domingo, 1 de abril de 2012

do outono;

Em algum lugar da cidade, alguém ouve nesse exato momento, a mesma música que eu, que toca repetidamente nos corações aflitos.
E está frio, o que nos garante uma rodada de café, ou para os mais aventureiros, uma dose de conhaque. E então, alguém nesse exato momento, está dando um trago em alguma bebida reconfortante. O verão passou. Hoje as folhas caem de forma poética, colorindo a grama dos parques e cimento das ruas. Do cinza fez-se marrom. Do verde fez-se bege. Há uma constante variação de cores, que os meus olhos hoje conseguem enxergar.
E deveríamos ter o coração calmo, alegre, feliz.
Mas existem sentimentos, que eu não sei se os terei novamente. Deveria, mas ainda existe um coração.
E eu só penso no conhaque e no cigarro na sexta-feira anoitecida em São Paulo. Para os leigos: 
uma dose de solidão e esperança nos corações partidos...


segunda-feira, 19 de março de 2012

Apatia



Treslouca, insana, doente, psicótica, de vez em quando apática. 
Surtos de Vida são encontrados no bairro. 
Perde-se e procura uma saída. Fica, a festa nem começou.
O sangue brota das veias, o espelho brota da parede.
Todos se olham, se coçam, se beijam, se abraçam.
Surtos de Vida são encontrados na cidade.
Dança, dança e dança de pés descalços. Joga fora a menina. Pega a mulher.
As drogas são de graça. O amor tá sendo comprado.
Surtos de prazer são encontrados no quarto.

Fica, a festa tá só começando...

domingo, 18 de março de 2012

Para ler ouvindo Johnny Cash

You're someone else, I still right here...

Talvez você não acredite, mas minhas dores de amor estão se transformando em dores de não amor. Ou a  não existência desse. O que diria por um lado, algum amigo poeta perdido nas ruas de São Paulo, Ela está crescendo. Ou me veria nesse momento lendo frases soltas e garranchadas de outro amigo poeta jogado nas ruas de sampa, que as pessoas estão desesperadas por amor, por isso ele não existe.
Creio então, ou espero que seja apenas uma ilusão, de que a busca por amor não existe, não é busca, é obsessão, é preenchimento de lacunas do coração, da mente e do corpo.
Mas o desespero se torna tão aflito e grande, que a procura se torna algo perdido. E quem procura, acha. Acha sorrisos vazios, acha mentes fracas, acha terceiras intenções em batom vermelho e ilusão em desenhos e músculos nos braços. Mas acha, algo, todos acham. 
Eu coloco Johnny Cash no repeat, e tento em vão escrever linhas que poderiam transformar o turbilhão que havia em mim, em palavras bonitas para os outros curtirem. Mais uma sedução. 
Mas não há mais turbilhão. Não há mais borboletas na barriga. Não há mais mudança de olhar quando alguém chega em algum lugar. Há uma certa ausência de sentimentos. Mas o amor, eu sei que está ali.
Está guardado. Mas está porque se mostra em cada sorriso de bebê na rua, ou na chuva pingando no rosto. O amor está ali. Só que não pertence a terceiros, não mais.
E nunca me toquei que esse dia chegaria. Um dia que olharia para todos ao redor, bem resolvidos (ou fingindo que sim) e veria que não faço parte desse grupo. O grupo dos felizes, dos que procuram, dos que se contentam com pouco. O grupo dos que fazem seu tempo a todo tempo.
Passei a fase da raiva, a fase da farra, a fase da bebedeira, a fase do qualquer um.
Mas qualquer um já não é mais suficiente, qualquer um é qualquer coisa, um qualquer nada. Então me sento com os bem resolvidos, e dou risada da vida e de nossas desgraças. Bebo até a última gota do meu copo de conhaque, e olho um sorriso aqui, uma frase bem feita ali. Retoco o batom vermelho, me sento novamente na mesa, lembro de você em alguma frase perdida no tempo, imagino como você estaria ali, conversando, rindo, tentando fazer amizade, ou apenas me olhando.
E vejo casos antigos se resolvendo, situações que não suportaria uma, duas semanas atrás. Nego paixões vazias nas noites brilhantes de São Paulo. E me vejo indo dormir sozinha com antigos amores do meu lado, dividindo camas, pensamentos e risadas. E ficamos nisso, porque pessoas aparecem, e pessoas se vão.
Os "alguma coisa" permanecem, e procuro pra eles uma função no meu tempo e espaço que me sobra o coração. E eles preenchem perfeitamente cada espaço vazio que você deixou, os espaços das risadas, das conversas, das piadas, da beleza, da companhia. E só.
Mas não é suficiente, não é? E tudo vira um turbilhão a cada despedida. Tudo vira um maremoto a cada rancor ou cada alegria. 
Não é suficiente, e eu sinceramente não procuro respostas, muito menos perguntas. Não é suficiente e ponto final. E não é triste. Nem solitário. Só não é suficiente, como não será como qualquer um. 
Porque afinal, as pessoas mudam. E essa fase de estar sozinha, e estar bem. Fugindo do verdadeiro desespero que é procurar a qualquer forma, custo e drogas um amor, eu passo longe. É bom, é prazeroso.
E qualquer prazer, nos retorna a lembrança de que estamos vivos.
Talvez seja isso, quero me lembrar que estou viva cada vez que chegar fedendo cigarro e bebida e terceiras intenções em casa. Mas quero me deitar sozinha. 
Até o dia em que eu decidir tirar algumas fotografias do meu mural, vou me deitar sozinha.



