto.
Os jovens se vestem cada vez mais iguais, andam iguais, falam iguais e reproduzem tudo que leem, como iguais, aos seus perfis nas redes sociais.
E na balada ainda vendem ilusões em garrafas de vidro, e solidão nas fumaças ilegais em cabines do banheiro.

Uma lágrima é derramada por todos que hoje resistem, lutam e caem perante a sujeira que é viver em um mundo revoltante, um mundo sem volta. Apático, seco, frio, triste. Um mundo ocupado em se fazer mostrar autoritário e certo.
E eu? Pegue um copo, e celebre comigo o caos do mundo. Eu continuo no desejo de permanecer no errado

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

lenço



Ela sempre foi do tipo que superava tudo, e aos 7 anos de idade teve que fazer operação nas amigdalas por causa das dores de garganta. As dores vinham acompanhadas de febre, dor de cabeça, tremores e náuseas. Depois da operação, ela obteve a voz aguda conhecida por todos. Eu, sempre com o meu olhar, nunca precisei gritar pelo que queria. Muitos usavam suas táticas para conseguir as coisas, choravam, argumentavam, chantageavam. E ela, mesmo com a sua voz fina feito gralha, falava, gritava, contestava. Gritava mais do que deveria é verdade, mas gritava com os pulmões e coração. Nunca fui assim, sempre abaixei a cabeça e chorei aos sete cantos pelo que eu queria. Quando a vida a derrubava, ela tentava de cabeça erguida passar por cima, se levantar. Eu sempre continuei caída. Viagens, traições, mortes de parentes e amigos nunca a derrubaram. Comigo, era só um fora de alguém, eu já chorava por causa disso. Ao invés de derrubarem, ela gritava, e todo mundo era obrigado a ouvir. Até eu mesma tive que escutar os lamentos dela pelo mundo injusto que vivíamos.

Lembro-me de uma vez, em que ela gritou no metrô por causa de uma mulher que carregava uma criança no colo, ás 8h00 da manhã na estação da sé, e ninguém se levantava para dar lugar àquela senhora e seu filho. Ela pediu a um homem que fingia dormir, para que se levantasse. Esse se negou. Em um momento como eu nunca tinha visto, suas mãos tremiam de nervoso e então, ela gritou. Um grito oco, de raiva e indignação. Ela sempre teve isso. Eu não.
Deve ser tudo trauma da cirurgia de amígdala, que fez aos 7 anos. Deve ser  trauma por tudo que sempre sonhou, sempre ter dado errado. Trauma de tudo que planejava, ter que mudar em cima da hora, porque nada saía como ela queria. E ela se adaptava, em tudo. Mas um dia ela cansou de gritar, e foi aí que ela me enxergou. Por dias, percebi que ela me imitava. E eu que sempre senti inveja da voz dela. Olhava cabisbaixa e concordava com tudo. Nos olhávamos nos olhos e nos reconhecíamos, como iguais. Ela procurava em mim, os lábios que havia perdido, mas eu não pude dá-los. Procurou os meus olhos frios e fortes, e não os achou. Me senti estranha, porque me via nela e ela não se achava em mim. Ela permaneceu assim por dias, emagreceu, se tornou fraca e parou de gritar.

Hoje ela me olhou de novo. Penteou o cabelo na minha frente e tirou o lenço vermelho amarrado no pescoço. Soltou os braços e dançou pra mim rindo. Ela me disse que iria voltar a cantar, e que se danem quem não gosta da voz dela. É o que restou:  Os gritos e a indignação que saía pela garganta e que nenhuma amígdala inflamada pôde conter.
Eu voltei ao normal, sem voz, só com olhares, repetindo tudo que ela faz, à minha maneira. Continuei presa na parede do quarto dela, com alguns detalhes pendurados em meu reflexo. 
Ela não, ela voltou a dançar e a gritar. E eu me senti aliviada.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

dois mil e oito;



Eu poderia ter feito minha unha hoje. Poderia ter lido um livro, ter escrito um texto, poderia ter escutado qualquer música. Mas resolvi me lembrar de coisas que só fazem doer a alma.
É que o ano de dois mil e oito foi crucial no futuro que estou vivendo. O mundo de merda, na cidade cheia de lixo que vivo. E a indiferença é a pior dor que pode acontecer a um ser humano. A indiferença perante as injustiças, perante o amor que carregamos dentro de nós é o pior castigo, a pior cruz que podemos carregar nas costas.

Há um prazer gigantesco no ser humano em ver o outro sofrer né? Como se quem vê o outro sofrendo nunca tivesse passado por uma dor. Depois ninguém entende porque as pessoas bebem, porque as pessoas usam drogas, porque as pessoas entram em depressão. Só faltam rir da dor dos outros, e parece que dor não tem memória né? Você sente dor num dia, no outro faz doer a carne, o sangue, o músculo debaixo da pele. É um prazer que sorrisos maliciosos na cara deixam claro o sadismo do ser humano em ver outro sofrer. é isso.
E aí eu falo, falo, falo do ser humano, mas o mundo é uma bosta. Grande. Que fede. Você machuca, eu machuco, todo mundo sai dolorido dessa merda toda. Dessa cidade cinza.
Já dizia muito bem Criolo, “não existe amor em sp”. Não existe mesmo. E não pago pra ninguém provar.

