quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

me esqueceu;


“Você me esqueceu”

E a metade da garrafa vazia não me fizeram te esquecer. Os dedos trêmulos de frio da madrugada poderiam me impedir de digitar tais palavras tão absurdas, mas não me contive. As pernas tremem, não tanto quanto a mão ao tentar segurar um cigarro entre dedos míudos de unhas rosa fosco. E não, é, não são para você essas palavras. É para ele. Ele ali, que me esqueceu. Me esqueceu em uma noite de terça-feira. Ele ali que deve estar envolto entre fumaças e cevadas. Me esqueceu como as pétalas caídas de uma noite de outono, de roseiras antes vivas que enchiam a cidade de cores. Mas tudo tornou-se cinzas. Cinzas de um passado enterrado, que sobrevive nas memórias feito fantasma vagando em casa mal assombrada. E de repente senti meu coração como uma dessas casas.

Eu disse um dia que não conseguia escrever quando estava feliz. E geralmente, quando assim estou, me ponho bem longe do computador. Me ponho bem longe das pessoas. Me ponho fora do meu próprio alcance. Acho que não me reconheço assim, feliz.
Me esqueceu. E o esquecimento é talvez um dos piores sentimentos que existem no mundo. Você saber que não faz diferença alguma para alguém, é um dos piores sentimentos de vazio que o mundo moderno e egoísta pode proporcionar. Sentimento hoje, vem embalado. Enlatados entregues em casa. Que usamos, jogamos fora e reciclamos depois com outros sentimentos vindo de outras pessoas. “você me esqueceu”. E decidi tentar esquecer essas palavras que sobrevoavam minha cabeça, enchendo a cara sozinha na varanda de casa. Passando frio como se estivesse com febre em noites quentes de verão. Decidi tentar esquecer com uma garrafa de vodka, porque pelo que me parece, era a melhor escolha da noite. Conhaque nunca mais. Ou pelo menos, não por enquanto. Conhaque esquenta, e não te faz perder a memória de atitudes fracas, decididas em noites vulneráveis.

E estive ali, sempre estive ali, naquele lugar de sempre, onde usualmente poderiam me encontrar. Sempre estive ali, disposta a ajudar. Mas nunca tive ninguém. Ajuda de mãe não vale. Mãe sempre sabe o que se passa na nossa cabeça. Não seria dele que teria essa ajuda, não depois de todos esses meses. Um dia ele me mandou uma mensagem dizendo que sentia minha falta, que tinha saudades. Mas não, não irei chorar. Não agora. Tomo mais um gole de vodka, mas não irei chorar. Talvez ele esteja vivo, e ás vezes penso que talvez essa não seja a melhor esperança que eu poderia tê-la. Mas é que ser esquecida por alguém que está vivo dói mais que a perda de alguém por morte natural, ou causada. A pessoa escolhe te esquecer. E ser essa escolha, não é uma das melhores sensações que podemos ter na vida. Nós, que sempre fazemos a diferença para alguém até um determinado ponto da vida dela, da noite para o dia, somos esquecidos. Antes eu tivesse sido trocada. Mas não, ser esquecida por conta da vida. Ser trocada por conta da escolha da pessoa, em não te fazer mais ser parte da rotina dela. Tomo mais um gole, dou mais um trago. E tento esquecer. Coloco os pés no chão. Estão galados, os pés.

Passa um carro na rua e eu espero que seja ele. A mesma cor. Talvez seja fruto da terceira garrafa de vodka da noite. Não é. Ele nunca escutaria uma música dessas, a essa altura da noite. Ou escutaria? Acendo mais um cigarro refletindo se eu o reconheço ainda. Acho que não. Nossos últimos encontros não foram dos melhores. O brilho nos olhos já não era mais o mesmo. O rosado de sua pele já não era o mesmo. Ele odeio cigarro, e com esse pensamento, trago o cigarro mais forte, com sua fumaça entrando nos meus olhos e fazendo-os arder. Não irei chorar, prometi que não iria chorar. Mas me esqueceu. Como pode um amigo assim, de tantos anos, me esquecer? Tantas vitórias conquistadas juntas, tantas lágrimas, derramadas juntas. Como pode? Eu não entendo... queria entender. Mas eu, somente eu posso me ajudar. E talvez eu não queira essa ajuda, não, eu não quero minha ajuda. E dou mais um trago em meu cigarro, e um último gole em minha vodka. É com limão, não me fará mal algum. Minto a mim mesma me tornando bêbada por mais uma noite. Uma noite apenas, em que deitarei no travesseiro, e não serei obrigada pelo meu cérebro e coração a sonhar com ele mais uma noite. Me sentir feliz uma noite, sabendo que o esqueci, 
apenas por uma noite.

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