sábado, 31 de dezembro de 2011

Imortais

E como a vida pode ser tão frágil, tão delicada e tão rude ao mesmo tempo. A sutileza e egoísmo que encontramos no ser humano é desesperadamente assustador.  Nos queixamos de coisas tão absurdas e tão fúteis, enquanto a vida lá fora (e aqui dentro) anda tanto por um fio. Um fio assim, minúsculo, quebrável. Em um dia você está reclamando porque acabou seu achocolatado. No outro, não sabe como lidar com um câncer na família. Ou a perda de um filho que morre precocemente na mesa de uma bar, atingido por algum bêbado na véspera de natal.

Em um dia estamos rindo, estamos vivendo, saindo, bebendo. Como se tivéssemos a vida inteira na nossa frente. E no dia seguinte podemos estar por aí, caídos, mortos, sem vida. A vida é muitas vezes frágil, seca, rígida, morta. E nos transformamos em imortais, nos esquecendo que não estaremos aqui amanhã. E talvez não estejamos, e aí, bom, aí não adianta se lembrar e se arrepender que em toda a teoria, dizemos que aproveitaríamos todos os dias como se não houvesse amanhã. Porque a prática, sabemos bem que é diferente.

Não amamos quem deveríamos ter amado com toda a força que sempre desejamos. E nos esquecemos de nos declarar diariamente. E tivemos medo de nos arrepender. E medo de arriscar. Fomos egoístas, fomos rudes, secos, rígidos. Fomos como a vida nos ensinou a ser. Aprendemos direitinho a desejar ser imortal, e se tornar, na realidade, mais um na história de qualquer outra pessoa.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ao telefone...

“Porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme de todas essas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque a vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?”
(Para uma avenca partindo – C.F.A.)


O céu de hoje a noite tem estrelas. E elas brilham bonitas lá fora. Cada uma em um ponto como se não se tocassem, como se não se conhecessem, como se fossem parte de tintas pinceladas em uma tela negra, formando um desenho lindo. E talvez sejam exatamente isso. Nunca fui dessas místicas que se fazem de entendidas de estrelas e luas e marés e sol e vento e duendes e, e, e... também nunca fui uma cientista especialista nos astros e cometas e meteoros e galáxias e planetas e, e, e...

É que me deu uma vontade louca de sair por aí telefonando para quem eu achava que poderia me atender. Me desculpa se te acordei no meio da semana, sim, eu sei que você tem trabalho amanhã cedo, mas é que sinto falta do doce da sua voz. Não, eu não estou bêbada tentando começar uma conversa... sim, está tocando reggae no fundo, não me leve a mal, queria entrar no clima e para isso precisava de algo que me lembrasse as marés. Sou sim, uma louca com insônia que não consegue dormir sem antes ficar horas no telefone enquanto fumo um cigarro, procurando assuntos pra conversar com você. Estou dizendo muito e dizendo nada, enfim, te liguei mais para dizer quê... dizer assim, quê.

Ontem choveu e lembrei de você. Hoje fez sol e também lembrei de você. Nas conversas no bar me lembrei de você quando começaram a citar Freud para explicar alguns preconceitos que ficaram claros na mesa de bar depois de umas garrafas de cerveja. Mas me lembrei de você também... porque me lembrei mesmo? Bom, o que importa é que lembrei de você, e como você ficaria tão lindinho rindo ao meu lado, sentado na mesa de bar, dizendo ao pé do meu ouvido que meus amigos são uns otários e porque eu teria te arrastado pra lá. Ah sim, me lembrei, é verdade, me lembrei de você porque você não diria isso desses meus amigos. Se alguém citou Freud na mesa seria uma prato cheio pra você, até você começar a perguntar a cada um deles como eles se sentiam em relação ao que eles estavam afirmando, fazendo-os refletirem sobre eles mesmos do nada. Ou eles dariam risada, ou responderiam sua pergunta, ou te achariam chato demais e começariam a conversar sobre novela. Não, eu não te acho chato. É só que ás vezes você não me deixa falar. O quê? Ah, eu só estou aqui falando, falando, falando porque eu liguei e você está com sono, nem deve ter prestado atenção no que disse, prestou? Não, parei de falar das estrelas já faz um tempo.

