terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cap. VIII




Hoje de manhã passei em frente ao cemitério da Consolação, e como se fossem cenas de um filme da Sofia Coppola, reparei nas  árvores, balançando com um vento leve, e o verde das suas folhas contrastando com o amarelo do sol, que queimava minha pele dentro do carro. Parecia até que dançavam no ritmo da música e dos ventos.
Hoje eu vi o sol surgir e sumir, senti o sol queimar minha pele, e depois senti o frio das gotas de chuva escorrendo no meu rosto, enquanto eu corria para o metrô. As estações passavam pelos meus olhos numa rapidez tão grande quanto o relógio que conta os dias que eu estou sem você.  Lembro daquele dia que fomos e voltamos de ônibus, ficamos umas duas horas ou mais andando pela cidade no ônibus azul, somente para não nos separarmos. Ninguém nos separava nos finais de semana, e aquele foi a nossa despedida. Cada um para um lado, e o destino insistiu que deveríamos ter a nossa chance. Tentamos, eu tentei, você tentou. Não deu. Ainda me lembro de você andando, me dando as costas, e uma despedida forçada por conta dos caminhos que seguíamos. Lembro de você posando para mim, debaixo do sol da manhã no parque ao lado da sua casa. Dei um trago no cigarro velho da bolsa e te desculpei. Te desculpei por ter sido tão inseguro anos atrás, e mais inseguro esses tempos. Também me desculpei, porque meu caminho eu não largaria por ninguém. Nem por você. Meus passos eu não deixaria de dar por outra pessoa, minhas noites eu não deixaria para nunca mais sonhar, te convidaria para dormir comigo, mas nunca deixaria de sonhar e ser eu, indivíduo, singular, única, por alguém.
Hoje lembrei que mesmo longe, ainda posso te amar, mas é um amor tão puro, tão raro. É um amor que deseja te arranhar a pele com toda força e raiva por tudo que você me fez. Um amor que deseja te abraçar e agradecer com lágrimas pelo tanto que me fez amadurecer. Hoje lembrei que não adianta tentar te esquecer, não adianta me afastar ou te xingar. Lembrei que é isso que dizem por aí que é viver. O mês acaba (mais um), e chega outro pra tomar o lugar.
Hoje soube que você tá indo para outro país, me perguntei se faria diferença, não, não faria. Minha vida segue, e segue com você, lado a lado da sua. Não significa que te esqueci, mas não é vivendo a anulação da minha vida que você voltará aos meus braços. Aliás, você nunca esteve neles. Eu sigo, sigo e sigo. Conheço pessoas, conheço conhaques, conheço camas, conheço sorrisos, conheço perfumes, conheço olhares, e podem todos me julgar, me chamando de errada mas eu acredito realmente que para cada ser há um amor. E meu amor por você, querido, continua aqui, mas é diferente, é um amor à distância, um amor de unhas e alfinetes, que insiste em perfurar minha alma me recordando de não esquecer nossa história.
É um amor que abre espaço para outro amor presente. Outro amor companheiro, um amor de dividir sonhos, planos e brigas. É amor... e há quem diga que não existe amor em São Paulo. 
É, eu desejei que não houvesse amor... 
amar dói demais.

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