domingo, 18 de março de 2012

Para ler ouvindo Johnny Cash

You're someone else, I still right here...

Talvez você não acredite, mas minhas dores de amor estão se transformando em dores de não amor. Ou a  não existência desse. O que diria por um lado, algum amigo poeta perdido nas ruas de São Paulo, Ela está crescendo. Ou me veria nesse momento lendo frases soltas e garranchadas de outro amigo poeta jogado nas ruas de sampa, que as pessoas estão desesperadas por amor, por isso ele não existe.
Creio então, ou espero que seja apenas uma ilusão, de que a busca por amor não existe, não é busca, é obsessão, é preenchimento de lacunas do coração, da mente e do corpo.
Mas o desespero se torna tão aflito e grande, que a procura se torna algo perdido. E quem procura, acha. Acha sorrisos vazios, acha mentes fracas, acha terceiras intenções em batom vermelho e ilusão em desenhos e músculos nos braços. Mas acha, algo, todos acham. 
Eu coloco Johnny Cash no repeat, e tento em vão escrever linhas que poderiam transformar o turbilhão que havia em mim, em palavras bonitas para os outros curtirem. Mais uma sedução. 
Mas não há mais turbilhão. Não há mais borboletas na barriga. Não há mais mudança de olhar quando alguém chega em algum lugar. Há uma certa ausência de sentimentos. Mas o amor, eu sei que está ali.
Está guardado. Mas está porque se mostra em cada sorriso de bebê na rua, ou na chuva pingando no rosto. O amor está ali. Só que não pertence a terceiros, não mais.
E nunca me toquei que esse dia chegaria. Um dia que olharia para todos ao redor, bem resolvidos (ou fingindo que sim) e veria que não faço parte desse grupo. O grupo dos felizes, dos que procuram, dos que se contentam com pouco. O grupo dos que fazem seu tempo a todo tempo.
Passei a fase da raiva, a fase da farra, a fase da bebedeira, a fase do qualquer um.
Mas qualquer um já não é mais suficiente, qualquer um é qualquer coisa, um qualquer nada. Então me sento com os bem resolvidos, e dou risada da vida e de nossas desgraças. Bebo até a última gota do meu copo de conhaque, e olho um sorriso aqui, uma frase bem feita ali. Retoco o batom vermelho, me sento novamente na mesa, lembro de você em alguma frase perdida no tempo, imagino como você estaria ali, conversando, rindo, tentando fazer amizade, ou apenas me olhando.
E vejo casos antigos se resolvendo, situações que não suportaria uma, duas semanas atrás. Nego paixões vazias nas noites brilhantes de São Paulo. E me vejo indo dormir sozinha com antigos amores do meu lado, dividindo camas, pensamentos e risadas. E ficamos nisso, porque pessoas aparecem, e pessoas se vão.
Os "alguma coisa" permanecem, e procuro pra eles uma função no meu tempo e espaço que me sobra o coração. E eles preenchem perfeitamente cada espaço vazio que você deixou, os espaços das risadas, das conversas, das piadas, da beleza, da companhia. E só.
Mas não é suficiente, não é? E tudo vira um turbilhão a cada despedida. Tudo vira um maremoto a cada rancor ou cada alegria. 
Não é suficiente, e eu sinceramente não procuro respostas, muito menos perguntas. Não é suficiente e ponto final. E não é triste. Nem solitário. Só não é suficiente, como não será como qualquer um. 
Porque afinal, as pessoas mudam. E essa fase de estar sozinha, e estar bem. Fugindo do verdadeiro desespero que é procurar a qualquer forma, custo e drogas um amor, eu passo longe. É bom, é prazeroso.
E qualquer prazer, nos retorna a lembrança de que estamos vivos.
Talvez seja isso, quero me lembrar que estou viva cada vez que chegar fedendo cigarro e bebida e terceiras intenções em casa. Mas quero me deitar sozinha. 
Até o dia em que eu decidir tirar algumas fotografias do meu mural, vou me deitar sozinha.



Um comentário:

Luiz O. disse...

Essa cidade está tão cheia, que fica sempre vazia... E é no batom vermelho, retocado a cada 15 sistemáticos minutos, que mora a vitrine da ilusão que nos sufoca... Por trás daquele tom rubro inebriante, está a menina carente de um abraço, que insiste em crescer por dentro dessa casca de indiferença.

Todos sentem a ausência do mesmo abraço: aquele que diz "calma, eu estou aqui ao seu lado e não saio enquanto você não souber sorrir por si...". E todos tem certeza de que estão dispostos a dar esse abraço em quem mereça recebê-lo! O que impede, então, que todos se abracem? -- É essa vitrine cosmopolita, que insiste em mostrar que essa menina não precisa desse amor humano e incerto.

Quinze minutos se passaram... É hora de retocar o batom vermelho!