Mas falando das estrelas, elas brilham lá fora, no céu. E acho que isso era o que eu tinha pressa em te dizer. Te ligar e dizer que as estrelas brilham bonito lá fora, em conjunto. Um estrela lá, sozinha, faria um céu bonito, sem dúvidas, mas várias, juntas e separadas ao mesmo tempo, transformam o céu em algo indescritível. Entende? Acho que essa era a urgência do quê eu tinha pra falar, te acordando assim, de madrugada. É que as vezes você se parece com uma dessas estrelas... sim, eu voltei a falar das estrelas. Não!!! Não sou dessas místicas chatas que entendem tudo de signos, é que hoje elas brilharam e lembrei de você. Sim, já terminei  meu cigarro. Boa noite. Durma bem.

me esqueceu;


“Você me esqueceu”

E a metade da garrafa vazia não me fizeram te esquecer. Os dedos trêmulos de frio da madrugada poderiam me impedir de digitar tais palavras tão absurdas, mas não me contive. As pernas tremem, não tanto quanto a mão ao tentar segurar um cigarro entre dedos míudos de unhas rosa fosco. E não, é, não são para você essas palavras. É para ele. Ele ali, que me esqueceu. Me esqueceu em uma noite de terça-feira. Ele ali que deve estar envolto entre fumaças e cevadas. Me esqueceu como as pétalas caídas de uma noite de outono, de roseiras antes vivas que enchiam a cidade de cores. Mas tudo tornou-se cinzas. Cinzas de um passado enterrado, que sobrevive nas memórias feito fantasma vagando em casa mal assombrada. E de repente senti meu coração como uma dessas casas.

Eu disse um dia que não conseguia escrever quando estava feliz. E geralmente, quando assim estou, me ponho bem longe do computador. Me ponho bem longe das pessoas. Me ponho fora do meu próprio alcance. Acho que não me reconheço assim, feliz.
Me esqueceu. E o esquecimento é talvez um dos piores sentimentos que existem no mundo. Você saber que não faz diferença alguma para alguém, é um dos piores sentimentos de vazio que o mundo moderno e egoísta pode proporcionar. Sentimento hoje, vem embalado. Enlatados entregues em casa. Que usamos, jogamos fora e reciclamos depois com outros sentimentos vindo de outras pessoas. “você me esqueceu”. E decidi tentar esquecer essas palavras que sobrevoavam minha cabeça, enchendo a cara sozinha na varanda de casa. Passando frio como se estivesse com febre em noites quentes de verão. Decidi tentar esquecer com uma garrafa de vodka, porque pelo que me parece, era a melhor escolha da noite. Conhaque nunca mais. Ou pelo menos, não por enquanto. Conhaque esquenta, e não te faz perder a memória de atitudes fracas, decididas em noites vulneráveis.

E estive ali, sempre estive ali, naquele lugar de sempre, onde usualmente poderiam me encontrar. Sempre estive ali, disposta a ajudar. Mas nunca tive ninguém. Ajuda de mãe não vale. Mãe sempre sabe o que se passa na nossa cabeça. Não seria dele que teria essa ajuda, não depois de todos esses meses. Um dia ele me mandou uma mensagem dizendo que sentia minha falta, que tinha saudades. Mas não, não irei chorar. Não agora. Tomo mais um gole de vodka, mas não irei chorar. Talvez ele esteja vivo, e ás vezes penso que talvez essa não seja a melhor esperança que eu poderia tê-la. Mas é que ser esquecida por alguém que está vivo dói mais que a perda de alguém por morte natural, ou causada. A pessoa escolhe te esquecer. E ser essa escolha, não é uma das melhores sensações que podemos ter na vida. Nós, que sempre fazemos a diferença para alguém até um determinado ponto da vida dela, da noite para o dia, somos esquecidos. Antes eu tivesse sido trocada. Mas não, ser esquecida por conta da vida. Ser trocada por conta da escolha da pessoa, em não te fazer mais ser parte da rotina dela. Tomo mais um gole, dou mais um trago. E tento esquecer. Coloco os pés no chão. Estão galados, os pés.