Eu acendo um cigarro, e meu cinzeiro na janela está cheio de água por causa da chuva na cidade. Assim é mais fácil, apaga tudo facilmente. Queria uma máquina para apagar tudo de uma vez. Eu deito e não esqueço, sofro sozinha perante minha inutilidade nesse mundo. Saio pra beber uma cerveja, ninguém quer saber de educação. Educação pra quê? Sorrisos para que? Amor pra quem? É uma dor que se sustenta por anos, e ninguém um dia irá entender o que é saudade, ninguém um dia irá entender o que é a falta de alguém que está vivo e passa reto por você como se você não existisse. Ninguém irá entender a dor que não te deixa dormir a noite. Porque o peito dói. O coração dói. A cabeça dói. A alma dói.

É que o ano de dois mil e oito foi crucial para o futuro que estou vivendo. Um futuro presente na dor de todos os dias. Um presente que não enxerga um futuro melhor. É que dói.
E posso sair de fim-de-semana, e esquecer por horas a dor. Posso não mencionar seu nome por uma semana ou duas. Mas a realidade sempre te encontra. Então pego minha xicara de café, alimento um pouco mais minha gastrite nervosa, quem sabe ela não me tira desse mundo egoísta, desse mundo de dor, desse mundo de injustiça.

Na verdade, acho que Criolo estava errado, não existe amor em sp... não existe amor no mundo. É isso, não existe, nada, não há sentido em nada. Enquanto ninguém se levantar e se dar conta de que tudo está de ponta cabeça e errado, não existe nada. Quem me dera nós não existíssemos. Se você não existisse, talvez não doesse tanto. Mas se você não existisse, eu não estaria aqui. É isso, feche as portas. Feche os olhos. O mundo não merece as palavras dos poetas entorpecidos de esperança, entorpecidos de amor. Mesmo porque, amor não existe.
Essa dor é psicológica. Essa dor nunca passará enquanto a cabeça não acreditar que você não existe. Nada existe. É isso. Nada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Me deixa?


- Agora, por favor, me deixa um pouco?
- Deixei. Deixei porque estou cansada de recomeçar tudo. Cansada de passar por tudo. Cansada de comparar tudo. Deixei porque estou cansada de grosserias, cansada de cobranças, cansada de regras.
Eu deixei porque estou cansada do que me torno quando estou com alguém e cansada do que desconheço no espelho.
Eu deixei porque cansei do apego. Cansei do desasossego, cansei da solidão compartilhada.
Deixei porque cansei de não me entender quando digo palavras formadas por duas letras: "oi", "ok", "tá".
Cansei do brilho do começo e a ironia e sarcasmo do final. E de ser comparada com todas as garotas fúteis do mundo aí fora.
Eu deixei porque cansei de me tornar alguém que você gostaria que eu fosse.
E me cansei dos sorrisos. Cansei do primeiro beijo, do primeiro sexo, da primeira briga, do primeiro segredo, do primeiro "eu te amo".
Cansei de todas as fases, de todas as frases, de todas as mensagens. E me cansei de brigar comigo mesma, esquecer as frases, apagar as mensagens.
Eu deixei porque cansei de caminhar, cansei de procurar, cansei de olhar, cansei do amor e principalmente, deixei por não conseguir mais amar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

chocolate



Eu não peço muito, acredito. É que talvez eu não tenha percebido que meu pouco pode querer um muito seu. Eu posso não ter percebido como o mundo gira ao meu redor, e não dentro de mim. Eu posso não ter percebido como as pessoas sofrem e sentem dor ao meu redor, mas acredito, não é muito o que peço.
Uma tarde livre, um chocolate de presente, um beijo no rosto, uma pergunta. Posso andar pela casa descalça no calor do verão, e continuo girando com os meus pés e minhas mãos abertas, faço um penteado estranho no cabelo, tento não me importar.
Mas eu me importo, e eu não sei onde isso me levará algum dia. Mas eu simplesmente me importo, e sangro a cada importância. Me disseram uma vez que mesmo com todos os problemas que temos com nossa família, é ela que tá ali, pra nos lembrar de onde viemos, ela que está ali, pra nos suportar quando caímos, independente da forma, não a escolhemos, mas viemos com ela por algum motivo não? E você pode me dizer que amigos são a família que escolhemos, ás vezes eu acho que não. Mas talvez eu não tenha percebido as coisas como elas são.
Então, se eu digo que não é muito o que peço, eu te digo a verdade. Dentro de várias mentiras contadas por bocas cruéis, eu te digo a verdade, acredite. Não suporto promessas, porque eu também não sou boa em cumpri-las. Mas exijo respeito, e quem sabe uma brincadeira aqui e ali, que não me doa. Gosto de abraços, dos mais diversos, e de beijos também, do pé à cabeça, de uma mão à outra. E sorrisos são capazes de iluminar um dia nublado, sorrisos e dedos sujos de chocolate, um flor branca roubada de um jardim, um pedido de dança no meio da manhã, enquanto cozinhamos. Não é muito quando peço um pedaço dos seus segredos, ou de suas confissões. Não deve ser muito pedir um oi ou um tchau. Talvez seja muito uma ligação me alegrando, ou um obrigado quando eu te ajudo.
Mas acredite, é como um “amigo” meu diz: não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam.