segunda-feira, 19 de março de 2012

Apatia



Treslouca, insana, doente, psicótica, de vez em quando apática. 
Surtos de Vida são encontrados no bairro. 
Perde-se e procura uma saída. Fica, a festa nem começou.
O sangue brota das veias, o espelho brota da parede.
Todos se olham, se coçam, se beijam, se abraçam.
Surtos de Vida são encontrados na cidade.
Dança, dança e dança de pés descalços. Joga fora a menina. Pega a mulher.
As drogas são de graça. O amor tá sendo comprado.
Surtos de prazer são encontrados no quarto.

Fica, a festa tá só começando...

domingo, 18 de março de 2012

Para ler ouvindo Johnny Cash

You're someone else, I still right here...

Talvez você não acredite, mas minhas dores de amor estão se transformando em dores de não amor. Ou a  não existência desse. O que diria por um lado, algum amigo poeta perdido nas ruas de São Paulo, Ela está crescendo. Ou me veria nesse momento lendo frases soltas e garranchadas de outro amigo poeta jogado nas ruas de sampa, que as pessoas estão desesperadas por amor, por isso ele não existe.
Creio então, ou espero que seja apenas uma ilusão, de que a busca por amor não existe, não é busca, é obsessão, é preenchimento de lacunas do coração, da mente e do corpo.
Mas o desespero se torna tão aflito e grande, que a procura se torna algo perdido. E quem procura, acha. Acha sorrisos vazios, acha mentes fracas, acha terceiras intenções em batom vermelho e ilusão em desenhos e músculos nos braços. Mas acha, algo, todos acham. 
Eu coloco Johnny Cash no repeat, e tento em vão escrever linhas que poderiam transformar o turbilhão que havia em mim, em palavras bonitas para os outros curtirem. Mais uma sedução. 
Mas não há mais turbilhão. Não há mais borboletas na barriga. Não há mais mudança de olhar quando alguém chega em algum lugar. Há uma certa ausência de sentimentos. Mas o amor, eu sei que está ali.
Está guardado. Mas está porque se mostra em cada sorriso de bebê na rua, ou na chuva pingando no rosto. O amor está ali. Só que não pertence a terceiros, não mais.
E nunca me toquei que esse dia chegaria. Um dia que olharia para todos ao redor, bem resolvidos (ou fingindo que sim) e veria que não faço parte desse grupo. O grupo dos felizes, dos que procuram, dos que se contentam com pouco. O grupo dos que fazem seu tempo a todo tempo.
Passei a fase da raiva, a fase da farra, a fase da bebedeira, a fase do qualquer um.
Mas qualquer um já não é mais suficiente, qualquer um é qualquer coisa, um qualquer nada. Então me sento com os bem resolvidos, e dou risada da vida e de nossas desgraças. Bebo até a última gota do meu copo de conhaque, e olho um sorriso aqui, uma frase bem feita ali. Retoco o batom vermelho, me sento novamente na mesa, lembro de você em alguma frase perdida no tempo, imagino como você estaria ali, conversando, rindo, tentando fazer amizade, ou apenas me olhando.
E vejo casos antigos se resolvendo, situações que não suportaria uma, duas semanas atrás. Nego paixões vazias nas noites brilhantes de São Paulo. E me vejo indo dormir sozinha com antigos amores do meu lado, dividindo camas, pensamentos e risadas. E ficamos nisso, porque pessoas aparecem, e pessoas se vão.
Os "alguma coisa" permanecem, e procuro pra eles uma função no meu tempo e espaço que me sobra o coração. E eles preenchem perfeitamente cada espaço vazio que você deixou, os espaços das risadas, das conversas, das piadas, da beleza, da companhia. E só.
Mas não é suficiente, não é? E tudo vira um turbilhão a cada despedida. Tudo vira um maremoto a cada rancor ou cada alegria. 
Não é suficiente, e eu sinceramente não procuro respostas, muito menos perguntas. Não é suficiente e ponto final. E não é triste. Nem solitário. Só não é suficiente, como não será como qualquer um. 
Porque afinal, as pessoas mudam. E essa fase de estar sozinha, e estar bem. Fugindo do verdadeiro desespero que é procurar a qualquer forma, custo e drogas um amor, eu passo longe. É bom, é prazeroso.
E qualquer prazer, nos retorna a lembrança de que estamos vivos.
Talvez seja isso, quero me lembrar que estou viva cada vez que chegar fedendo cigarro e bebida e terceiras intenções em casa. Mas quero me deitar sozinha. 
Até o dia em que eu decidir tirar algumas fotografias do meu mural, vou me deitar sozinha.