Passa um carro na rua e eu espero que seja ele. A mesma cor. Talvez seja fruto da terceira garrafa de vodka da noite. Não é. Ele nunca escutaria uma música dessas, a essa altura da noite. Ou escutaria? Acendo mais um cigarro refletindo se eu o reconheço ainda. Acho que não. Nossos últimos encontros não foram dos melhores. O brilho nos olhos já não era mais o mesmo. O rosado de sua pele já não era o mesmo. Ele odeio cigarro, e com esse pensamento, trago o cigarro mais forte, com sua fumaça entrando nos meus olhos e fazendo-os arder. Não irei chorar, prometi que não iria chorar. Mas me esqueceu. Como pode um amigo assim, de tantos anos, me esquecer? Tantas vitórias conquistadas juntas, tantas lágrimas, derramadas juntas. Como pode? Eu não entendo... queria entender. Mas eu, somente eu posso me ajudar. E talvez eu não queira essa ajuda, não, eu não quero minha ajuda. E dou mais um trago em meu cigarro, e um último gole em minha vodka. É com limão, não me fará mal algum. Minto a mim mesma me tornando bêbada por mais uma noite. Uma noite apenas, em que deitarei no travesseiro, e não serei obrigada pelo meu cérebro e coração a sonhar com ele mais uma noite. Me sentir feliz uma noite, sabendo que o esqueci, 
apenas por uma noite.

céu de estrelas



Mordeu umas três bolachas no caminho da mesa até o sofá com colcha bordada com o rosto do Charlie Chaplin. A pausa do livro do Caio a fazia pensar sobre o que queria ainda da vida. “ele não deveria ter vindo aqui”. Pensou nisso por dias, enquanto a pele quente e seca torrava no sol de verão da cidade de São Paulo.
Ela pensou que talvez não tivesse mais sentimento dentro de um coração duro e entristecido. “olha a bolacha aberta aqui” sua mãe dizia ao passar pela sala. – estou comendo! Tentava justificar a todo instante sua falta de atenção às coisas da casa. O ventilador no teto fazia aquela sombra típica de filmes de ação, quando o policial interroga o suspeito do crime, do assassinato. Se sentia assim, dentro de um sonho. Sendo interrogada como suspeita de um crime em sua própria casa. Um crime contra ela mesma, um crime contra os seus próprios sentimentos.
E tentou a todo instante não deixar cair uma lágrima que fosse quando terminou de assistir aquela comédia romântica com a família. Sabia que se não estivesse de férias, teria ido para o seu quarto, e ao deitar no travesseiro, teria derramado todas as lágrimas contidas em seu peito. Sabia que seriam lágrimas de amores perdidos no passado, de amores impossíveis, de amores que teve que se desfazer, amores que foi egoísta, que foi impura, que foi culpada.
Mas ela não estava em casa. Estava de férias. E como algo tão contraditório em si mesma, ela sabia que esse era o momento o qual ela esperou o ano inteiro, que estaria feliz consigo mesma sozinha, se descobrindo. Mas odiava ficar sozinha. Odiava ter que segurar suas lágrimas porque não poderia deitar a cabeça no travesseiro e chorar sem que ninguém a ouvisse. Por um instante teve o impulso de sair correndo, pegar sua vodka e seu cigarro e correr, para qualquer lugar noite afora. Mas se continha. E a cada contenção, se matava mais um pouco.
Queria chorar e não era por causa da comédia romântica, a qual, finalmente, ela estava aprendendo a desgostar. Queria chorar porque achava que não havia mais sentimentos dentro dela. Queria chorar porque não queria mais saber o que era o amor. E não sabendo o que era amar, não poderia mais doer. Queria acender o seu cigarro. E chorar por não sentir a culpa pelo que fez. Porque ele foi até ali?
Entender os motivos que o levaram a viajar durante horas só para vê-la, só para dizer que amava, e ela sem ter o que dizer. Amar, o que seria amar? Ela queria aprender também. E não queria estar com alguém por dó ou com pena, ou por costume. Queria amar como aqueles personagens no cinema amam. Queria amar como os personagens do livro amam e desamam com tanta atenção, cuidado e entrega. Vivenciou uma prova de amor, e não soube o que fazer. Vivenciou uma loucura de amor, e não soube o que responder. Vivenciou alguém arriscando tudo por ela, e não soube ser. Não sou ser ela. Não soube ser amor. Não soube ser sentimento. Não soube ser vida. Soube ser nada. Vazia. Triste com sua própria situação. Teve medo e não soube arriscar, não soube doer em si mesma.
E se levantou, novamente. Para abrir sua vodka. Acender seu cigarro e olhar as estrelas no céus. Mas quais? O céu já não as possuía mais. O céu já não correspondia aos desejos dos amantes. Mas quais? Amantes falsos de ilusões perdidas em noites de verão. Indivíduos solitários, que a cada trago  de cigarro espera uma resposta sem nunca ter feito uma pergunta. Covardes. Sim, “covardes” ela pensou. “Somos todos tão covardes”.