segunda-feira, 12 de março de 2012

o mar;



Me fecho e corro tímida contra o mar. A correnteza é forte, e eu sei que se me derrubar, eu não levantarei.
Por isso mantenho-me firme e forte. E vou seguindo cada passo de uma vez. Braços cruzados na frente do corpo e cara fechada para assustar quem me quer mal.
Mas os bons eu assusto também. Já não faz mais diferença.
Há dias, semanas, talvez meses, isso já não faz mais diferença. Minha cara fechada ou sorrindo, não faz mais diferença. Porque as andorinhas seguem seu voo sem incomodar as gaivotas. E a minha intenção é seguir adiante sem incomodar ninguém. 
E me esqueço que de braços cruzados, não levanto meu voo. Continuo presa no chão, na areia, no mar.
As ondas vão e vêm, com um ritmo gostoso de quando você fazia parte da minha rotina.
Eu foco em mim. Me inspiro. Fecho a cara, e sigo.
Meus anos de inocência e voo livre se foram. Sobrou a penugem velha e desgastada... Me sobrou eu, pra mim. 
Sozinha. Olhando o mar, e todos que nele se perdem...
e todos que voltam. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Listas

Eu não sei o que é isso do mundo insistir em meu nome nunca aparecer numa lista de aprovação em alguma coisa que eu realmente quero. Também não sei o que é isso do mundo ter me feito mulher.
Parece coisa de provação em alguma aprovação. Parece que é mundo me dizendo Olha lá, você é mulher, nasceu em família pobre, na periferia, tem que se fuder pra aprender.
Essa coisa de ser mulher e só sofrer por amor, carregar o mundo nas costas e os sonhos na cabeça.
Eu não sei o que é isso, de ter que lutar muito para conseguir algo. Ter que disputar coisas com pessoas que nasceram em berço de ouro. Ter que estudar o dobro pra provar que é capaz.
Eu não sei o que é isso do mundo em ter meia dúzias de pessoas te dizendo que você não vai fazer ciências sociais porque a USP não é o seu lugar. Ou que você não vai ganhar uma bolsa de estudo na Cinemateca porque você não mora na vila madalena e tem tempo (contatos) suficientes pra isso. Isso do mundo em dizer que você não vai fazer cinema, porque você não é cult e alternativo para trabalhar na área, e educação e política não são importantes. Cultura popular não é importante. Cultura marginal não faz diferença.
Eu não sei o que é isso do mundo, em meio dúzia de pessoas decidindo o que você deve ou não fazer.
Não entrei na USP. Mas entrei na UNIFESP.
Não passei na Cinemateca, mas provei que eu era capacitada para tal, depois de um ano de provação.
E não será uma lista, ou uma dúzia de pessoas que irão me dizer que cultura marginal e educação na periferia não servem para o cinema.
Tenho dó dessa meia dúzia de pessoas. E tenho dó de quem se acha capacitado em dizer o que devo ser.
Não é vocês quem decidem. O sonho é meu, a cabeça é minha.
E eu não sei o motivo do mundo ter me feito mulher, nascida na periferia com idéias na cabeça e dedos para escrevê-las. Mas agradeço ao mundo. 
Porque me faz cair, porque me faz chorar, porque me faz sofrer.
E me faz lutar, e que demore anos. Eu não desisto.