sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cap. III

Me encontro, me disfarço, contrato, retenho, feita, não te refaço. 
Os raios de sol fora da janela refletem no muro amarelo, que contrasta com o céu azul, limpo, sem nuvens, apenas um avião que passa riscando o limpo e leve que o azul me traz, e me pergunto se você estará lá, partindo pro México, pro Uruguai ou qualquer outro país da América Latina, desenhando riscos de concreto em ruas estreitas e antigas, enquanto mulheres passam com vestidos floridos, vermelhos, voando com os cabelos ao ar, soltando fumaças pelas bocas vermelhas e peles de ouro.
Hoje desfiz meu contrato e te procurei cinco dias depois daquele mês. Te procurei nas fumaças de outras bocas, procurei no negro de outros olhos que contrastam com a luz que você me trazia, na companhia dos fios de seus cabelos que me prendiam como grades livres de qualquer rancor. Desfiz meu contrato, entrei no banheiro, deitei na cama, escrevi, li, reli, esperei, esperei e esperei uma resposta. Fumei, traguei, bebi um vinho, um conhaque, uma cerveja, vodka, tequila... um café. Nenhuma fumaça me tirava a essência que você deixou em mim. Te esqueço em alguns corpos e outros copos. Te esqueço em luares e sons, em risos e beijos. E nas manhãs seguintes acordo com outros ao meu lado, enquando nos sonhos você me persegue.
Hoje desfiz meu contrato. Falei com ele ontem, e fazem anos que ele terminou comigo, e você esteve lá do meu lado, dizendo que minha saia verde e hippie era linda demais para uma pessoa que não me merecia. Meus amigos dizem a mesma coisa sobre você hoje, que sou sentimental demais para alguém que não tem a simples coragem de me dizer que me odeia, se você me odeia. Ou que me ama, mas nunca amou, não, nunca amou.
Desfiz meu contrato, e ai de meus amigos quando lerem isso, me dirão: esquece, apenas esquece.
Como se fosse simples o esquecer de alguém que recorda a noite com a minha saia verde, hippie e comprida, que vesti no show do Jorge Ben Jor, em que pulamos sem parar e você me rodava na ponta dos pés e me abraçava sem interesse algum, dizendo que eu estava linda demais para alguém que estava a kms de distância e que não me merecia. Como se fosse simples o esquecer do seu rosto incrédulo quando disse que não teríamos pizza de janta, mas miojo, feito com batatas e cenouras após uma noite de show do Jorge Ben Jor. Logo você, que cozinhava tão bem, logo você que me acompanhou em tantos restaurantes japoneses depois da aula. Como esquecer enquanto penso que poderia estar na fila do pão, e todos me olhariam pensando que eu te encontrei, e na verdade só penso que na realidade eu sou bem mais sentimental que você. 
Na verdade, sou bem mais sentimental do que eu mesma acreditava que pudesse ser.
Então trago mais um pouco do meu cigarro, de um masso velho e amassado que você odiava, e bebo mais um vinho, enquanto o céu escurece e os raios de sol vão embora, levando as cores do dia, enquanto o tempo insiste em não levar você de mim.

2 comentários:

Anônimo disse...

fala cagol... não esqueci dos teus pensamentos desatados não... passei pra lhe dizer que sinto falta dos posts toma lá da cá =DDD...

Tõ lendo teu acho que "livro"... logo menos comento sobre o assunto =P

besos ty gosto mucho

, disse...
Este comentário foi removido pelo autor.