Não



Acordou tentando lembrar que tudo aquilo poderia ter sido um sonho. Não era.
Sua mãe era tão parecida com ela que era impossível as duas não entrarem em conflito diariamente. Enquanto tentava em vão escrever doces palavras em paginas brancas do seu notebook, seu gato se revirava ao seu lado, em movimentos preguiçosos de quem não tem mais nada pra fazer além de dormir e doar carinhos. Suas pequenas patas gordas pousavam em sua coxa, como se implorassem: olha, me dê carinho, eu estou aqui.
Nesse mesmo tempo, sua mãe reclamava na cozinha, da pia suja deixada pelas taças de vinho da noite anterior. Eram tão parecidas as duas que até a unha do dedo mindinho doía quando andavam pelas areias da praia. A unha dela, e a da garota.
Parou por um momento para ler uma mensagem no celular, e fez carinho no seu gato, que se revirou mais, pedindo mais atenção. A mensagem não era a que ela esperava. Lembrou que não tinha sido um sonho.
Seu pai gritou algo da sala, perguntando se alguém queria ir no supermercado. E ela foi.
Precisava sair um pouco daquela casa, e nada melhor que uma volta de carro com o seu pai para esfriar um pouco os ânimos. Seu pai não era tão parecido com ela, mas ela sabia que mesmo sendo a garotinha das bonecas rosas dele, ela poderia conversar sobre furadeiras, cadeados e luzes compradas em alguma loja de construção da cidade, sem que ele a julgasse. E naquele momento, era o que ela precisava.
Não estava disposta a refletir sobre a existência de dores no mundo moderno, ou a questão da estética em filmes nazistas dos anos 40. Estava disposta a dar risada com o seu pai, sobre as roupas estranhas das pessoas no supermercado. Sem que ninguém perguntasse o que tinha acontecido na noite anterior. Sem que ninguém perguntasse o motivo dela ter ido dormir cedo, ou ter se fechado em seu quarto para digitar textos que nunca seriam publicados.
Depois de uma tarde divertida e leve com o seu pai, embaixo de chuva, ela voltou pra casa, e deu um abraço em sua mãe. Que claro, não entendeu nada e começou a achar que ela tivesse quebrado alguma das taças de vinho, usadas na noite anterior. Pegou seu notebook e colocou no colo, de novo, e terminou o texto que estava há horas tentando terminar. E terminou com a leveza de uma pena, que era como estava se sentindo dentro do seu coração. Precisava daquele vazio, precisava daquela amargura de uma noite, precisava de um conflito, uma violência consigo mesma. E precisava daquela solidão noturna, envolta de vinhos e cervejas, precisava de um “não”. Um “não” que nunca tinha escutado no mesmo tom, que a fizera acordar, como acordou de manhã.
Passou as mãos no pêlo do seu gato, que ainda estava lá, esperando por ela. Colocou uma música do Marcelo Camelo em seus fones de ouvido, e disse a si mesma, a mesma frase que disse à sua mãe quando essa lhe perguntou o que ela queria, o que ela tinha aprontado.
“Tá tudo bem, agora está tudo bem. Nada está no lugar, mas não há nada que possa resolver. Nada”. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

