segunda-feira, 5 de março de 2012

Listas

Eu não sei o que é isso do mundo insistir em meu nome nunca aparecer numa lista de aprovação em alguma coisa que eu realmente quero. Também não sei o que é isso do mundo ter me feito mulher.
Parece coisa de provação em alguma aprovação. Parece que é mundo me dizendo Olha lá, você é mulher, nasceu em família pobre, na periferia, tem que se fuder pra aprender.
Essa coisa de ser mulher e só sofrer por amor, carregar o mundo nas costas e os sonhos na cabeça.
Eu não sei o que é isso, de ter que lutar muito para conseguir algo. Ter que disputar coisas com pessoas que nasceram em berço de ouro. Ter que estudar o dobro pra provar que é capaz.
Eu não sei o que é isso do mundo em ter meia dúzias de pessoas te dizendo que você não vai fazer ciências sociais porque a USP não é o seu lugar. Ou que você não vai ganhar uma bolsa de estudo na Cinemateca porque você não mora na vila madalena e tem tempo (contatos) suficientes pra isso. Isso do mundo em dizer que você não vai fazer cinema, porque você não é cult e alternativo para trabalhar na área, e educação e política não são importantes. Cultura popular não é importante. Cultura marginal não faz diferença.
Eu não sei o que é isso do mundo, em meio dúzia de pessoas decidindo o que você deve ou não fazer.
Não entrei na USP. Mas entrei na UNIFESP.
Não passei na Cinemateca, mas provei que eu era capacitada para tal, depois de um ano de provação.
E não será uma lista, ou uma dúzia de pessoas que irão me dizer que cultura marginal e educação na periferia não servem para o cinema.
Tenho dó dessa meia dúzia de pessoas. E tenho dó de quem se acha capacitado em dizer o que devo ser.
Não é vocês quem decidem. O sonho é meu, a cabeça é minha.
E eu não sei o motivo do mundo ter me feito mulher, nascida na periferia com idéias na cabeça e dedos para escrevê-las. Mas agradeço ao mundo. 
Porque me faz cair, porque me faz chorar, porque me faz sofrer.
E me faz lutar, e que demore anos. Eu não desisto.

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