domingo, 4 de março de 2012

Cap. XI

Poderia deitar minha cabeça aqui no travesseiro e tentar dormir, porque sei que conseguiria tranquilamente. Mas os dedos coçam para eu escrever, e olha que não é nem lá pros dias 9, 10 ou 11.
Datas são datas. E logo eu que sempre fui péssima com elas, não me esqueço dessa. Eu que nunca reparo em cortes de cabelo, barbas feitas, se engordou ou não...consigo reparar em você, cada ruga nova em seu rosto.
Logo eu, que tinha prometido dar um tempo com as cartas, estou aqui, escrevendo outra. E não é de dor hoje. Hoje não.
Dei um tempo no meu livro, aquele lá, dos personagens que se encontram todo ano, como se comemorassem a data em que se conheceram. Cômico ver que o que comemoro aqui, é data da nossa despedida, logo eu que nunca saberei a data em que nos conhecemos. Me faltou agendas e diários naquele tempo.
Dei um tempo na leitura, acendi um cigarro, e coloquei um cartola pra tocar. Fui refletir sobre o que tinha acontecido. Mas refletir o que? Não aconteceu nada, absolutamente, nada.
Ou teria acontecido? Eu não sei ao certo como entender o que a vida nos proporciona. Eu poderia estar feliz, poderia estar triste, poderia ter esperanças com você. Mas tenho esperanças em mim.
E não tenho inspiração para escrever. Logo você, que sempre foi minha inspiração, hoje a tirou de mim.
Eu olho aquela nossa foto no mural e penso como foi bom aquele dia. Nós três. E estávamos tão prontos para o futuro, tão seguros do que seríamos daqui pra frente, ou do que poderíamos conquistar. Eu era leve, usava branco e não conhecia maquiagens.
Hoje em dia, só tenho peças escuras no guarda-roupas e não saio de casa sem o lápis no olho ou um corretivo para as olheiras. A mancha abaixo dos olhos é sempre fruto de algumas lágrimas ou algum porre de conhaque.
E nunca tive tantos amigos confidentes, como tenho hoje, depois de você. É que você era único. Sabia tudo de mim, me entendia como ninguém. E depois de você, todos os homens parecem ser iguais. E muitos se mostraram mais amigos do que qualquer outra coisa. E descobri que muitas pessoas sofrem do mesmo que eu: ir para o futuro, tentando encontrar, ou esperando o passado.
E hoje, eu poderia estar triste, chorar, e perceber como me lembro de você em cada detalhe de todos os dias da minha vida. E esses meses, não foram nada fáceis. Mas hoje, logo eu que poderia me lembrar disso tudo, hoje, eu ando pra frente. Porque o fato de você demonstrar que está aqui, me faz feliz. Você me responder nem que seja um seco e frio "obrigado", me faz feliz. E não é feliz por você, ou por nós. Mas por mim.
Porque sei que logo mais, não terei mais o sorriso bobo e sincero como eu tenho com você ao meu lado na nossa fotografia de 4 anos atrás. Mas terei um sorriso meu, um sorriso novo. E sei que seguirei meu futuro, esperando o futuro. Lembrando de nós no passado, como se o passado fosse uma parede em que eu me apoiasse quando talvez me desequilibrasse. Não seria mais o chão, a base que me sustenta.
Ainda és, ainda é o chão que me sustenta todos os dias nessa caminhada. Mas sei que um dia, seremos só a parede de cada um, com fotografias e quadros pendurados, em um corredor, em direção a um futuro. Um futuro lindo, e separado. E feliz.

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