quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cap. X

Tentei dormir, mas claro, não consegui. Um pássaro lá fora me acordou, na verdade, ele interrompeu minha tentativa de dormir em meio a tantas lágrimas.
Porque dói tanto? Uma dor tão insuportável. Uma dor que sufoca, que mata, que prende, que mutila, corta a pele, impede de respirar, impede de enxergar.
Me lembrei no dia oito que era quase dia dez. Que bobagem a minha, outro dia dez. Outro que se vai. Outro que deixei ir. Outro que não soube amar.
Essa semana não pintei minhas unhas de vermelho, nem de azul. As deixei claras, queria mudar. Essa semana voltei a estudar, quis dar um foco na minha vida. É que vejo todos ao meu redor dando um sentido às suas vidas, e eu continuo parada aqui, onde você me abandonou. E não adianta vir me dizer que a culpa é minha. Eu sei com toda a clareza que a culpa é minha.
Onde parei nas nossas lembranças? Não sei, não consigo pensar direito ás duas e meia da manhã. Não tenho comigo um copo de conhaque, ainda mais nesse calor insuportável. Mas tenho um cigarro. Isso sempre ajuda.
Eu sei que você não gosta que eu fume. Mas ultimamente os cigarros têm sido os meus melhores companheiros, não só os caretas, como você bem sabe. E de novo me lembrei como você é hipócrita com essas coisas. 
Ontem foi a calourada. E eu ia lá só pra te ver. Desisti. Ainda bem, afinal, quantas calouradas já não passamos juntos? E aquela que você me convidou, com o maracatu no centro de São Paulo? É, eu me lembro bem desses encontros, e você, se lembra? Sempre que passo por aquelas ruas, me lembro de nós, lembro das batidas, lembro de você sorrindo, feliz, porque tinha entrado na faculdade. Me lembro de você dançando, e cantando as músicas da faculdade, depois se virando pra mim e dizendo "bem feito, quem mandou não passar na usp?". Ah, como você sempre foi grosso, isso nunca mudará.
Aqueles dias de verão não existiam namorados, não existiam amigos para você sentir saudades, não existia pressão, nem ciumes, nem mentiras, nem paixões, esquecimentos, brigas... aqueles dias eram reservados para nós dois. E acreditávamos nisso.
A luz do meu quarto queimou hoje. E procurar o cigarro no escuro dá muito trabalho. Não tanto quanto o passado, que me persegue, me assusta, me dói. Eu poderia namorar qualquer cara aqui fora, mas nenhum é assim, nenhum tem seu rosto, seus olhos, sua acidez nas palavras. Alguns tentam, é verdade, mas não conseguem ser você. E pensar que poderíamos ter sido tudo. Bom, você está sendo a cada vez que vejo fotografias novas suas. Você engordou nesses meses que estamos sem se falar, e isso é um elogio, pois está cada vez mais bonito, e cada vez menos sorridente.
o cigarro apagou, e eu sei que devria ir dormir, mas pra quê? Pra sonhar mais uma vez contigo, nesse aniversário da nossa briga? Eu sei que amanhã irei acordar com a cara inchada (de novo) e todos irão me perguntar se minha ressaca foi de uma noite boa pelo menos. Não, não foi. Não está sendo bom, não está sendo fácil, está dolorido. E toda vez que encosto a cabeça no travesseiro, eu choro por alguns minutos, até os olhos arderem tanto, a ponto de eu não conseguir abri-los, e assim, adormecer. Esse tem sido meu melhor remédio para a insônia. As lágrimas.
E meu cigarro apagou. O cigarro que você tanto odeia, o cigarro que você roubou da minha mão, aquele dia, anos atrás, no centro de São Paulo. Você deu um trago, apagou, jogou no chão. Me puxou com força para perto do seu corpo suado e cansado do dia que me convidou a dividir contigo. Me jogou contra a parede do restaurante que dentro, tocava sertanejo, deu uma risada da situação, da música, se nós dois juntos ali, tarde da noite em São Paulo. E me beijou, com força. Um beijo que durou minutos, horas.
Um beijo que eu não sei mais qual é o gosto. Porque o gosto não vinha da sua boca, vinha de você por inteiro, disponível ali, aquela noite pra mim. Estávamos começando algo lindo. E eu não se, eu pudesse adivinhar tudo o que restaria de nós hoje, não sei se faria tudo de novo. Acho que sim. Porque não me arrependo de um minuto sequer que passei contigo.
Me arrependo do fim. E isso, meu rosto inchado, as lágrimas caindo no teclado, meu coração dolorido e o travesseiro, sabem muito bem como me arrependo da forma como tudo terminou.
Parabéns pelos meses sem lembrar que eu existo. Queria ter essa facilidade em te esquecer. Desculpe, eu queria muito ter. mas sinto sua falta. É, eu sinto.

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