verão


Hoje eu consegui enxergar além dos prédios da cidade. Consegui enxergar os morros e os raios de sol tocando as árvores. Hoje consegui entender um fio dos meus sentimentos e em como somos tão vulneráveis.
Semana passada, absolutamente uma semana atrás, eu não conseguia dormir de tanto chorar. Chorava como a chuva que caia na cidade, todas as tardes de verão, caíam violentamente, com fúria, querendo varrer das ruas da cidade tudo que pudesse existir, como se as coisas fossem impuras.
As lágrimas escorriam no rosto como a chuva que desce pela janela dos carros. E inutilmente tentei secá-las, segurá-las, esquece-las.
E poderia dizer que, há uma semana atrás, estava eu, como a chuva que lava as almas e corações dos amantes de verão. E como toda chuva, o sol aparece depois, para secar qualquer resquício de dor.
Mas se o que eu esperava era um sol. Este apareceu. Esquentou e secou qualquer gota de chuva que alagava minha alma. Um sol que esquentava na pele. Mas queimava. Que sem cuidado, ardia, machucava. Dói. Um sol que surgia durante os meus dias, e dava lugar a noite com a sua chuva.
Mas é necessário lembrar e ter os pés no chão. O mesmo sol que me aqueceu é o que queimou com toda a sua força e egoísmo. Assim, desde a semana passada, passei meus dias, procurando na chuva, lavar meu rancor e desgosto do passado, e no sol, aquecendo as feridas da alma. Mas nenhum deles trouxe a cura das aflições de noites mal dormidas.
Um simples e velho ventilador no quarto acaba me trazendo mais paz do que qualquer evento da natureza. Uma máquina, um projeto que se repete de um lado ao outro.  E hoje, uma semana depois, absolutamente uma semana depois me sinto assim, como um objeto que se move de um lado ao outro, uma máquina de repetições de movimentos, e que não percebe que traz paz e tranquilidade para os outros e nunca a si mesma. E como um animal perdido em uma noite na cidade, percebo que estou fadada a isso, a me movimentar de um lado ao outro. De vez em quando, lavando as lágrimas na chuva, entorpecendo a alma de fumaça, sono, conhaque e suor. Acordando em dias de sol, queimando a pele, ardendo no calor de meus próprios desejos. E quase sempre, me esquecendo que nada cura, nada resolve, nada muda.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

sem graça. nem isso.

