quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ao telefone...

“Porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme de todas essas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque a vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?”
(Para uma avenca partindo – C.F.A.)


O céu de hoje a noite tem estrelas. E elas brilham bonitas lá fora. Cada uma em um ponto como se não se tocassem, como se não se conhecessem, como se fossem parte de tintas pinceladas em uma tela negra, formando um desenho lindo. E talvez sejam exatamente isso. Nunca fui dessas místicas que se fazem de entendidas de estrelas e luas e marés e sol e vento e duendes e, e, e... também nunca fui uma cientista especialista nos astros e cometas e meteoros e galáxias e planetas e, e, e...

É que me deu uma vontade louca de sair por aí telefonando para quem eu achava que poderia me atender. Me desculpa se te acordei no meio da semana, sim, eu sei que você tem trabalho amanhã cedo, mas é que sinto falta do doce da sua voz. Não, eu não estou bêbada tentando começar uma conversa... sim, está tocando reggae no fundo, não me leve a mal, queria entrar no clima e para isso precisava de algo que me lembrasse as marés. Sou sim, uma louca com insônia que não consegue dormir sem antes ficar horas no telefone enquanto fumo um cigarro, procurando assuntos pra conversar com você. Estou dizendo muito e dizendo nada, enfim, te liguei mais para dizer quê... dizer assim, quê.

Ontem choveu e lembrei de você. Hoje fez sol e também lembrei de você. Nas conversas no bar me lembrei de você quando começaram a citar Freud para explicar alguns preconceitos que ficaram claros na mesa de bar depois de umas garrafas de cerveja. Mas me lembrei de você também... porque me lembrei mesmo? Bom, o que importa é que lembrei de você, e como você ficaria tão lindinho rindo ao meu lado, sentado na mesa de bar, dizendo ao pé do meu ouvido que meus amigos são uns otários e porque eu teria te arrastado pra lá. Ah sim, me lembrei, é verdade, me lembrei de você porque você não diria isso desses meus amigos. Se alguém citou Freud na mesa seria uma prato cheio pra você, até você começar a perguntar a cada um deles como eles se sentiam em relação ao que eles estavam afirmando, fazendo-os refletirem sobre eles mesmos do nada. Ou eles dariam risada, ou responderiam sua pergunta, ou te achariam chato demais e começariam a conversar sobre novela. Não, eu não te acho chato. É só que ás vezes você não me deixa falar. O quê? Ah, eu só estou aqui falando, falando, falando porque eu liguei e você está com sono, nem deve ter prestado atenção no que disse, prestou? Não, parei de falar das estrelas já faz um tempo.

Mas falando das estrelas, elas brilham lá fora, no céu. E acho que isso era o que eu tinha pressa em te dizer. Te ligar e dizer que as estrelas brilham bonito lá fora, em conjunto. Um estrela lá, sozinha, faria um céu bonito, sem dúvidas, mas várias, juntas e separadas ao mesmo tempo, transformam o céu em algo indescritível. Entende? Acho que essa era a urgência do quê eu tinha pra falar, te acordando assim, de madrugada. É que as vezes você se parece com uma dessas estrelas... sim, eu voltei a falar das estrelas. Não!!! Não sou dessas místicas chatas que entendem tudo de signos, é que hoje elas brilharam e lembrei de você. Sim, já terminei  meu cigarro. Boa noite. Durma bem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha, lá fora, a lua... Aquela lua, que ontem se escondia quase por inteiro, hoje... hoje ela não estava lá... e decidi andar sozinho. Não por não ter companhia, não é isso... É simplesmente porque a companhia que eu acredito que me falta está junto com a Lua, ali, fora do meu alcance, escondida atrás de tantas perguntas que, sabe... às vezes eu acho que eu mesmo que perguntei...
Mas, sobre o que falávamos? Sobre um garoto que andou pelas ruas sozinho, por tempo demais, carregando nos bolsos cartas endereçadas a olhos que não sabiam ler... E sobre a Lua? Não, não... Sobre uma companhia que ele não sabia se era o que faltava, ou que transbordaria o possível...
Ah, acabou seu cigarro? Acende mais um, dois, duzentos... Fica! Vamos conversar sobre a vida, sobre o futuro, sobre a menstruação dos nematelmintos e sua função psicossociobiológica na sociedade oligárquica dos protozoários intestinais... Mas fica... Pelo menos até as respostas chegarem... Ou até desistirmos das perguntas...