terça-feira, 28 de junho de 2011

Cap. I

Olhou pra mim desconfiado, sorriso de criança no primeiro momento. O "oi" foi igual ao de todos naquela sala de aula fria, congelada, lotada e solitária. As perguntas como "vai prestar o quê?" era automáticas em um primeiro dia de aula. Ele estava acompanhado da loira, mas me sorriu, perguntando o que eu queria fazer... disse "letras" ele riu, como se sabotasse meu sonho de entrar em uma universidade pública. Mas também riu de todos os professores e todo aquele sistema babaca para se graduar, a até chegar lá e até conseguir e até, até, até...
No dia seguinte ele estava lá novamente, ou teria sido no outro? Não me lembro, faz tempo, faz muito tempo, dias, semanas... na verdade, não minto, fazem anos. Ele sentou-se ao meu lado, ou era atrás? Tinha em mãos uma revista que hoje acho fútil mas nas aulas de física, as únicas em que ele prestava atenção, eram elas, as revistas que me salvavam dos cálculos que até hoje me são inúteis.
Terceiro dia ele deitou-se aos meus pés. Não porque me amava, isso ele nunca o fez, mas porque estava cansado, com sono, e as mesas da sala de aula eram desconfortáveis demais para o corpo robusto que ele possuía. Esqueci-me de descrevê-lo, pois bem... alto, cabelos cacheados, pele clara, rosto sempre vermelho e olhos que me remetiam ao céu.
Aquela foi a primeira semana. No primeiro mês ele já conhecia meu namorado da época, já eram amigos.
No segundo mês, estávamos almoçando juntos, eu, ele, os amigos dele, minhas amigas, nós. No quarto mês fomos visitar o MASP, e foi lá que descobri que ele era um artista, ou ao menos parecia assim.
Em seis meses ele me ouvia dizer cada sílaba de juramento de amor ou palavrão que eu pronunciava ao meu namorado da época. Ele era meu amigo, meu querido amigo...
E hoje, anos depois, como eu desejo que aquele que habitava o corpo robusto, bobo, engraçado e de rosto vermelho de vergonha em público, nunca tivesse abandonado o que hoje me deixa saudades, me propõe dores, raivas, angústias... não, não é mais meu amigo querido, é uma sombra desaparecida de meu passado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Ali na nossa casinha, toda colorida, ou toda de vidro como um dia você sonhara, vou colar todos os meus cartões que saio pelos museus e centro culturais recolhendo. Mas colarei apenas os cartões bonitos. Os feios, nós colamos nas capas de cadernos, agendas e marca-páginas que um dia venderemos na universidade...