De repente tudo fica tão chato, tão sem graça, sem cor. Mas acontece que algumas coisas perdem a graça, o caminho, o brilho.
Fica tudo sério. As pessoas se tornam tão sérias. As músicas se tornam repetitivas.
Os sorrisos não são tão bonitos quanto o seu, e o coração já não bate mais com um simples “oi”. De repente tudo fica tão sem graça. Sem cor. Chato. Sem emoção. Sem nada. Vazio. Tudo assim, fica vazio. As mensagens que chegam não são suas, e perde-se todo o interesse no assunto. As pessoas se tornam robôs repetindo os passos. De repente, só de repente. Eu olho no vazio, pra frente e já não enxergo nada, não procuro nada. Fica tudo tão estranho... frio.

sábado, 17 de dezembro de 2011

férias

Podemos passar o verão inteiro na cama. E podemos cruzar os dedos e desejar um beijo em plena noite de ano-novo. Lavar os pés no mar, fazer pedidos jogar conchas no mar. Ou apenas esquecer qual de nós dois está passando as férias no outro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

vermelho

É que me dói tanto que chega a sufocar. Sufoco assim, apertado, como as letras aqui digitadas em um fundo vermelho.
Ah, o vermelho. A cor dos sapatos vermelhos lido em algum conto do Caio, o Fernando. O vermelho. Vermelho que pinto nas unhas, vermelho das suas bochechas, vermelho da minha lingerie. Ah, e como me sufoca esse tormento, essas letras, esse vermelho, meu sentimento.
Sufoca e dói. E meus dedos compridos não seguram bem a caneta enquanto pratico o exercício diário de escrever o que sinto, naquela caderneta verde, velha, mofada. Fazem quantos anos?
Eu me peguei esses dias recitando sozinha pequenos versos que me remetiam a você. Que talvez eu pensasse que poderíamos ter tido tudo, e sermos nada, ou o contrário, termos nada e ter sido tudo. 
Mas você vive sua vida a cada segundo, provando pra todo mundo que o jeito e a forma de enxergar as coisas é o certo. E quantas vezes você me xingou quando eu fazia greve, e hoje, não sai de casa sem gritar uma frase de ordem. Ordem de greve, ordem de contraordem, ordem de revolução.
A revolução vermelha e pequeno burguesa que você tanto investe. Que você tanto vive. Isso é tudo pra você. Será tudo até quando, até você entender que sua vida não está presa nesse mundo pequeno social que você vive na classe média burguesa intelectual da maior universidade da américa latina. Mas essa é a forma que você tenta comprovar a todos, de que sua vida, é a melhor.
Mas querido, não, desquerido! Ninguém te entende. Eu posso dizer mil vezes que nunca o entenderei, e mesmo assim, acho que te entendo tão bem quanto as loiras, morenas, ruivas e todas que você procura (em vão) e não encontra. Elas não entendem, e os poucos que chegam perto de você pra entender, você expulsa. Expulsa da vida, dos sentimentos, do carinho, da atenção, de tudo. Egoísta. Poderia ter tido tudo, ter tido nada, mas escolheu ser normal. Covarde. Tanto quanto os que hoje você grita e xinga nas palavras de ordem.
E eu me peguei recitando que talvez pudesse ser tudo diferente, talvez pudesse ser apenas um sonho, para que eu pudesse um dia me desvencilhar de você. Para que eu pudesse um dia, de vez, matar essa saudade. Matar essa lembrança. Matar essa tristeza. Matar esse sentimento. Matar essa merda de destino que insiste em te colocar no meu caminho. No meio do caminho, voltando pra casa, você, me sorrindo, conversando, como se nada tivesse acontecido.
É, talvez o conhaque tenha resultado nisso. Nada aconteceu. Nada tenha sido eu. E ninguém irá entender o que eu quero dizer nessas palavras brancas em um fundo vermelho. Vermelho são os olhos enfim, que sufocam, doem, e não me deixam esquecer.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

13.12.11

Os olhos não se atentam mais aos detalhes de antes.
O pulmão já não suporta mais o peso dos passos e a distância dos morros.
Mas o cérebro ainda é o mesmo. As memórias ainda são as mesmas.
Só minha pele se tornou envelhecida por cada mês em que você decidiu, dia após dia, 
que me esquecia nos detalhes das cores que antes pintavam sua rotina.