segunda-feira, 12 de março de 2012

o mar;



Me fecho e corro tímida contra o mar. A correnteza é forte, e eu sei que se me derrubar, eu não levantarei.
Por isso mantenho-me firme e forte. E vou seguindo cada passo de uma vez. Braços cruzados na frente do corpo e cara fechada para assustar quem me quer mal.
Mas os bons eu assusto também. Já não faz mais diferença.
Há dias, semanas, talvez meses, isso já não faz mais diferença. Minha cara fechada ou sorrindo, não faz mais diferença. Porque as andorinhas seguem seu voo sem incomodar as gaivotas. E a minha intenção é seguir adiante sem incomodar ninguém. 
E me esqueço que de braços cruzados, não levanto meu voo. Continuo presa no chão, na areia, no mar.
As ondas vão e vêm, com um ritmo gostoso de quando você fazia parte da minha rotina.
Eu foco em mim. Me inspiro. Fecho a cara, e sigo.
Meus anos de inocência e voo livre se foram. Sobrou a penugem velha e desgastada... Me sobrou eu, pra mim. 
Sozinha. Olhando o mar, e todos que nele se perdem...
e todos que voltam. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Listas

Eu não sei o que é isso do mundo insistir em meu nome nunca aparecer numa lista de aprovação em alguma coisa que eu realmente quero. Também não sei o que é isso do mundo ter me feito mulher.
Parece coisa de provação em alguma aprovação. Parece que é mundo me dizendo Olha lá, você é mulher, nasceu em família pobre, na periferia, tem que se fuder pra aprender.
Essa coisa de ser mulher e só sofrer por amor, carregar o mundo nas costas e os sonhos na cabeça.
Eu não sei o que é isso, de ter que lutar muito para conseguir algo. Ter que disputar coisas com pessoas que nasceram em berço de ouro. Ter que estudar o dobro pra provar que é capaz.
Eu não sei o que é isso do mundo em ter meia dúzias de pessoas te dizendo que você não vai fazer ciências sociais porque a USP não é o seu lugar. Ou que você não vai ganhar uma bolsa de estudo na Cinemateca porque você não mora na vila madalena e tem tempo (contatos) suficientes pra isso. Isso do mundo em dizer que você não vai fazer cinema, porque você não é cult e alternativo para trabalhar na área, e educação e política não são importantes. Cultura popular não é importante. Cultura marginal não faz diferença.
Eu não sei o que é isso do mundo, em meio dúzia de pessoas decidindo o que você deve ou não fazer.
Não entrei na USP. Mas entrei na UNIFESP.
Não passei na Cinemateca, mas provei que eu era capacitada para tal, depois de um ano de provação.
E não será uma lista, ou uma dúzia de pessoas que irão me dizer que cultura marginal e educação na periferia não servem para o cinema.
Tenho dó dessa meia dúzia de pessoas. E tenho dó de quem se acha capacitado em dizer o que devo ser.
Não é vocês quem decidem. O sonho é meu, a cabeça é minha.
E eu não sei o motivo do mundo ter me feito mulher, nascida na periferia com idéias na cabeça e dedos para escrevê-las. Mas agradeço ao mundo. 
Porque me faz cair, porque me faz chorar, porque me faz sofrer.
E me faz lutar, e que demore anos. Eu não desisto.

domingo, 4 de março de 2012

Cap. XI

Poderia deitar minha cabeça aqui no travesseiro e tentar dormir, porque sei que conseguiria tranquilamente. Mas os dedos coçam para eu escrever, e olha que não é nem lá pros dias 9, 10 ou 11.
Datas são datas. E logo eu que sempre fui péssima com elas, não me esqueço dessa. Eu que nunca reparo em cortes de cabelo, barbas feitas, se engordou ou não...consigo reparar em você, cada ruga nova em seu rosto.
Logo eu, que tinha prometido dar um tempo com as cartas, estou aqui, escrevendo outra. E não é de dor hoje. Hoje não.
Dei um tempo no meu livro, aquele lá, dos personagens que se encontram todo ano, como se comemorassem a data em que se conheceram. Cômico ver que o que comemoro aqui, é data da nossa despedida, logo eu que nunca saberei a data em que nos conhecemos. Me faltou agendas e diários naquele tempo.
Dei um tempo na leitura, acendi um cigarro, e coloquei um cartola pra tocar. Fui refletir sobre o que tinha acontecido. Mas refletir o que? Não aconteceu nada, absolutamente, nada.
Ou teria acontecido? Eu não sei ao certo como entender o que a vida nos proporciona. Eu poderia estar feliz, poderia estar triste, poderia ter esperanças com você. Mas tenho esperanças em mim.
E não tenho inspiração para escrever. Logo você, que sempre foi minha inspiração, hoje a tirou de mim.
Eu olho aquela nossa foto no mural e penso como foi bom aquele dia. Nós três. E estávamos tão prontos para o futuro, tão seguros do que seríamos daqui pra frente, ou do que poderíamos conquistar. Eu era leve, usava branco e não conhecia maquiagens.
Hoje em dia, só tenho peças escuras no guarda-roupas e não saio de casa sem o lápis no olho ou um corretivo para as olheiras. A mancha abaixo dos olhos é sempre fruto de algumas lágrimas ou algum porre de conhaque.
E nunca tive tantos amigos confidentes, como tenho hoje, depois de você. É que você era único. Sabia tudo de mim, me entendia como ninguém. E depois de você, todos os homens parecem ser iguais. E muitos se mostraram mais amigos do que qualquer outra coisa. E descobri que muitas pessoas sofrem do mesmo que eu: ir para o futuro, tentando encontrar, ou esperando o passado.
E hoje, eu poderia estar triste, chorar, e perceber como me lembro de você em cada detalhe de todos os dias da minha vida. E esses meses, não foram nada fáceis. Mas hoje, logo eu que poderia me lembrar disso tudo, hoje, eu ando pra frente. Porque o fato de você demonstrar que está aqui, me faz feliz. Você me responder nem que seja um seco e frio "obrigado", me faz feliz. E não é feliz por você, ou por nós. Mas por mim.
Porque sei que logo mais, não terei mais o sorriso bobo e sincero como eu tenho com você ao meu lado na nossa fotografia de 4 anos atrás. Mas terei um sorriso meu, um sorriso novo. E sei que seguirei meu futuro, esperando o futuro. Lembrando de nós no passado, como se o passado fosse uma parede em que eu me apoiasse quando talvez me desequilibrasse. Não seria mais o chão, a base que me sustenta.
Ainda és, ainda é o chão que me sustenta todos os dias nessa caminhada. Mas sei que um dia, seremos só a parede de cada um, com fotografias e quadros pendurados, em um corredor, em direção a um futuro. Um futuro lindo, e separado. E feliz.

quinta-feira, 1 de março de 2012

teatro de ilusões

Então se afunde em drogas, em bebidas, em mulheres que não se lembra rosto, nome, ilusão, olhar.
Se afunde em amargura. Em culpa e depressão.
Volte pro passado a cada ressaca, volte pros medos a cada noite, volte pra incerteza a cada acordar.
Se afunde.
Só não me faça de platéia, no seu espetáculo particular.